Ordo Equestrum

 

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Ordo Equestrum

A ordem equestre

    Era a segunda ordem do Estado e representava um grupo de milhares de indivíduos, que se diferenciavam do resto da população pela fortuna e pela dignidade. Os cavaleiros eram inscritos pelo imperador no album equestre.

    Apenas uma pequena parte dos cavaleiros se dedicava ao serviço público, às ordens do imperador. Os restantes viviam uma vida sossegada nas suas casas na província. Os que abraçavam o serviço público seguiam uma carreira específica ou seguiam a carreira militar de três anos. Em todos os casos eram carreiras com um esquema de progressão.

    As carreiras senatorial e a equestre evoluíram paralelamente fundindo-se no reinado de Constantino, no século III.

 

O cavalo público

    O cavalo público, equus publicus, é o símbolo de pertença à ordem equestre, mesmo se não corresponde a uma realidade. As inscrições abreviadas EQR, EQPVB, fazem referência  a um estatuto social, pela fórmula eques Romanus splendidus, ou à propriedade de um cavalo , equo publico ornatus, ou exornatus, honoratus ou donatus. Por vezes aparece a expressão mista eques Romanus equo publico.

Dalmácia, CIL, IV, 8361

L(ucio) Domitio / [---]roti, ui/ro ex eques/tribus tur/mis egregio, / procuratori / metallorum / [P]ann[o](iae), mi/[r]ae inte[g]ritatis / [e]t bonitatis / M(arcus) Aur(elius) Ru[st]icus u(ir) e(gregius) duce[n(arius)], amico / praesta[nt]issimo.

 

"A Lucius Domitius [---]ros, homem eminente proveniente dos esquadrões equestres, procurador das minas de Pannonie et da Dalmácia, de uma honestidade e bondade admiráveis. Marcus Aurelius Rusticus, homem eminente, ducenário, (dedica) ao seu amigo muito distinto. (ducenário era um cavaleiro que recebia uma quantia anual de 200.000 sestércios)

    Havia a diferença entre cavaleiros seniores, mais de 35 anos e os juniores com menos dessa idade. A alusão à pertença a uma dessas turmas de cavaleiros juniores, tinha um formulário próprio.

CIL, VIII, 627

Q(uinto) Rupilio Q(uinti) filio / Pap(iria tribu) Honorato / in equestres / turmas adlect/to a diuo Alexan/fro, flamini p(er)p(rtuo), / L(ucius) Papilius Sa/urninus / patrono in/comparabili.

 

"A quintus Rupilius Honoratus, filho de Quintus, inscrito na tribo Papiria, adlecto nos esquadrões de cavaleiros pelo divino (Severo) Alexandre, sacerdote perpétuo, (dedica) Lucius Papilius Saturninus ao seu patrão incomparável"

    À cabeça de cada turma de jovens equestres encontrava-se um jovem da ordem senatorial que os comandava, o seviro equitum Romano.

Itália, CIL, XII, 3718

P(ublio) Metilio P(ublii) f(ilio) Cla(udia tribu) Secundo Pon[---] / cursus / seuiro equitum Romano[rum, tri]uno mil(itum) leg(ionis) / Geminae p(iae) f(elicis), trium[viro ---]

 

"A Publius Metilius Secundus Pon[---], filho de Publius, inscrito na tribu Cláudia ... (cursus em ordem indirecta), disciplinador dos cavaleiros romanos, tribuno da sétima legião Pia Felix Gémia, trimviro ..."

O serviço militar dos cavaleiros

Os cavaleiros tinham de prestar um serviço militar, uma militia. Augusto apesar de reservar o comando das suas legiões aos senadores, atribuiu aos membros da ordem equestre outros postos  oficiais nas restantes posições hierárquicas. Assim um tribuno legionário podia ser um filho de senador ou um filho de cavaleiros ou mesmo um antigo centurião. No reinado de Augusto o serviço militar compunha-se de duas milicias

No entanto a prefeitura estava reservada exclusivamente aos filhos dos cavaleiros.

Tergeste, Veneza, CIL, V, 534

Q(uintus) Petronius / C(aii) f(ilius) Pu[p(inia tribu)] Modestus, p(rimus) p(ilus) bis / leg(ionis) XII Fulm(inatae) et leg(ionis) I Adiu[t]ric(is), trib(unus) mil(itum) coh(ortis) V uig(ilum), / tr(ibunus) coh(ortis) XII urb(anae), trib(unus) coh(ortis) V pr(aetorianae), pr[oc(urator)] divi Neruae et imp(eratoris) Caes(aris) / Neruae Traiani Aug(usti) Germ(anici) provin[c(iae) Hi]spaniae citer(ioris) Asturiae et Callaeciarum, flamen diui Claud[ii, de]dit idemque dedicavit.

 

"Quintus Petronius Modestos, filho de Caius, inscrito na tribi Pupinia, primeiro pilo duas vezes, da décima segunda legião Fulminata e da primeira legião Adiutiris, tribuno da quinta corte dos vigilias, tribuno da décima segunda corte urbana, tribuno da quinta corte pretoriano, procurador do divino Nerva e do Imperador César Nerva Trajano Augusto Germânico da província Hispânica Citerior, na Asturia e na Galiza, sacerdote do divino Cláudio, fez e dedicou (esta inscrição)."

A reforma de Cláudio visou melhorar a separação entre as obrigações dos futuros senadores e dos futuros cavaleiros. Após esta reforma a carreira militar passou a compor-se de três milicias.

As funções judiciais

Os membros da ordem equestre que não executavam uma carreira militar, mesmo incompleta, tinham de estar inscritos numa das cinco decúrias de juízes.

Roma, CIL, VI, 3539

M(arcus) Stlacius C(aii) f(ilius) Col(lina tribu) / Coranus, / praef(ectus) fabrum, equo / publico, ex quinque / decuriis, praef(ectus) coh(ortis) V Bracar(orum) Augustanorum ...

 

"Marcus Stlaccius Coranos, filho de Caius, inscrito na tribo Collina, prefeito dos ourives, detentor de cavalo publico. membro das cinco decúrias de juízes, prefeito da quinta corte de Bracara Augusta ..."

Apesar de não ser rigoroso, a maior parte das ocasiões os jurados eram cavaleiros. A escolha directa de cidadãos não cavaleiros, cursus directus, acontecia quando existia falta de elemento.

Os cavaleiros formavam uma elite mais ou menos importante, que devido à sua independência económica, levavam uma vida de otium, praticavam a amizade, adquiriam cultura e participavam na vida política. 

A carreira equestre

Procurador e prefeito

Augusto determinou que alguns cavaleiros executassem missões especiais, como a gestão dos bens pessoais do príncipe.

Narbonaise, CIL, XII, 5842

Vasienses Voc(ontii), / patrono, Sex(to) Africanio Sex(ti) f(ilio) / Volt(inia tribu) Burro, / Trib(uno) mil(itum), proc(uratori) Augustae, proc(uratori) Ti(berii) Caesar(is), / proc(uratori) diui Claudi(i), / praef(ecto) pra[e]tori(o), orna/m[en]tis consular(ibus).

 

"Os Voconces de Vasiense, ao patrão, Sextus Africanus Burrus, filho de Sextus, inscrito na tribu Voltinia, tribuno militar, procurador (dos bens) de Lívia (mulher de Augusto), procurador (dos bens) de Tibério César, procurador (dos bens) do divino Cláudio, prefeito dos pretorianos, (recebeu) as insígnias consolares"

Burrus era célebre por gerir os bens da mulher de Augusto, Lívia. Chegou a receber as insígnias consulares e a ter as mesmas prerrogativas protocolares desses magistrados.

Os títulos praefectus, prefeito e procurator, procurador vêm desde a república. Um prae-fectus era um adjunto público que substituía um magistrado em determinadas situações, como a delegação do comando da cavalaria a um prefeito.

Um outro costume era de um individuo se fazer substituir nas suas funções, pro-curator (substituição numa responsabilidade), quando um senador se ausentava de Roma, normalmente escolhia, entre amigos ou cavaleiros, um procurador para gerir os seus interesses e património.   

A prefeitura, criada por Augusto, em 30 a.C., foi a de Alexandria e Egipto, em que o titular dirigia esta região com o intuito de abastecer Roma e aumentar o tesouro da cidade.

Philae, Egipto, CIL, III, 14147

C(aius) Cornelius Cn(ei) f(ilius) Gallus eques Romanus post reges / a Caesare deivi f(ilio) devictos, praefectus Alexandriae et Aegypti primus...

 

"Caius Cornelius Gallus, filho de Cneus, cavaleiro romano, depois da derrota dos reis, por César, filho do divino, primeiro prefeito de Alexandria e do Egipto..."

 

Os cavaleiros no exército

Cláudio teve o mérito de organizar um verdadeiro cursus militar autónomo e hierárquico. Augusto apenas tinha estipulado o comando das legiões, reservando-o aos senadores, deixando os outros postos oficiais aos cavaleiros.

Etruria, CIL, XI, 7427

L(uciuo) Pomponio L(ucii) f(ilio) / Lupo, IIII vir(o) i(vre) d(icundo) / quinq(uennali) iter(um), trib(uno) milit(um) / legionis IIII Macedonic(ae), / preaf(ecto) coh(ortis) equitatae / Macedonum et coh(ortis) / Lusitanoru(um) et Baliarium insularum / ex s(enatus) c(onsulto) / ob munificentiam eius.

 

"A Lucius Pomponius Lupus, filho de Lucius, quatruviro encarregado do direito, quinquenal (censor local) duas vezes , tribuno militar da quarta legião Macedónica, prefeito da corte de cavaleiros Macedónicos e da corte dos Lusitanos e da corte dos das Ilhas Baleares, por decisão do senado local, por conta da sua generosidade"

Suetónio, na Vida de Cláudio, indica-os: Equestris militias ita ordinavit, ut post cohortem alam, post alam tribunatum legionis daret. "A carreira militar dos cavaleiros está regulamentada, depois de comandar uma corte, é-lhe dada uma ala de cavalaria, depois um tribunato da legião"

A partir de Vespasiano, as tropas estacionadas em Roma passam a ser comandadas por cavaleiros provenientes de tropas pretorianas.

No final da sua longa carreira militar, já com 27 ou 30 anos, os cavaleiros acediam a lugares de procuradores.

Sicilia, CIL, X, 6976

L(ucius) Baebius L(ucii) f(ilius) Gal(eria tribu) Iuncinus, / praef(ectus) fabr(um), praef(ectus) / coh(ortis) IIII Raetorum, / trib(unus) milit(um) leg(ionis) XXII / Deiotarianae, praef(ectus) alae Astyrum /, praef(ectus) vehiculorum /, Iuridicus Aegypti.

 

" A Lucius Baebius Juncinus, filho de Lucius, da tribu Galeria, prefeito dos ourives, prefeito da quarta corte de Raeto, tribuno militar da vigésima segunda legião Deiotoriana, prefeito da ala  de cavalaria (esquadrão de cavalaria) Asturiana, prefeito dos veículos, administrador de justiça no Egipto. ( a função de administrador de justiça pertence à função de procurador).

 

 

 

 

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Este site foi actualizado pelo última vez em 01-12-2012