Nevala 1916

 

Para cima

A Questão de Nevala (1916)

Na sua obra "The Forgotten Front, The East African Campaign 1914-1918", Ross Anderson apresenta a história de Nevala da seguinte forma: 

Depois da ocupação de Songea no interior, por tropas inglesas vindas de Niassaland, e a ocupação das localidades de Mikindani e Lindi no litoral, os ingleses criavam um impedimento aos portugueses para reclamar territórios da colónia alemã no final da guerra. Assim o General Ferreira Gil em acordo com o Governador Geral  Álvaro de Castro, decide avançar a 19 de Setembro em direcção a Nevala.

Como a zona do Rovuma se encontrava segura, a 1 de Outubro o General recebeu novas instruções para avançar em direcção a Mahenge, ocupando o território conforme avançasse. Este plano foi perturbado pelas notícias de que tinha acontecido uma rebelião no Sul da colónia, provocando a retirada de militares da força de invasão. 

Os ingleses pretendiam que as tropas portugueses se mantivessem na defensiva dentro da fronteira portuguesa, impedindo os alemães de se reabastecerem naquela zona. No entanto o General Ferreira Gil, tinha intenção de fazer mais do que isso e como tal avançou sobre os alemães.

As forças avançadas portuguesas vão fazendo recuar à sua frente a unidade alemã Abt Sprockhoff, de 120 homens, que encontram no caminho até que em são emboscadas e obrigadas a recuar e esperar pela coluna principal. A aproximação das tropas portuguesas aumentam a hostilidade dos indígenas locais (Macondes) sobre os alemães. Os alemães são obrigados a abandonar o posto de Nevala e nos poços de água de Muata a 26 de Outubro.

A zona de abastecimento das forças do General Lettow encontrava-se agora ocupada pelos portugueses, que posicionaram 1.100 homens na zona dos poços em Muata e 400 homens no posto de Nevala, em posições defensivas.

O General Lettow reagiu rapidamente a esta situação e enviou um destacamento de comandado pelo Capitão Loof, com duas unidades (4 companhias reforçadas com artilharia) a Abt Rothe e a Abt Hinrichs para reforçar a Abt Sprockhoff, que se mantinha perto de Nevala. As ordens eram para primeiro eliminar os portugueses e depois os indígenas sublevados (Macondes). Para isto o Capitão Looff disponha de 520 militares e artilharia para atacar a força portuguesa de 1.500 homens.

Entretanto os ingleses tentaram impor uma administração inglesa nos territórios ocupados pelos portugueses, o que ainda provocou ainda mais desentendimento nas relações Anglo-Portuguesas. Chegou-se a um consenso de troca de oficiais de ligação nos territórios ocupados, mas com o fim da ocupação dos territórios alemães a situação não teve novos desenvolvimentos.  

Após um mês de preparação as tropas do Capitão Loof estavam prontas para atacar as posições portuguesas. Em 19 de Novembro mantiveram as tropas em Nevala ocupadas, enquanto faziam o ataque principal sobre os poços em Maúta, que capturaram.

Os alemães consideraram a guarnição de Nevala muito forte para ser atacada directamente, o que levou o Capitão Loof a cercar o posto e a bombardeá-lo pesadamente durante 6 dias. No dia 28 de Novembro os alemães atacaram o posto e os portugueses fugiram desordenadamente, deixando para trás uma grande quantidade de munições equipamento.

Foi humilhante, os portugueses perderam em 2 dias todos os territórios conquistados. Entretanto os alemães avançaram e eliminaram todos os postos portugueses a Norte do rio Rovuma, capturando, mais uma vez, uma grande quantidade de equipamento.

O General Ferreira Gil em consequência perdeu por completo o auto controlo e a vontade de lutar. Foi hospitalizado com disenteria e foi-lhe retirado o comando das tropas. Entretanto foi chamado a Lisboa onde foi enxovalhado na Assembleia da República pelo vergonhoso comando da campanha militar. Entretanto a aproximação da época das monções fez acalmar a situação militar.

O exercito português perdeu toda a credibilidade perante os ingleses (e todos os outros países!) quando foi derrotado por 500 alemães, quando tinha uma força militar três vezes maior e estava na defensiva. Esta situação foi ainda mais amplificada quando Cônsul inglês reportou que falhas nos serviços de administração militar e de saúde tinham levado à morde de 800 homens por fome, quando existiam toneladas de alimentos armazenados nos portos12

No fascículo da Enciclopédia pela Imagens, referente a "Os Portugueses na Grande Guerra", refere uma travessia preparatória sobre o rio Rovuma, no dia 18 de Setembro. Em 19 de Setembro dá-se o avanço sobre o território alemão Deutsche Ost Afrika, com a cooperação do cruzador "Adamastor" e a canhoneira "Chaimite", que bombardearam as posições da margem esquerda por onde as três colunas atravessaram o rio.

Organizada a testa de ponte, a Norte do rio Rovuma, no posto de Nichichira e feita a ligação telefráfica com o posto das forças britânicas que recentemente tinham ocupado Mikindane, é efectuado o avanço sobre Nevala. De Sicumbiriro segue uma coluna que a 4 de Outubro encontra forte resistência nos poços em Mahuta.  O inimigo emboscara-se e ataca violentamente a coluna de reconhecimento. Esta retira para o posto de Nichichira, mas a 18 de Outubro avança de novo na direcção de Nevala. A 22 repelem os alemães da ribeira de Nevala, ocupando o posto de Namitema. Numa marcha concêntrica de duas colunas atacam e tomam Nevala a 26 de Outubro. Os alemães fizeram explodir parcialmente o posto e deixaram material de guerra abandonado na retirada.

Chegados de Palma reforços e o novo comandante da força de ataque "Coluna de Massassi", o Major Leopoldo da Silva, é executado um reconhecimento sobre Lulindi, a 8 de Novembro inicia-se o avanço e encontra-se uma tenaz resistência em Quivambo, mas o inimigo é repelido após um longo combate onde o Major Leopoldo da Silva é morto. Os portugueses mantêm-se no terreno, os alemães começam a ameaçar as comunicações com a retaguarda, atacando os postos de Maúta e de Mecama. A 19 de Novembro a força de ataque retira para o posto de Nevala.

Os alemães, sob o comando de Capitão Loof, que fora o comandante do cruzador "Koenigsberg", cercam fortemente Nevala e atacam com violência. Em 22 de Novembro dá-se o ataque aos poços de água de Maúta, que resistem durante 12 horas até que retiram. Seguiram-se ataques e bombardeamentos ao posto de Nevala que se encontrava cercado. Uma coluna de socorro, chegou a 8 quilómetros de Nevala, mas foi impotente para romper o cerco inimigo, tendo sido atacada por duas companhias alemãs.

No dia 28 de Novembro a situação era insustentável e sem se prever mais auxílio, foi efectuada uma fuga durante a noite, iludindo os sitiantes. O material e os víveres foram inutilizados e as munições que não podiam ser transportados foram enterradas. Durante os dias seguintes vão sendo pequenas trocas de tiros com os perseguidores, até que a 30 de Novembro o rio Rovuma é atravessado no vau junto ao posto de Nangadi. A perseguição em território inimigo termina com um bombardeamento ao posto de Nangadi, efectuado por uma peça de 10,5mm que pertencera ao cruzador "Koenigsberg" e que agora era utilizada pelas forças terrestres do General von Lettow Vorbeck14.

 

Notas

 

12- Anderson(2004), pp.164-6.

14 - Enciclopédia(1936), pp.33-5.

 

Bibliografia

  • Anderson, Ross(2004), "The Forgotten Front, The East African Campaign 1914-1918", Gloucestershire, ed., Tempus. (ISBN: 0-7524-2344-4)

  • Enciclopédia pela Imagem(1936), "Os Portugueses na Grande Guerra", Porto, ed., Lello & Irmãos - Editores.

Home | Namaca 1916 | Nevala 1916 | Negomano 1917 | Mecula 1917 | Nhamacurra 1918 | Esquadrilha Aérea

Este site foi actualizado pelo última vez em 25-10-2013