Açores 1914-18

 

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Açores na Grande Guerra

 

 

 

Em 1914 a defesa naval dos Açores estava dividida em três capitanias marítimas, respectivamente Angra (Capitania Central) na Ilha Terceira, Horta (Capitania do Este) na Ilha do Faial e Ponta Delgada (Capitania do Oeste) na Ilha de São Miguel.

 

O Exército encontrava-se organizado em torno do Comando Militar dos Açores, desde 1901, com duas zonas militares com sede no Forte de São João Baptista em Angra. Neste Forte encontrava-se aquartelado o Regimento de Infantaria n.º 25 e em Ponta Delgada, no Forte de São Brás, encontrava-se aquartelado o Regimento de Infantaria n.º 26. Na Horta estava permanentemente estacionado um destacamento de infantaria, alternadamente do BI 25 ou do BI 26.

 

O recrutamento na Zona Militar dos Açores era efectuado por todo o arquipélago e o tempo de serviço militar era de três anos. Em 1916 com a declaração de guerra foi ordenada a reinspecção militar dos indivíduos com idades compreendidas entre os 20 e 45 anos. (2)   

 

Durante a Grande Guerra o Comado Militar dos Açores foi governados pelos seguintes comandantes:

 

General João Ricardo Brito (1914-1916)                General António Oliveira Guimarães (1916-1917)               Coronel António Veríssimo de Sousa (1917-1919)

        General João Ricardo Brito (1914-1916)                   General António Augusto Oliveira Guimarães (1916-1917)             Coronel António Veríssimo de Sousa (1917-1919)

 

Nos Açores, a Grande Guerra tem claramente duas fases distintas: a primeira entre 1914 e Junho de 1917; a segunda entre Julho de 1917, com a chegada dos Americanos e o ataque alemão, até ao fim do Depósito de Concentrados Alemães (Angra do Heroísmo) em Outubro de 1919.


Desde o início do conflito que os militares das Ilha de São Miguel (Ponta Delgada), Terceira (Angra) e Faia (Horta) acompanhavam a acção do inimigo ao longo do Atlântico, com especial cuidado para os ataques de surpresa que os alemães poderiam efectuar. Esta preocupação levou o Comando Militar dos Açores a transmitir várias vezes ao Ministério da Guerra em Lisboa a necessidade de reforço dos meios de combate disponíveis nos Açores, devido à antiguidade e ao mau estado de funcionamento dos mesmos.

 

A localização das ilhas, a capacidade de reabastecimento de navios em Ponta Delgada (São Miguel), a localização de centrais de comunicação por cabo submarino e TSF na Horta (Faial) e ainda a localização de um depósito de internados alemães e austro-húngaros em Angra do Heroísmo (Terceira), eram factores estratégicos que as tornavam alvos dos submarinos alemães.  Além destes alvos acrescia o grande número de comboios navais com transportes de tropas entre a América e França, desde 1917.

 

As unidades do Exército nos Açores, Regimento de Infantaria n.º 25 e n.º 26, não incorporaram unidades no Corpo Expedicionário Português CEP, que foi enviado para França, no entanto houve oficiais açorianos que integrados em outras unidades foram para a França. Destes ficaram prisioneiros dos alemães, durante a Batalha de La Lys, o Tenente João Augusto Gonçalves, os alferes João Machado Benevides, José Cabral Jr, Joaquim de Frias Coutinho, Luís Carlos Lacerda Nunes, António Martins Ferreira Jr e Sá Vieira. Primeiro estiveram aprisionados no Campo de Rasttat e depois foram transferidos para o Campo  de Breesen. (6) 

 

 

Circunscrições de Recrutamento nos Açores

 

Em consequência do Artigo 124º do regulamento do serviço de recrutamento de 23 de Agosto de 1911, os Açores deveriam contribuir para o recrutamento de homens para a Armada em 1915. Existindo no arquipélago 2.066 sorteados, foram seleccionados 14: de Angra do Heroísmo, Circunscrição 25, 5 homens e de Ponta Delgada, Circunscrição 26, 9 homens. (31)

 

 

Comissão de avaliação dos meios de defesa dos Açores

 

No relatório apresentado ao Estado Maior do Exercito, pela Comissão presidida pelo General Corte Real, em 31 de Outubro de 1917, (PT/AHM/DIV/3/01/18/24) em resultado do trabalho de avaliação das necessidades de defesa do arquipélago dos Açores, informação que foi necessária coligir para responder ao Ministro dos Estados Unidos, em Lisboa, quanto às medidas de defesa a adoptar nos Açores. Neste documento ficou detalhada a seguinte informação:

  • Nos Açores era possível uma mobilização de acordo com os números apresentados no seguinte quadro, mas seria necessário trazer quadros (oficiais e sargentos) do continente.  O número de espingardas e equipamento individual não é suficiente para equipar todos os homens a mobilizar, face ao qual é era necessário reforçar a dotação com material a trazer de Lisboa;

  • Não existia informação sobre os efectivos do Regimento n.º 25, de Angra do Heroísmo, que se encontravam na Horta;

  • Quanto às 17 peças de artilharia que as forças dos Estados Unidos solicitaram, não houve indicação dos calibres, tanto para Ponta Delgada como para a Horta, pelo que a comissão pensa que para a primeira localização se estará a pensar em peças fixas e para o segundo local de peças móveis;

  • Em resultado do considerou-se que será possível mobilizar cerca de 3.000 homens para os Açores, não existindo correspondência a qualquer número de Batarias para as 17 peças solicitadas.

Em relação às 17 peças solicitadas a Comissão indicou que existia a possibilidades de escolher das mesmas dentro do seguinte lote de 22 peças:

  • 4 peças de 150mm TR do "NRP Almirante Reis";

  • 8 peças de 120mm TR do "NRP Almirante Reis";

  • 2 peças de 150mm TR do "NRP República", (à data a serem utilizadas em Cascais onde eram indispensáveis);

  • 2 peças de 150mm TR do "NRP República", (que não se podia precisar se encontravam no Arsenal da Marinha ou em Cabo Verde e que poderiam ser substituídas por peças Armstrong que estão no Arsenal de Marinha);

  • 2 peças de 100mm TR do "NRP República", (uma das quais estava em Porto Brandão e outra no Porto);

  • 4 peças de 105mm, que se encontravam no depósito central e que eram consideradas aproveitáveis, estando 2 no Arsenal da Marinha e ignorava-se a localização das outras duas).

A Comissão colocou ao Estado Maior do Exército a questão de não ter sido informada sobre a localização onde se pretendia colocar as bocas de fogo, para a decisão sobre a escolha das mesmas, e ainda, a necessidade de saber a localização para o transporte e montagem das mesmas em Ponta Delgada e Horta.

 

 Forças Mobilizáveis em 31 de Outubro de 1917

 

Regimento de Infantaria N.º 25

Angra do Heroísmo

Bataria

N.º 1 Art. Montada

Angra do Heroísmo

Regimento de Infantaria N.º 26

Ponta Delgada

Bataria N.º 2 Art. Montada

Ponta Delgada

Oficiais

35

4

27

4

Praças

1681

197

1794

184

Total

1716

201

1821

188

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Defesa da Ilha do Faial

 

A importância geoestratégica do Faial no contexto internacional teve início quando em Outubro de 1876 se dá a construção do porto comercial, que mais tarde devido à sua localização veio a tornou-se numa estrutura importante ao serviço da marinha da Entente durante a Grande Guerra. Outro marco na história da ilha deu-se em Agosto de 1893 com a inauguração do cabo telegráfico submarino que ligou a Horta (Alagoa) a Lisboa (Carcavelos) e ao resto do Mundo.

Também no final do século XIX, com o desenvolvimento da meteorologia mundial e a consequente criação de estações para recolha de dados atmosféricos que Portugal entra neste processo e vê a abertura das suas primeiras quatro estações: Porto, Coimbra, Lisboa e Faro, seguidas por estações nas Berlengas, no Cabo de São Vicente e na Horta. Como as condições do tempo apresentam em geral uma deslocação de Oeste para Este, a Europa central viu no território nacional a oportunidade de estabelecer estações meteorológicas avançadas, que com a rede TSF e a rede de cabos telegráficos submarinos que permitiam a retransmissão da informação rapidamente para a Europa central. É neste contexto, ou seja o avançar para Oeste, que a recolha de dados meteorológicos e face às facilidades tecnológicas de comunicação existentes no Faial que em 1915 são inaugurados o Observatório Meteorológico e a Estação Meteorológica Internacional, com capacidade para retransmitir as observações meteorológicas comunicadas pelos navios.

A defesa militar terrestre da ilha do Faial contava com o 2º Batalhão de Infantaria 25, a quatro companhias: 4ª, 5ª, 6ª e 7ª, um destacamento de artilharia, guarnecido por efectivos do B1AM de Angra do Heroísmo ou do B2AM de Ponta Delgada de forma alternada que mais tarde foi reforçado por efectivos pertencentes ao Campo Entrincheirado de Lisboa, reforço que chegou em Maio de 1918.

Para além do porto natural eram também ponto estratégico os cabos submarinos de comunicações, o centro observatório meteorológico e os depósitos de combustível. Nesta estação de comunicações também se encontrava amarrado um cabo submarino alemão, o que veio a influenciar o interesse inglês por esta ilha.

O porto da Horta estava bem situado e reunia todas as condições naturais para ser um grande porto no sistema de comboios, mas a ausência de protecção impediu que tal acontecesse. 

 

 

Plano de Defesa Territorial do Faial

O plano inicial de defesa pressupunha a utilização da Bataria de Guarnição e do Batalhão de Infantaria da seguinte forma:

1)       Artilharia - A divisão da Bataria de Guarnição em duas secções de duas peças cada:

                                       i.      Uma secção de artilharia no Pico Queimado, duas peças de 80mm, disposta no terreno com possibilitava de executar fogo cruzado sobre o acesso à praia da Horta;

                                      ii.      Uma secção de artilharia na foz da ribeira da Conceição, duas peças de 80mm, disposta no terreno com possibilitava de executar fogo cruzado sobre o acesso à praia da Horta;

2)    Infantaria - A divisão do 2º Batalhão do RI 25 em destacamentos com a seguinte disposição no terreno:

                                       i.      Um destacamento de guarda ao perímetro exterior do paiol e do local da amarração do cabo telegráfico submarino da The Comercial Cable Co. (Alagoa);

                                      ii.      Um destacamento de guarda ao Quartel de Infantaria RI25, no Convento do Carmo;

                                    iii.      Um destacamento de guarda ao Quartel de Artilharia B1AM, no Forte de Santa Cruz;

                                    iv.      Um destacamento de guarda à zona portuária da Horta, para vigia no monte da Guia, Farol do molhe, Cais e ponta da Espalamaca;

                                     v.      Uma coluna móvel com a missão de patrulha da área entre a Baía do Porto Pim e o local da amarração dos cabos telegráficos submarinos estrangeiros, que se encontrava a 150m a Nordeste da foz da ribeira da Conceição, e;

                                    vi.      Um piquete de prevenção.   

 

Após ter sido revisto o plano inicial, foi considerado pelo comando militar que os locais considerados como mais prováveis para um desembarque alemão eram a Praia do Almoxarife e o varadouro da freguesia do Capelo. Considerando que o dispositivo inicial já cobria a Praia do Almoxarife, foi apenas efectuada uma alteração que incluiu mais um destacamento de infantaria, de aproximadamente 35 homens, para junto ao Farol dos Capelinhos, que se manteve aceso durante o período de guerra, em parte porque o comandante do porto da Horta considerava que na sua perspectiva os alemães não tinham qualquer vantagem em destruir este farol e também porque o porto dos Capelinhos, em virtude da sua fraca qualidade também não seria certamente utilizado pelos alemães. Este destacamento foi então reforçar a guarnição da Marinha de Guerra do posto semafórico instalado junto ao farol. 

 Em Novembro de 1916, o comandante do 2º Batalhão de Infantaria num relatório elaborado para o Ministério da Marinha, onde explica as providências tomadas para defesa da ilha, indica a necessidade da permanência de um navio de guerra o porto da Horta para fiscalização e policiamento dos bascos aí aportados, vigilância dos cabos telegráficos submarinos e impedimento da navegação no canal do Faial. No que se refere à artilharia faz referência à necessidade de substituição das quatro peças 80mm Mod. 1878 do Grupo de Artilharia de Guarnição, por outras quatro peças mais modernas, do tipo Schneider-Canet, Armstrong ou Krupp tiro rápido de 105 ou 150 mm, para as instalar no Monte da Guia e no Espalamaca. Faz por último referência à necessidade de fazer chegar à ilha uma bataria de metralhadoras, destinadas às forças de infantaria.

Mais tarde em Maio de 1918 a Bataria de Artilharia de Guarnição do Faial, que se encontrava aquartelada no Forte de Nª Senhora da Guia, na Ponta da Greta, Horta, recebeu uma peça de AE 150mm P (MK) Krupp, oriunda de São Miguel, pertencente ao Campo Entrincheirado de Lisboa. 

Com as forças disponíveis e a limitação de meios de artilharia disponíveis na ilha, o sistema de defesa não apresentava uma intenção real de defesa do porto, mas sim uma defesa efectiva contra o desembarque de tropas inimigas nas praias. Refira-se que após a Batalha da Jutlândia, qualquer cenário de invasão das ilhas açorianas não podia apresentar uma escala maior do que um golpe-de-mão ou de um acto de sabotagem, em parte porque a marinha de guerra alemã de superfície se encontrava neutralizada e os submarinos apresentavam uma guarnição relativamente pequena para qualquer acção de maior envergadura.  

 

Localização dos Postos de Vigilância e Defesa Militar do Faial

Ilha

Local

 Força Destacada

Início

Faial

a) Convento do Carmo

b) Forte de Santa Cruz

c) Forte de Nª Senhora da Guia

a) 2º Batalhão do Regimento de Infantaria 25 (442 praças, em 25 Março 1916)

b) Um destacamento da B1AM (18 praças, 1 cabo e um sargento)

c) Um destacamento do CEL, 2 peças 150mm, Modelo K 1886, 1 oficial, 1 sargentos e 21 soldados

a) Março 1916

b) Março 1916

c) Maio 1918

Faial

Farol dos Capelinhos

Um destacamento de infantaria (1 Oficial, 1 sargento e 33 soldados)

Março 1916

Faial

Forte do Bom Jesus

Um destacamento de infantaria

Março 1916

Faial

Posto TSF (Cedros)

Um destacamento de infantaria

Março 1916

Faial

Estação Cabo Submarino (Alagoa, Horta)

Um destacamento de infantaria

Março 1916

Faial

Monte da Guia

2 peças,  80mm Mod 1878. (18 homens do RI 25) e um destacamento de infantaria.

Março 1916

Faial

Espalamaca

2 peças,  80mm Mod 1878. (18 homens do RI25)

Março 1916


 

 

 

Defesa de Ponta Delgada (São Miguel)

 

A defesa da Ilha de São Miguel contava com o Regimento de Infantaria n.º 26, de Ponta Delgada, a Bateria de Artilharia N.º 2 Montada, com peças no Alto da Mãe de Deus (3 Armstrong 10/28), e a Bateria do Grupo de Guarnição 2 nas muralhas no forte de São Brás.

 

Comandantes do Regimento n.º 26,  Ponta Delgada

  • Coronel Eduardo Agostinho Pereira (1913-1917)

  • Coronel António Germano Serrão dos Reis (1917-1920)

                                             

 Coronel Eduardo Agostinho Pereira                                                   Coronel António dos Reis

         comandante do BI 26, 1913-1917                                                 comandante do BI 26, 1917-1920 

 

 

 

Posteriormente ao ataque alemão de 4 de Julho de 1917 foi colocada uma terceira Bateria de Artilharia no Porto de Desinfecção em Santa Clara (3 peças de 70mm obsoletas), Estas armas foram substituídas em Janeiro de 1918 por 3 peças 150mm Krupp. A Bateria foi mais tarde substituída por uma peça de tiro rápido fornecida pelos Corpo de Marines dos Estados Unidos que reforçavam a defesa da Ilha.

 

Após o ataque em Dezembro de 1916 ao Funchal, Ilha da Madeira, foi colocado um Pelotão de Infantaria, cerca de 50 homens, junto da Igreja da Matriz e passaram a ser efectuadas patrulhas nocturnas pela cidade de Ponta Delgada.

 

A defesa naval do porto artificial ficou a cargo do Capitão-de-fragata Júlio Milheiro, que também teve o encargo de organizar a defesa naval da ilha e a coordenar com o comandante do Regimento de Infantaria n.º26. O Capitão-de-fragata Júlio Milheiro foi posteriormente nomeado Comandante da Defesa Marítima dos Açores (8). Em 1918, com o Decreto-Lei n.º 3-771, de 20 de Janeiro, Comandante da Defesa Marítima dos Açores é organizado tendo então assumido o comando o Contra-Almirante Augusto Eduardo Neuparth  até 12 Abril de 1918 e posteriormente assumido o Capitão-de-Fragata Luís Constantino da Silva. Com o final da Grande Guerra o Comando foi extinto, em 6 de Janeiro de 1919.

 

Após a declaração de guerra em Março de 1916, Lisboa enviou para Ponta Delgada, em Abril de 1916, 5 peças navais Armstrong 100mm/28 de reparo naval "Vavasseur" que pertenciam às antigas canhoneiras Ave, Rio Lima e Zambeze. Estas peças foram montadas em duas baterias, uma no Espaldão com 3 peças e outra na Mãe de Deus com 2 peças.

 

Em 1916, a Marinha portuguesa apenas mantinha estacionado permanentemente nos Açores a Canhoneira "NPR Açor", comandada pelo 1º Tenente Augusto Goulart de Medeiros, cujo comando manteve até 27 de Outubro de 1917, quando foi substituído pelo Capitão-tenente António Rafael da Rocha Rodrigues Basto, por causa de se ter deflagrado um surto de gripe pneumónica a bordo em 25 de Outubro. (9)  

 

Em 1917, após o ataque de 4 de Julho, foi improvisada uma barragem metálica à entrada do porto, como defesa contra torpedos, e estabeleceu-se um serviço de patrulhas no mar com o vapor "Furnas" e alguns gasolinos mobilizados. Neste serviço também colaborou o cruzador francês "Friant", durante o tempo que permaneceu em Ponta Delgada.

 

As barragens eram constituídas por batelões interligados por um cabo de aço fixo pelas extremidades a duas bóias, que servia de suporte a um chicote de amarras que pesava perto de 60 toneladas. para entrar no porto artificial era necessário desamarrar uma das bóias. Mais tarde este aparelho foi substituído por uma rede metálica recebida de Lisboa, mas que o mar destruiu e obrigou a se utilizar novamente o chicote de amarras. Posteriormente os americanos forneceram uma nova rede metálica. (12)

 

"NRP 5 de Outubro", Ponta Delgada, 1917, Ilustação Portuguesa de 28 de Outubro de 1918, n.º 662

 

Para reforço da segurança do porto chegou a 17 de Julho de 1917 o Aviso "NRP 5 de Outubro", comandado pelo Capitão-tenente Júdice Bicker, que ali se manteve até 12 de Setembro de 1917. A missão deste navio tinha mais o carácter de serenar o medo da população, uma vez que a sua artilharia era completamente antiquada. Outros dois navios da Armada estiveram temporariamente estacionados no porto de Ponta Delgada durante o ano de 1917: Canhoneira "NRP Beira" de 22 de Julho a 12 de Agosto e o Contratorpedeiro "NRP Douro" de 6 a 19 de Outubro. 

 

Em 1918, mais pela necessidade de contrabalançar a aproximação da população dos Estados Unidos do que reforçar a defesa do porto de Ponta Delgada, que já se encontrava bem defendido, foi enviado a 15 de Abril o Cruzador "NRP Vasco da Gama", comandado pelo Contra-almirante Augusto Eduardo Neuparth. Em Junho de 1918 chegou a Canhoneira "NRP Ibo", comandada pelo 1º Tenente Correia da Silva.

 

Para além do porto artificial eram também pontos estratégicos os depósitos de combustível, o posto de TSF no Pico do Vigário e o cabo submarino de comunicações. Durante a Grande Guerra o porto artificial de Ponta Delgada chegou a receber 80 navios por dia, devido aos comboios navais que circulavam entre a América e a Europa.

 

Em 27 de Abril de 1918 estiveram no porto artificial 73 embarcações, entre elas 3 com mais de 10 mil toneladas, e até final de Junho contaram-se cerca de 300 navios, em comboios de 30 a 40. No início de Maio encontravam-se no porto artificial 42 navios, entre os quais alguns de 8 mil toneladas. (17)  

 

Nas memórias do 1º Tenente Correia da Silva, relata-nos a actividade de vigilância marítima junto à entrada do porto artificial: "Em finais de Julho [1918], com os galões recentes de Capitão-tenente, segui [para os Açores] a retomar o meu comando [da "NRP Ibo"], a bordo do "San Miguel", que o "NRP Almirante Paço d'Arcos", [...] comboiou. Um avião americano, na manhã de 4 de Agosto, veio ao mar de Ponta Delgada reconhecer o navio que se aproximava. Um submarino americano, amarrado a uma bóia, estava de vigia à entrada do porto artificial." (20) 

 

Como nota indica-se que a gripe pneumónica que grassou na ilha de São Miguel no inverno de 1918 matou mais de 2.000 pessoas, na maioria jovens.

 

Defesa de Angra do Heroísmo (Terceira)

 

A defesa da Ilha Terceira contava o Regimento de Infantaria n.º 25, de Angra do Heroísmo,  e a Bateria de Artilharia N.º 1 Montada, de peças Schneider-Canet 75mm.

 

Comandantes do Regimento n.º 25,  Angra do Heroísmo

  • Coronel António Francisco Martins (1914-1917)

  • Coronel Veríssimo José de Andrade (1917-1920)

 

Coronel António Francisco Martins, comandante do BI25, Angra do Heroísmo, 1914-1917        Coronel Veríssimo José de Andrade, comandante do BI 25, Angra do Heroísmo, 1917-1920

Coronel António Francisco Martins            Coronel Veríssimo José de Andrade

 comandante do BI25,1914-1917                comandante do BI 25, 1917-1920

 

No Forte de São João Baptista foi instalada uma Bateria, 2 peças de 150mm Krupp nas suas muralhas e instalada uma Bateria de Artilharia de Montanha, 2 peças de 75mm Schneider-Canet, no chamado "Posto de Desinfecção", aproveitando-se a sua localização do Forte de São Sebastião sobranceira ao Porto de Pipas, que dá acesso à cidade. O conjunto da Forte de São João Baptista, também denominado Fortaleza do Monte Brasil, com o Forte de São Sebastião, também denominado Castelinho, proporcionavam uma forte defesa do Porto de Pipas.

 

Porto de Pipas, Angra do Heroísmo, Foto de José da Silva Maya, Arquivo de Luís Mendes Brum      Baía de Angra do Heroísmo, início do século XX, Arquivo de Luís Mendes Brum     

          Porto de Pipas, ao fundo vê-se a cidade de Angra do Heroísmo                                                            Vista da Baía de Angra do Heroísmo  

 

A localização, a capacidade de abastecimento e o campo de internados alemães e austro-húngaros tornava a ilha um alvo de ataque alemão.

 

Entrada do Regimento n.º 25, Angra do Heroísmo, no Forte de São João Baptista pela rampa lateral junto ao relvão, formado em coluna de marcha, em 1917.

 

 

Depósito de Concentrados Alemães

 

No censo efectuado em 1910 existiam 969 súbditos alemães e 110 austro-húngaros. Com o Decreto-lei 2350, de 21 de Abril de 1916, foi dada ordem de expulsão a todos os súbditos inimigos, excepto aos do sexo masculino, com idades compreendidas entre 16 e 45 anos, que seriam internados, podendo ser acompanhados pelas suas famílias se desejassem. A República foi muito longe em 1916 quando desnacionalizou, ou seja retirou a nacionalidade portuguesa, aos nascidos de pai alemão.

 

Neste contexto foram enviados para a ilha Terceira, Forte de São João Baptista em Angra do Heroísmo, esses súbditos e ainda as tripulações dos navios capturados em Fevereiro de 1916 nos portos portugueses. Este campo de internados era acompanhado pela Cruz Vermelha Portuguesa. A Comissão Portuguesa de Prisioneiros de Guerra nos Açores, tutelada pela Cruz Vermelha Portuguesa, foi nomeada em Abril de 1916 e teve como principal função assegurar a correspondência postal entre as famílias desunidas, acompanhar a execução das resoluções da Conferência Internacional de Washington de 1912 e identificar os concentrados junto da comunidade internacional na procura de familiares.

 

      

Prisioneiros Alemães a chegarem ao Forte de São João Baptista, Angra do Heroísmo, 1916

 

Numa fase inicial os Açores tiveram três depósitos distintos, um em cada uma das ilhas principais. Em finais de Abril e inícios de Maio de 1916, inicia-se o acolhimento dos súbditos alemães radicados nas ilhas e dos tripulantes da embarcações apreendidas, e em Junho começam a ser enviados para Angra do Heroísmo. Um grupo de 47 alemães e austríacos vieram da Índia (Goa), alegadamente por razões de saúde para Angra do Heroísmo (16). Até Janeiro de 1917 deram entrada no forte de São João Baptista 551 prisioneiros, oriundos de diversas parte do Império Ultramarino Português, à excepção de Moçambique, Timor e Macau. Este número foi progressivamente aumentando até se atingir os 724 concentrados em Agosto de 1918 para depois começar a declinar.

 

Internados na parada do forte de São João Baptista, ao fundo vê-se as portas falsas.

Internados na parada do Forte de São João Baptista, ao fundo vê-se as portas falsas.

 

O fluxo de centenas de prisioneiros levantou uma série de problemas de natureza logística às autoridades militares portuguesas. Entre várias foi necessário melhorar o abastecimento de água e a rede eléctrica do Forte de São João Baptista, bem como para a concretização de uma série de  obras de saneamento e adequação dos aquartelamentos.

 

Este promoveram uma intensa actividade cultural que incluiu serões culturais abertos à população da cidade. Outra actividade ocupacional era a jardinagem que criou o "jardim dos alemães" cuja memoria da localização se perdeu mas se pensa que se terá localizado na vertente Este da elevação do Facho. Para além a utilização das instalações do Forte para habitação também foram instalados em casas de colmo.  Apesar de existir convívio  entre a comunidade portuguesa e alemã existiram alguns atritos e outras situações complicadas de resolver.

 

Internados dentro do edifício principal

Internados dentro do edifício principal.

 

Foi encontrada uma Ordem de Serviço do Regimento de Infantaria n.º 25, Ordem Serviço n.º 122, de 1 de Maio de 1916, que fixa o regime a que estavam sujeitos os súbditos alemães:


Artº III - Publicações
 

1º Os Alemães concentrados nesta Ilha ficam sujeitos ao regime a sublinhar:

 

a) não poderão estar fora do seu quartel desde o toque de recolher ao toque de alvorada,

b) têm homenagem no todo do castelo e traseiras do Monte Brasil, não podendo aproximar-se a menos de 200m do local do pico das Cruzes;

c) deverão apresentar-se todos os dias às 10 e 17 horas ao oficial de serviço ao depósito;

d) não poderão fazer qualquer comércio na ilha ou fora dela;

e) não poderão adquirir propriedades rústicas ou urbanas na ilha, salvo requisição de géneros para o seu uso próprio;

f) não poderão ter relações seguidas de convívio com qualquer português ou frequentar as casas de cidadãos portugueses, a não ser que se trate de mulher ou familiares menores, sendo também proibido o convívio com os habitantes do Castelo.

2º Poderá o comandante do depósito autorizar a saída do Castelo a qualquer alemão ou familiar mediante salvo conduto e pelo tempo julgado indispensável ao fim para que foi pedida tal licença.


3º É permitido aos serviçais dos súbditos alemães mediante salvo conduto, irem à cidade adquirir os meios de subsistências para aqueles que se alimentam à sua custa, todos os dias das 7 às 9 horas e excepcionalmente a qualquer hora em que se torne exigida a urgência.

4º Toda a correspondência entrada e saída dos súbditos alemães ficará sujeita a censura deste comando para o que se deverá observar o seguinte:

 

a) Nos dias de chegada dos paquetes o comandante do depósito mandará buscar a correspondência ao correio, que entregará neste comando;

b) Um dia antes da partida dos paquetes deverá ser entregue no mesmo comando toda a correspondência a sair que será censurada e visada no envelope a fim de poder dar entrada no correio;

c) A correspondência saída deverá ser toda escrita em português.

 

Comando Militar dos Açores 30 de Abril de 1916.

O Comandante Militar dos Açores

António Augusto Oliveira Guimarães, General.


Em 29 de Abril de 1916 chegou a Angra do Heroísmo um reforço de infantaria, proveniente do Regimento de Infantaria n.º 16, de Évora,  composto de 1 Capitão, 2 Alferes, 2 2ºSargentos, 2 1ºCabos, 2 2ºCabos, 2 Corneteiros e 45 praças que constituíram uma secção de adidos. As praças ficaram de serviço neste Regimento e os oficiais ficam exclusivamente com o encargo de serviço ao Depósito de Concentrados Alemães. (14)
 

Durante o ano de 1916 o Depósito de Concentrados Alemães teve como comandante o Capitão Álvaro Viana de Lemos.

 

Internados no refeitório      Capitão Álvaro Viana de Lemos, Comandante do Depósito de Concentrados Alemães 1916

Internados no refeitório                                                                                                                                                                     Capitão Álvaro Viana de Lemos

 

Dentro do Depósito de Concentrados Alemães existia uma organização social imposta pelos próprios, que se organizou  socialmente em três classes, das quais à primeira pertenceriam os comandantes, os ricos comerciantes e industriais e professores, entre mais, para na segunda classe se integrarem os oficiais de bordo, telegrafistas, desenhadores, etc. e na terceira, os marinheiros, fogueiros e agricultores, entre outros.

As condições sociais eram pois adaptadas conforme o status do indivíduo, quer ao nível do contacto com os portugueses, como entre os próprios. Existiam também familiares, incluindo criadas, mas a maioria era solteira e apresentava uma idade média de 30 anos. (15)

 

Internados e familiares num teatro improvisado no Forte de São João Baptista

Internados e familiares num teatro improvisado no Forte de São João Baptista

 

O Governo Português e o Comando Militar dos Açores procuraram dar as melhores condições possíveis aos concentrados, o que muitas vezes se tornava difícil em virtude da crise económica em que se vivia durante a Grande Guerra. Existiu o apoio médico da Cruz Vermelha e existia a liberdade de passear pelo Monte Brasil. Podiam inclusivamente enviar correspondência previamente censurada, sem portes a pagar, e mesmo formar cantinas, clubes, ginásios e grupos de teatro no interior do Forte de S. João Baptista. Existia, no entanto, a obrigação de formar na parada do Forte duas vezes por dia, por grupos de proveniência: Madeira, Cabo Verde, Angola, Ponta Delgada, Faial, Goa, etc. (18)

 

 

Bilhete-postal com sobrecarga AÇORES. OM38, 1C verde escuro, distribuídos gratuitamente aos prisioneiros de guerra, remetido de Angra do Heroísmo (14.05.19) para a Alemanha. Carimbo:"DEPÓSITO / DE / CONCENTRADOS ALEMÃES / NA / ILHA TERCEIRA".

Bilhete-postal com sobrecarga AÇORES. OM38, 1C verde escuro, distribuídos gratuitamente aos prisioneiros de guerra, remetido de Angra do Heroísmo (14.05.19) para a Alemanha. Carimbo:"DEPÓSITO / DE / CONCENTRADOS ALEMÃES / NA / ILHA TERCEIRA".

 

Com o fim da Grande Guerra deu-se o início ao processo de repatriação. Assim, em Outubro de 1919, “foi ordenado a todos os alemães concentrados no Castelo que poderiam sair se tivessem dispostos a pagar as despesas do transporte para as localidades onde desejassem fixar residência”. A maioria partiu a bordo do navio “Lothar Bohlen”, vindo propositadamente da Alemanha, encontrando-se no cais “muitas damas e cavalheiros angrenses apresentando as suas afectuosas despedidas”. Durante os quatro anos de que estiveram no Forte de São João Baptista verificaram-se apenas nove óbitos.

 

Grupo de Alemães internados em Angra do Heroísmo, 1918, Grupo XI "Residentes do Faial" , Ilustração Portuguesa, 1918, n 649. Foto de D. Branca Moreira Lopes, da Comissão Protectora dos Prisioneiros de Guerra Portugueses
Grupo de Alemães internados em Angra do Heroísmo, 1918, Grupo XI "Residentes do Faial"

 

 

Defesa da Horta (Faial)

 

A defesa da Ilha do Faial contava com um destacamento de Infantaria (do BI25 ou do BI26) e uma unidade de Artilharia pertencente ao Grupo de Guarnição 1 (Angra).

 

Com o aumento da importância do porto artificial de Ponta Delgada, o porto da Horta foi progressivamente perdendo a sua actividade, comparando com a importância que apresentava desde a instalação dos cabos submarinos.

 

Em Junho de 1918 a Canhoneira "NRP Açor" foi equipada com duas peças de 47mm e passou a fundear no porto da Horta para defesa da Ilha do Faial. Durante o período em que a Canhoneira "NRP Açor" esteve em reparações no porto de Ponta Delgada, na rampa das oficinas Bensaúde, o Cruzador "NRP Vasco da Gama" permaneceu no porto da Horta. (19)

 

Para além do porto natural eram também ponto estratégico os cabos submarinos de comunicações, o centro observatório meteorológico e os depósitos de combustível. Nesta estação de comunicações também se encontrava amarrado um cabo submarino alemão, o que veio a influenciar o interesse inglês por esta ilha.(5)

 

"NRP Açor", na baía do Faial, Horta

 

A canhoneira "NRP Açor" sulcou os mares dos Açores durante anos, fazendo base na baía do Faial. Prestou relevantes serviços às populações e à Marinha de Guerra, transportando pessoas e bens e principalmente correspondência postal em ocasiões de impedimento dos portos por motivos de "quarentena" ou quando os transportes regulares não o podiam fazer. Na foto observa-se no fundo o molhe do porto da Horta ainda em construção. Em primeiro plano vê-se uma canoa em primeiro plano pertencente à equipa da Comercial Cable. (28)

 

Durante a Grande Guerra houve grandes alterações nas ligações da rede de cabos submarinos amarrados à ilha da Horta, com o corte dos cabos alemães no início da guerra.

 

No dia 5 de Agosto de 1914, o cabo alemão amarrado entre Emden e Horta foi cortado pelo navio inglês "Telconia". O cabo alemão entre Horta e New York (cabo New York I) continuou a trabalhar até 9 de Abril de 1915, data em que foi cortado junto aos Açores.

 

Quando a Alemanha declarou guerra a Portugal a 9 de Março de 1916, os alemães empregados da DAT na Horta foram levados sob prisão para a ilha Terceira.

 

A 15 de Maio de 1916 o cabo New York II foi cortado perto dos Açores.

 

Em Julho de 1917, após a entrada dos Estados Unidos da América na guerra, os ingleses desviaram os cabos alemães Borkum I e New York I respectivamente dos seus pontos de amarração na Europa para Penzance, no sul da Inglaterra e do extremo ligado a Manhattan Beach para Halifax (Canadá).

 

Em Novembro de 1917, os franceses também desviaram os extremos de amarração dos outros dois cabos alemães Borkum II e New York II, respectivamente Deodlon na França e da estação de Far Rockaway, para Manhattan Beach.

 

Em 1918, terminava o prazo de 25 anos de direito exclusivo concedido à companhia inglesa no contrato de 1893 para exploração dos cabos submarinos nos Açores.

 

Em 1919 durante a discussão do Tratado de Versalhes os cabos submarinos alemães já desviados para frança são concedidos aos franceses. Na conferência internacional de 1920 Portugal reclamou a posse de parte dos cabos submarinos alemães, mas a pretensão não foi atendida. (28)

 

 

O teatro de guerra na Região dos Açores

 

1916

 

A apreensão dos navios alemães surtos nos portos açorianos

 

A 23 de Fevereiro1916  Portugal inicia a apreensão todos os navios mercantes alemães e austro-húngaros surtos nos portos portugueses, a fim de serem colocados ao serviço da "causa comum luso-britânica". A ordem foi executada nos Açores na madrugada de 26 de Fevereiro de 1916, por dois destacamentos de infantaria do Regimento n.º 26, comandados pelos capitães Albergaria e Ivens, em Ponta Delgada, onde foram tomados 3 navios alemães, o "Schiffbek" baptizado como "Santa Maria", o "Schwarzburg" baptizado como "Ponta Delgada" e o "Margretha" baptizado como "Graciosa".

 

Na mesma altura o destacamento da Horta tomou outros 3 navios alemães que ali se encontravam surtos, o "Max" baptizado como "Flores", o "Sardinia" baptizado como "São Jorge" e o "Shaumburg" baptizado como "Horta". 

 

As tripulações e outros cidadãos alemães que entretanto tinham sido detidos e se encontrava na localidade de Lagoa foram transferidos para o campo de internados em Angra do Heroísmo. Esta situação acaba por gerar conflitos entre a população e os internados, o que leva a ser declarado o estado de sítio na Ilha na Ilha Terceira.(4)

 

Na Ilha Terceira internaram-se grande parte dos alemães e austríacos capturados quando dos arrestos, que incluiu os provenientes da Índia, Angola, Cabo Verde e Madeira.

 

DECRETO N.º 2243

"Usando da faculdade que me concede a lei n.º 480, de 7 de Fevereiro de 1916, e nos termos do decreto n.º 2 :229, de 23 do referido mês, e sob proposta do Governo: hei por bem decretar o seguinte: Artigo único. São requisitados para o serviço do Estado os navios alemães  Schwarzburg  ( vapor ),  Schiffbek  ( galera ), e  Margareth  ( galera ), surtos em Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel, e os navios da mesma nacionalidade:  Schaumburg ( vapor ),  Sardinia  (vapor ) e  Max  ( galera ), surtos no porto da Horta, na Ilha do Faial."

 

 

1º Ataque Alemão aos Açores

 

Em Dezembro de 1916 a cidade da Horta, na Ilha do Faial, foi rondada por um submarino alemão cuja identificação se desconhece. A razão deste ataque terá sido devido à existência de instalações de amarração do cabo submarino de comunicações que ali estava ligado. A situação não terá tido repercussões de maior, uma vez que não se encontram registos ao nível da comunicação social continental da época.

 

 

 

1917

 

2º Ataque Alemão aos Açores (Caso Orion)

 

O ataque ocorreu em Ponta Delgada, a  4 de Julho de 1917, por volta das cinco horas da manhã. Em telegrama expedido ao Ministro da Guerra, o comandante militar de Ponta Delgada informava-o que um submarino inimigo de grandes dimensões havia bombardeado terra em repetidos e intermitentes ataques, atingindo os arredores da cidade até aproximadamente 4 km da costa. Parece que havia a intenção de atingir o posto de TSF que estava instalado no Ramalho. O submarino alemão disparou 50 tiros com os seus dois canhões de 150mm sobre a ilha.

       Casa do Sr. Francisco do Rego atingida por uma das granadas do submario em 4 de Julho de 1917, Ilustração Portuguesa n.º 600  

Dois tiros caíram na Canada do Pilar, na Fajã de Cima, onde provocaram a morte de Tomásia Pacheco de 16 anos de idade, filha de João Pacheco e  ferimentos com gravidade a sua irmã Maria Pacheco, Maria Júlia Carreiro de 45 anos e sua filha Henriqueta da Conceição Machado de 18 e Joaquim Machado. (24)

 

Outros tiros caíram na Fajã de Baixo, na Serra Gorda, em Arribanas, em Pau Amarelo, Santa Clara, Canada do Paim, Recantos dos Arrifes e em São Gonçalo. 

 

         Pedaços de uma das granadas que caiu na Canada do Pilar,  Ilustração Portuguesa n.º 600

                Pedaços de uma das granadas que caiu na Canada do Pilar, Ilustração Portuguesa n.º 600

 

Casa do Sr. Francisco do Rego atingida por uma das granadas do submarino em 4 de Julho de 1917, Ilustração Portuguesa n.º 600

 

 

Maria Pacheco (ferida), irmã de Tomásia morta no bombardeamento, Ilustração Portuguesa n.º 601    Maria Júlia Carreiro ferida, Ilustração Portuguesa n.º 601

                  Maria Júlia Carreiro ferida, Ilustração Portuguesa n.º 601

 

 

 

Maria Pacheco (ferida), irmã de Tomásia morta no bombardeamento, Ilustração Portuguesa n.º 601

 

Quando o submarino alemão U-155 abriu fogo contra a cidade de Ponta Delgada, a bateria instalada na Mãe de Deus, sob o comando do Alferes António Francisco Castilho da Costa, respondeu assim que o submarino entrou no seu campo de tiro apesar da distância a que este disparava sobre Ponta Delgada, a mais de 6.000m, o que fez com que não terminasse o fogo após quatro tiros. (11)

 

 

Em 1923, foi publicado um artigo por Manuel Martins Soeiro, dos Mosteiros, que questionava a posição geral sobre a influência do "USS Orion" no afastamento do submarino alemão, argumentando que o submarino não conhecia o calibre da Bateria da Mãe de Deus (100mm) e que este poderia temer a correcção do tiro.(7)  

 

 

O "USS Orion", um navio norte-americano que trouxera o primeiro carregamento de carvão americano para São Miguel e que estava a ser reparado com a ré soerguida, que ripostou com eficácia sobre o submarino alemão com uma peça de tiro rápido (100mm) que dispunha a bordo.

 

Na foto retrata-se o Capitão-tenente John H. Boesch, da USNRF, junto ao canhão que disparou sobre o submarino.
 

O "Diário dos Açores" de 4 de Julho, refere que foram 8 tiros disparados pelo submarino sobre o porto de Ponta Delgada, 4 disparados da Bateria da Mãe de Deus e 15 disparados de bordo do "USS Orion".

 

O submarino efectuou um novo ataque por volta das 4 horas da tarde sobre Ponta Delgada (in Os Açores & O Controlo do Atlântico, páginas 113-115, edição 1993) e mantêm-se por perto até às 9 horas da noite, quando se afasta em direcção de Santa Maria.

 

Foi na sequência deste ataque que os Estados Unidos decidiram reforçar a guarnição da Base Americana com uma companhia de Marines.

 

A população açoriana ficou convencida que a sua defesa apenas poderia ser garantida pelas forças dos Estados Unidos ali presentes. Houve de imediato um voto de louvor da Junta Geral àquelas forças e a Câmara de Ponta Delgada abriu uma subscrição pública para a compra de uma prenda a oferecer ao comandante do "USS Orion". O "Diário dos Açores" de 21 de Agosto de 1917, escrevia que a admiração da população era tal que um escasso mês volvido já se vendiam em Ponta Delgada cigarros de fabrico local com a marca Orion.

 

Face à ajuda americana, imediata e eficaz, embora acidental e à frequente visita de navios de guerra americanos ao porto artificial de Ponta Delgada, a população ganhou um sentimento de segurança com a presença americana.

 

O Jornal "Diário dos Açores" manteve uma campanha de protesto contra a situação de insegurança e de abandono que se sentia por parte da administração central, em Lisboa, reflexo da vontade da população se aproximar aos Estados Unidos com a presença da Base Americana. Esta campanha manteve-se durante o mês de Julho de 1917 até que o empolamento da opinião pública levou a que aparecessem manifestações de protesto.

 

A 27 de Julho a censura fez publicar no jornal uma coluna em branco e a juntar à situação aconteceu também uma desordem entre a população local e os marinheiros americanos, que foi abortada por um disparo de canhão a bordo do "USS Orion" e que funcionou como alarme de recolha de todos os marinheiros à Base. Esta campanha contra a administração central só terminou quando em 7 de Agosto o jornal publicou que o governador civil António Rodrigues Salgado se encontrava demissionário.

 

O reconhecimento da população açoriana e do Governo português pela actuação da tripulação do "USS Orion", em 4 de Julho de 1917, de levou a que em 8 de Abril de 1923, no porto de Boston, os oficiais e marinheiros colectivamente tivessem sido agraciados com a Ordem da Torre e Espada. Na foto vê-se o "USS Orion" por detrás da tripulação.

 

 

 

1918

 

Novos avistamentos de submarinos alemães

 

Os primeiros alarmes de submarinos começaram no início de Setembro. Os primeiros três avistamentos foram na Ilha de Santa Maria. Em 11 de Setembro um avião americano avistou um submarino a 16 milhas ao Sul de Ponta Delgada. Saíram à sua procura dois submarinos americanos, a "NRP Ibo" e uma nova patrulha aérea. A "NRP Açor" foi colocada junto à entrada do Porto. O submarino acabou por não ser encontrado.

 

A 31 de Marco, a 140 milhas do Faial (Horta) foi torpedeado o vapor dinamarquês "Indien" de 4.199T. Chegou a Angra do Herorísmo (Terceira) um salva-vidas com 9 tripulantes, não se tendo encontrado 3 outros salva-vidas, incluindo o do comandante. ("A Capital", de 7 de Abril de 1918). O submarino alemão que o atacou foi o U152 comandado por Constantine Kolbe. Este submarino manteve-se em caça desde Janeiro até Abril de 1918, quase sempre em águas portuguesas, principalmente perto do Algarve, Madeira e Açores. As notícias sobre o equipamento do submarino eram largamente exageradas, 2 canhões de 170mm, mais 2 canhões de 150mm. Na realidade este submarino estava equipado com 2 canhões de 105mm, o que era muito mais que suficiente para afundar o "Indien". Os subservientes indicaram que o submarino intimou a tripulação a abandonar o navio e depois destes se afastarem afundaram-no com 42 tiros ("A Capital", de 8 de Abril de 1918).

 

A 20 de Setembro o vapor inglês "Taormina" laçou um SOS por estar a ser atacado a 200 milhas a Sueste de Ponta Delgada, mas conseguiu escapar sozinho.

 

A  24 de Setembro o vapor "Lourenço Marques" que vinha de Moçambique com tropas expedicionárias que regressavam ao Continente, indicou ter avistado um submarino a 40 milhas de Santa Maria.

 

A 6 de Outubro o Caça-minas "NRP Celestino Soares", quando comboiava o vapor "San Miguel" comunicou ao Almirantado de Ponta Delgada que tinha avistado um submarino. 

 

A 14 de Outubro dá-se o ataque ao vapor "San Miguel" que estava a ser comboiado pelo Caça-minas "NRP Augusto de Castilho". (21)

  

 

O Último Combate da Armada Portuguesa 

 

O Caça-minas "NRP Augusto Castilho", comandado pelo 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo saiu de Lisboa, a 8 de Outubro de 1918, com a missão de escoltar o paquete "Beira" da Empresa Nacional de Navegação até ao Funchal. Chegado à Madeira, no dia 10 de Outubro, deveria ficar em serviço de policiamento e defesa da ilha, mas como à data o porto de Lisboa ainda se encontrava classificado como "porto sujo", devido à epidemia de pneumónica no continente, foi-lhe imposto uma quarentena (10 dias).

 

A bordo do "NRP Augusto Castilho" 1917

   

               1º Tenente Carvalho Araújo

               1º Tenente Carvalho Araújo

 

 

A bordo do "NRP Augusto Castilho" 1917

 

Para ultrapassar a situação da tripulação ter de ficar fechada no navio ao largo durante 10 dias sem permissão de ir a terra e a imobilização do navio durante tanto tempo, foi dada ordem para o Caça-minas "NRP Augusto Castilho" substituir a Canhoneira "NRP Mandovi" na missão de comboiar até os Açores o paquete "San Miguel" que se encontrava a carregar no porto do Funchal.

 

No dia 13 de Outubro o "NRP Augusto Castilho" suspendeu ferro e iniciou a escolta do paquete "San Miguel" em direcção ao porto de Ponta Delgada, em São Miguel. No paquete seguiam 206 passageiros civis e no "NRP Augusto Castilho" 2 passageiros militares que tinham aproveitado a viagem em gozo de férias à Madeira e 4 passageiros civis (3 rapazes de cerca de 15 anos e um homem de cerca de 47 anos de profissão serralheiro) que também para ali se dirigiam a fim de trabalhar e que por causa da quarentena foram obrigados a seguir para os Açores.

 

A viagem iniciou-se às 4 horas da tarde e por determinação do comandante da "NRP  Augusto Castilho", 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo, foi estipulada a velocidade de cruzeiro de 9 nós para ambos os navios. O "San Miguel" viajava colocado a estibordo do Caça-minas.

 

De acordo com o relatório de Kurt von Piotr, o submarino alemão U-139 detectou o comboio e perseguiu-o durante 3 horas até que o comandante Lothar von Arnauld de La Priére deu ordem de ataque a tiro de canhão.

 

O ataque do submarino deu-se às 6h e 15mn da manhã, de 14 de Outubro de 1918, com um tiro de canhão disparado de numa posição à popa do caça-minas. A resposta da peça de 47mm da ré foi quase imediata, mas o submarino encontrava-se fora do alcance desta peça. A primeira manobra envolveu o disparo de munições de fumo para criar uma cortina para proteger a fuga do "San Miguel", mas rapidamente ficaram esgotadas as caixas com munições de fumo que permitiam criar a camuflagem, ficando ambos os navios novamente a descoberto.

 

San Miguel 1918

San Miguel 1918

 

O submarino alemão continuava a preferir alvejar o "San Miguel" o que levou a que o paquete fugisse em marcha força, chegando a alcançar os 14 nós. Como o submarino continuava a alvejar o "San Miguel" com as suas duas peças de 150mm, o comandante Carvalho Araújo, para impedir o fogo inimigo sobre o navio de passageiros virou sobre o submarino e com as máquinas em esforço, o que lhe permitiu alcançar uma velocidade de 10,5 nós, lançou-se sobre o submarino fazendo fogo intenso com a peça de 65mm em caça. A única hipótese que o caça-minas tinha era de se aproximar até à distância útil de tiro e tentar abalroar o inimigo.

 

Com esta manobra o comandante Carvalho Araújo salvou os 206 passageiros do paquete "San Miguel", mas determinou o sacrifício do seu navio. O submarino, que continuava fora do alcance das armas do "NRP Augusto Castilho", começa então a fazer fogo sobre este e a vitimar a sua tripulação. Só depois de ter gasto muitas munições é que caiu a primeira a bordo e depois estilhaços de outras, os alemães pela dificuldade de acertar directamente no "NRP Augusto Castilho", começaram a utilizar granadas de estilhaços com espoletas de tempo retardado para as rebentarem por cima do navio.(13)

 

O fogo em caça da peça de 65mm de proa manteve-se até que a dilatação da culatra impediu a colocação de mais granadas, mas a peça de ré de 47mm, apesar da sua péssima posição de tiro, manteve-se a fazer fogo pela alheta de bombordo até acabar as munições. Foram gastas no total 150 granadas de 65mm e 70 granadas de 47mm.

 

Quando o comandante Carvalho Araújo verificou que o "San Miguel" já se encontrava suficientemente longe junto à linha do horizonte e porque já se encontrava sem mais munições ordenou que parassem as máquinas e hasteasse o pavilhão nacional. entretanto, enquanto se cumpriam as ordens um tiro alemão caiu certeiro sobre o navio atingindo mortalmente o comandante Carvalho Araújo. Após se ter içado o pavilhão nacional foi dada a ordem de abandonar o navio. O salva-vidas foi lançado ao mar com dificuldade o que levou a que muitos se lançassem ao mar agarrados a bóias e destroços do navio.

 

Quando, ainda, se estava a lançar o segundo salva-vidas ao mar rebenta perto do navio uma outra granada e é então que se percebe que os alemães ainda continuavam a disparar por causa da bandeira nacional estar içada. Foi então quando um dos sinaleiros arriou o pavilhão nacional que o fogo inimigo cessou. Eram 8h e 30mn da manhã de 14 de Outubro de 1918. A luta durou 2h e 15mn.

 

No final do combate o "NRP Augusto Castilho" encontrava-se 200 milhas da terra mais próxima (ilha de Santa Maria). Ficavam para trás 6 tripulantes mortos, incluindo o comandante, e um civil de cerca de 47 anos cujo nome não ficou conhecido.  Para o salva-vidas subiram 28 homens, tendo ficado agarrados a uma jangada 12 homens que vieram a ser recolhidos pelo próprio submarino inimigo.

 

http://arepublicano.blogspot.pt/2012/08/a-memoria-de-carvalho-de-araujo.html

À MEMÓRIA DE CARVALHO DE ARAÚJO - "NARRATIVA TRÁGICO-MARÍTIMA"

 

 

 

Mortos em Combate

Carvalho Araújo

Comandante

Morto em combate

Carlos Elói da Mota Freitas

Aspirante

Morto em combate

Elisio Martins da Nova

Telegrafista

Morto em combate

José Augusto Chegador n.º 376 AD Morto em combate
Homem de 47 anos (serralheiro) Civil Morto em combate

 

Manuel Cruz Branco 1º Marinheiro Morto em Combate
Manuel Joaquim d'Oliveira Fogueiro Morto em Combate

 

 

 

 

 

 

 

Sobreviventes do Combate (seguiram a bordo do salva-vidas)

José Rodrigues Manteigueiro

1º Artilheiro n.º 2723

Ferido em combate

Augusto Ferreira

1º Artilheiro n.º 2755

 

Lucas Marques Vitória

1º Artilheiro n.º 3264

 

Manuel Vieira

1º Fogueiro n.º 2100

 

Silvestre Augusto Caldeira

1º Grumete n.º  6132

Ferido em combate

Manuel de Freitas

1º Grumete n.º 4075

Ferido em combate

Francisco António Vicente

1º Marinheiro n.º 3360

 

Francisco Ferreira Rodrigues

1º Torpedeiro n.º 4512

 

José Dias da Rocha

2º Artilheiro n.º 5119

Ferido em combate

José Francisco Martins

2º Artilheiro n.º 5242

 

Manuel da Silva e Sousa

2º Artilheiro n.º 6080

Ferido em combate

Alberto dos Santos

2º Fogueiro n.º 308 AD

 

José Rebelo coelho

2º Fogueiro n.º 375 AD

 

Francisco Alexandre

2º Fogueiro n.º 420 AD

Ferido em combate

José Ribeiro Espada

2º Fogueiro n.º 504 AD

 

João António Mirão

2º Marinheiro n.º 364 AD

 

João Pereira da Bela

2º Marinheiro n.º 372 AD

Ferido em combate

Manuel Roque

2º Sargento

Ferido em combate

Acácio Alves Moura

2º Sargento Enfermeiro

 

Samuel da Conceição Vieira

Aspirante

Ferido em combate

José Maria

Cabo Marinheiro n.º 1599

Ferido em combate

Joaquim da Encarnação

Cabo Marinheiro n.º 1905

 

Manuel Tomé

Chegador AD

(AD - Auxiliar Defesa Marítima)

Ferido em combate (falecido durante a travessia)

João Monteiro

Chegador n.º 185 AD

 

3 Rapazes (15 anos)

Civis

 

Jerónimo André Senos

Cozinheiro n.º 310 AD

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Sobreviventes do Combate (resgatados pelo submarino inimigo)

Manuel Armando Ferraz Guarda-marinha  
José Ribeiro Nobre 2º Sargento Artilheiro  
António Francisco Borges 1º Sargento Maquinista AD  
João Loureiro Dispensador n.º 607  Ferido em combate
Álvaro Fernandes Nogueira 1º Artilheiro n.º 1900  
Gregório 1º Marinheiro n.º 2926  Ferido em combate
Francisco Pires Louro 2º Marinheiro n.º 4750  
Manuel de Sousa Fernandes 2º Marinheiro n.º 301 AD  
José Pereira Constâncio 2º Fogueiro  AD  
Isidoro Manuel Pereira 1º Grumete n.º 5413  
José Baptista Matias 1º Grumete n.º 4380  
Luiz José Simões Sargento-ajudante (autor das memórias)

 

 

 

 

 

 

 

Documentário alemão 1918, duração 05:20, sem som.

Filmado a bordo do U-139, quando do combate com o NRP Augusto Castilho.

ID CP-MC: 2000882-008-00.36.13.00

 

Os 12 sobreviventes que se encontravam na jangada, tentaram comunicar com o salva-vidas mas não o conseguiram, acabando por vê-la afastar-se. Foram cerca de duas horas agarrados à jangada até que apareceu novamente o submarino alemão U-139  que os puxou para bordo. Nessa ocasião deu para verificar que o submarino tinha sido atingido pelo menos uma vez pelas armas do "NRP Augusto Castilho".

 

U-139

Submarino alemão, U-139

 

Lothar von Arnauld de La Priére, comandante do U-139

O médico alemão com a ajuda de alguns marinheiros aplicou um tratamento primário ao Dispensador João Loureiro e ao 1º Marinheiro Gregório, e aplicou pensos sobre ferimentos ligeiros de outros portugueses.

Em francês um oficial alemão dirigiu-se ao Guarda-marinha Manuel Ferraz e perguntou-lhe onde estava o comandante, ao qual foi respondido que estava morto. Em resposta o oficial alemão transmitiu-lhe que se tinham portado com heroísmo e que o comandante não esperava tanto dos portugueses.

 

Os alemães deixaram então que os portugueses voltassem ao "NRP Augusto Castilho" e que aí recolhessem algumas coisas e retirassem um bote que colocaram na água. Assim que o bote foi colocado na água os alemães mandaram os 12 portugueses partirem e afastarem-se do submarino. Começava uma viagem de 200 milhas numa casca de noz que ainda tinham um rombo. Nos sobreviventes existia a esperança do socorro da marinha portuguesa e americana que se encontrava fundeada no porto de Ponta Delgada.

 

Os 12 náufragos avistaram terra 5 dias depois do combate, às 11 horas de 19 de Outubro de 1918, mas só chegaram a terra às 21 horas, sempre seguindo a luz de um farol. Chegaram ao Nordeste da ilha de São Miguel, Ponta do Arnel.

 

 

Lothar von Arnauld de La Priére, comandante do U-139

O marinheiros que tinham seguido no salva-vidas chegaram a Santa Maria dois dias depois do combate, às 16 horas do dia 16 de Outubro de 1918. (1)

Os sobreviventes que se encontravam na ilha de Santa Maria, foram recolhidos pela Canhoneira "NRP Açor", que no dia 17 de Outubro fundeou em Vila do Porto para os recolher e trazer para Ponta Delgada. (10)

Manuel Armando Ferraz ao centro com os outros 11 sobreviventes do "NRP Augusto Castilho" que chegaram a São Miguel

Grupo dos 12 náufragos que chegaram a Ponta de Arnel (São Miguel)

No filme feito pela tripulação do U-139, no momento da captura do "NRP Augusto Castilho", podemos ver os 12 homens e alguns alemães dentro do salva-vidas quando este já se encontrava amarado ao submarino. Numa cena seguinte é observado o médico alemão a prestar socorro a um dos feridos portugueses. Nesta cena é de realçar o estado de hipotermia do marinheiro que está a ser tratado. De seguida vê-se uma equipa alemã de abordagem que sobe para colocar cabos de ligação entre o submarino e o navio. Repare-se que os motores continuam a funcionar e a bandeira branca ainda está hasteada. Uma vez acostados a tripulação alemã retira do navio todas as provisões que encontra e outros abastecimentos de interesse. No final é filmado o afundamento do "NRP Augusto Castilho", primeiro tentam com uma mina que passa por debaixo do navio sem explodir, depois são colocadas cargas explosivas junto à linha de água que que provocam o afundamento.         

 

Em socorro do vapor "San Miguel" saiu logo após a mensagem de SOS a Canhoneira "NRP Ibo" que se encontrava no porto de Ponta Delgada. Rumou em direcção a Santa Maria, que era o destino do transporte, e pelas 3 da tarde encontrou o navio. Foi então que soube Caça-minas "NRP Augusto de Castilho" tinha ficado para trás a combater o submarino. Nos jornais do dia 15 de Outubro saiu a notícia que o vapor "San Miguel" tinha sido socorrido por dois contratorpedeiros americanos e um cruzador inglês, o que não foi verdade e que acabou por ser desmentido pelo Almirantado. O único navio que foi em socorro do "San Miguel" doi o "NRP Ibo".(22)

 

No dia 16 de Outubro o Capitão-tenente Correia da Silva, da "NRP Ibo", conseguiu apoio do Almirantado americano para ir em busca dos náufragos do "NRP Augusto de Castilho", que lhe facultou uma flotilha constituída por 4 caça-submarinos (vespas) "USS SC-72", "USS SC-111", "USS SC-180" e "USS SC-331"e o rebocador de alto-mar  "USS Lapwing". A flotilha navegou desde Ponta Delgada até Santa Maria numa formação com o "NRP Ibo" à frente e o rebocador "USS Lapwing" à retaguarda. As vespas iam nas alhetas de cada um dos navios maiores. Depois de Santa Maria a flotilha mudou para uma formação em linha com uma distância entre navios de 2000m. As pesquisas duraram até ao final do dia, quando os navios americanos regressaram a Ponta Delgada. Sozinha a Canhoneira "NRP Ibo" chegou pelas 10 horas da noite ao local do afundamento, onde encontrou vestígios do "NRP Augusto de Castilho" a flutuarem. Continuou em busca pelas águas de Santa Maria até que no dia 18 de Outubro recebeu ordem para regressar a Ponta Delgada, porque tinham chegado 30 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" a Santa Maria.  No dia 20 de Outubro o Almirantado deu ordem para a "NRP Ibo se deslocar até Ponta do Arnel, na ilha de São Miguel, para ir buscar um segundo grupo de 12 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" que ali tinha  chegado.(23)

 

 

Carta para Luís Simões, em 1933

 

 

Os Americanos nos Açores (1917-1918)

 

Porto de Ponta Delgada 1917 - Acervo do Museu Carlos Machado, fotografo: Coronel Afonso Chaves (1857-1926)

Soldado Americano, Porto de Ponta Delgada 1918 - Acervo do Museu Carlos Machado, fotografo: Coronel Afonso Chaves (1857-1926)

 

Em Junho de 1917 os Estados Unidos da América, que haviam declarado guerra à Alemanha em Abril desse ano, começaram a instalar um depósito de carvão para abastecimento da sua marinha no porto de Ponta Delgada. A instalação desta base fora autorizada previamente pelo governo britânico e só em 8 de Novembro de 1917 é que o  governo português  lhe deu o consentimento formal. O processo de negociação entre os três governos foi elucidativamente descrito por António José Telo, no seu livro "Os Açores e o controlo do Atlântico, pp. 122 a 131".

 

Almirante Dunn (1917-1918)

 

 

O Comandante da Base Naval americana, o Almirante Herbert Owar Dunn, chegou a Ponta Delgada em Junho de 1917. Enquanto esteve em Ponta Delgada ficou no Almirantado Americano instalado no palacete que pertencera a Thomas Hickling , actualmente "Hotel de São Pedro", local onde anteriormente havia funcionado o consulado americano.

 

Uma das suas primeiras medidas foi fazer chegar aos Açores e meios financeiros para melhorar de imediato as condições de vida dos locais.(3)

 

Pela sua acção nos Açores recebeu a medalha de Serviços Distintos, do Governo dos Estados Unidos, e foi condecorado por Portugal com o grande oficialato da Ordem de Avis.

 

Em 19 de Março de 1919, sob proposta do vogal Evaristo Ferreira Travassos, a Câmara Municipal de Ponta Delgada criou o título de Cidadão Honorário de Ponta Delgada, atribuindo-o, pela primeira vez, ao Almirante Dunn.

 

Almirante Herbert Owar Dunn

 

Soldado Americano, Porto de Ponta Delgada 1918 - Acervo do Museu Carlos Machado, fotografo: Coronel Afonso Chaves (1857-1926)

 

Curtiss R-6 USMC em Ponta Delgada

 

 

Ponta Delgada - Naval Base 13 "Mid-Atlantic Naval Base Ponta Delgada"

 

O Porto artificial de Ponta Delgada apresentava óptimas condições para alojar uma força permanente da navios de superfície, submergíveis e hidroaviões. 

 

Para defesa do pessoal da marinha e segurança da Base foi estacionada em São Miguel, durante o período de Junho de 1917 a Novembro 1918, uma Companhia de Marines constituída por 11 oficias e 188 praças. Com esta companhia também chegou uma Bateria de 2 peças de artilharia de 175mm, que foram colocadas numa posição a Oeste da cidade, onde actualmente se situa o aeroporto de São Miguel.

 

Transporte das peças de 175mm por carros de bois para a sua posição a Oeste da cidade de Ponta Delgada (32)

 

 

Peça de 175mm instalada na sua posição a Oeste de Ponta Delgada. É visível a guarnição formada por fuzileiros americanos (32)

 

 

 

A Força Submarina

 

Quando em Abril de 1917 os Estados Unidos entraram na Grande Guerra a sua força naval submarina era insignificante e estava ultrapassada em relação aos desenvolvimentos tecnológicos europeus.

 

Tal como a Inglaterra  que utilizou submarinos para executar missões de patrulha anti-submarina no Mar do Norte e no Mar da Irlanda, os Estados Unidos em Junho de 1917 designaram uma força de 12 submarinos (SUBLANT) para este tipo de missão, dividindo-a em duas unidades operacionais: a "SUBDIV4" constituída pelos submarinos USS K-1, K-2, K-5, K-6 e E-1,  estacionada no porto de Ponta Delgada nos Açores e a "SUBDIV5" constituída pelos submarinos USS L-1 ao L-4 e do USS L-9 ao L-11, estacionada na Baía Bantry na Irlanda.

 

 

A deslocação dos 4 submarinos "K" para os Açores deu-se em Outubro de 1917 e obrigou à utilização de dois navios de apoio: o Rebocador "USS Bushnell (AS-2)" e o Cruzador "USS Chicago", para os rebocar desde Halifax, passando pela Nova Escócia, até Ponta Delgada em São Miguel, Açores. A missão de rebocar, cada um dos navios dois submarinos, foi uma missão difícil. O E-1 chegou em Novembro pelos próprios meios inserido numa flotilha que seguiu para a Irlanda. O navio de apoio aos submarinos "USS Bushnell (AS-2)" foi substituido pelo "USS Tonapah (BM-8)" no final de 1917.

 

Os 4 submarinos "K" mantiveram-se nos Açores até ao final da Grande Guerra, tendo todos regressado em Fevereiro de 1919. Das suas característica há que destacar a velocidade de 14 nós à superfície e 10,5 nós submergido. Estava equipado com 4 tubos de torpedo de 18" e tinha um canhão de 75mm.  a sua tripulação era constituída por 28 homens.

 

A primeira patrulha efectuada pela flotilha americana aconteceu em 1 de Novembro de 1917, quando o K-2 saiu do porto artificial e teve que se debater com o mar agitado dos Açores. Foi uma missão  de manter a observação sobre os comboios navais que percorriam as águas açorianas foi muito difícil. As condições do mar no Atlântico central eram extremamente duras para estes navios, mas conseguiram garantir com alguma regularidade uma área de patrulha de 200 milhas à volta de Ponta Delgada. Acrescido às condições do mar tiveram dificuldades de apoio logístico, como peças de substituição  e de  abastecimento.

 

A Força Aeronaval 

 

A força aeronaval da "United States Marine Corps" chegou à Base Naval n.º 13, em Ponta Delgada, a 21 de Janeiro de 1918. O Esquadrão consistia na 1ª Companhia Aeronáutica do Corpo de Marines e era composta por 12 oficiais e 133 praças.

 

Esta força efectuou patrulhas no mar dos Açores entre 25 Março de 1918 e Novembro de 1918. O seu primeiro comandante foi o Major Francis T. Evans (09/01/1918-18/07/1918), substituído posteriormente pelo Major David L.S. Brewster (19/07/1918-20/01/1919), até quando a unidade regressou a casa (20/01/1919).

 

Porque a unidade pertencia ao Corpo de Marines, o seu comando era independente do comando da Marinha e do Exército americano. Esta foi a primeira unidade de aviação americana que partiu dos Estados Unidos para actuar na Grande Guerra. A unidade chegou a estar equipada com 10 hidroaviões "R-6", 2 hidroaviões "N-9" e mais tarde recebeu 6 hidroaviões "HS-2-L".

 

Curtiss R-6 USMC em Ponta Delgada

 

O transporte da unidade da América até aos Açores foi feita a bordo do navio "USS Hancock" e o seu regresso foi feito no navio "USS Nereus".

 

USA - 1ª Companhia Aeronáutica do Corpo de Marines e era composta por 12 oficiais e 133 praças.(Açores 1917)

USA - 1ª Companhia Aeronáutica do Corpo de Marines e era composta por 12 oficiais e 133 praças.(Açores 1917)

 

 

 

Força naval de Superfície

 

Em Dezembro de 1917 o destacamento naval americano "Azores Detachement", encontrava-se totalmente operacional, sob o comando do Comandante H.W. Osterhaus. A 16 de Dezembro efectuou exercícios operacionais com tiro real ao largo de Ponta Delgada, tendo inclusivamente avisado as autoridades portuguesas para avisarem a população locar para esta não se assustar. 26 

 

 

A 4 de Novembro  de 1917 a canhoneira "USS Margaret", comandada pelo Lieutenant Commander Frank Jack Fletcher  (como navio de comando,)suportado pelo navio de apoio "USS Hannibal",  iniciaram em conjunto com os navios patrulhas "USS Helenita" (SP-210), "USS May" (SP-164), "USS Rambler" (SP-211), "USS Utowana" (SP-951) and "USS Wenonah" (SP-165), uma viagem entre Newport, Rhode Island, para os Açores, via Bermudas. Cada um dos patrulhas rebocava uma vespa (submarine chaser). Os navios patrulhas americanos eram equivalentes aos nossos arrastões e pesqueiros militarizados pela Marinha portuguesa e que a Marinha de Guerra portuguesa classificou como caça-minas.

 

Logo no início da viagem o "USS Helenita", "USS Margaret", "USS May" e o "USS Utowana" sofreram tiveram avarias o que levou que este grupo naval só chegasse ao porto de Hamilton, nas Bermudas a 9 de Novembro. Os navios ficaram em reparação e descanso até 18 de Novembro, data em que partiram para os Açores, mas o "USS Helenita" e o "USS Utowana" tiveram de aí permanecer por causa do nível das avarias verificadas.  Na falta destes navios patrulha a Marinha americana mandou em substituição três outros navios que aí se encontravam, "USS Artemis" (SP-593), "USS Cythera" (SP-575) e o "USS Lydonia" (SP-700).  

 

Durante a etapa entre as Bermudas e os Açores, o "USS Wenonah" teve de ser rebocado pelo "USS May" e a canhoneira "USS Margaret" rebocada pelo "USS Cythera".  Quase toda a etapa foi feita sob um forte temporal e acabaram por alcançar os Açores através do porto do Faial (Horta) a 5 de Dezembro. Pouco depois, ainda em Dezembro, todos passaram para o porto de Ponta Delgada. No final de Dezembro alguns dos patrulhas passaram para o porto de Gibraltar. A travessia do Atlântico por yachts e pequenos pesqueiros ao serviço das armadas nacionais foi algo comum durante toda a Grande Guerra e uma das principais armas de combate aos submarinos alemães.

 

 

 

Contratorpedeiro:

"USS Truxton (DD-14)": (Setembro 1917-Dezembro 1917)

"USS Wipple (DD-15)": (Novembro 1917-Novembro 1918)

"USS Luce (DD-99)": (Outubro 1918)

"USS Lamson (DD-18)": (Junho 1917-Outubro 1917)

"USS Smith (DD-17)": (Junho 1917-Outubro 1917)

"USS Preston (DD-19)": (Agosto 1917-Outubro 1917)

 

Canhoneiras:

"USS Margaret" (SP-527): (Junho 1917-Novembro 1918)

"USS Welling": (Novembro 1917-Novembro 1918)

"USS Galatea (SP-714): (Fevereiro 1918)

 

Escolta:

"USS Bushnell (AS-2)": (Outubro 1917 - Dezembro 1917). Veio a acompanhar os submarinos e depois regressou aos Estados Unidos.

"USS Tonapah (BM-8)": (Dezembro 1917 - Novembro 1918)

 

Patrulhas:

"USS May (SP-164)": (Dezembro 1917 - Novembro 1918)

 

"USS Rambler (SP-211)": (Dezembro 1917 - Fevereiro 1918). Passou em Fevereiro para o porto de Brest.

"USS Utowana (SP-951)": (Janeiro 1918 - Fevereiro 1918).Passou em Fevereiro para o porto de Brest.

 

"USS Wenonah (SP-165)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar, onde chegou no dia de Natal.

"USS Lydonia" (SP-700)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar.

"USS Cythera" (SP-575)": (Dezembro 1917). Passou a 18 de Dezembro para o porto de Gibraltar.

"USS Artemis" (SP-593)": (Dezembro 1917 - Janeiro 1918). Passou em Janeiro de 1918 para o porto de Gibraltar.

 

Caça-submarinos (Vespas):

"USS SC-72", "USS SC-111", "USS SC-223", "USS SC-330", "USS SC-180", "USS SC-353", "USS SC-331" e o "USS SC-356".

 

Submarino:

"USS K-1", "USS K-2", "USS K-5", "USS K-6" e "USS E-1" (Outubro 1917 - Novembro 1918)

 

Rebocador:

"USS Genesee (AT-55)": (Janeiro 1918 - Abril 1919)

 

 

 

 

Porto da Horta (Faial)

 

O porto apresente excelentes condições naturais face ao qual serviu para apoio às marinhas aliadas durante a Grande Guerra e foi base permanente de hidroaviões americanos. 

 

O porto da Horta fica a pouco mais de 200 milhas do porto de Ponta Delgada, o que acrescidos às condições de defesa natural ficou estrategicamente no limite da autonomia dos submarinos "K". Em consequência disto passou a ser um local de passagem quase obrigatório das missões de patrulha, tanto dos submarinos "K" como de outros navios que operavam com base em Ponta Delgada.

Em Abril de 1918, como complemento à cobertura aérea da Base Naval 13 em São Miguel, o Governo dos Estados Unidos solicitou autorização ao Governo de Portugal para colocar uma estação aeronaval na Ilha do Faial, aproveitando as condições do porto natural da Horta. Nesta estação foram estacionados hidroaviões Curtiss HS-2L da U.S.Navy. Igualmente a missão destes hidroaviões competia localizar os submarinos que ameaçavam os navios mercantes que passavam ao longo da rota entre a América e a Europa.

A Marinha Portuguesa tinha projectado a instalação de uma estação aeronaval na Horta, mas não se chegou a materializar.  Como nota de curiosidade o Peter Café Sport foi inaugurado em 1918, certamente influenciado pela presença americana na ilha.

 

Outros Navios Aliados  

 

"HMS Argonaut", Cruzador de 1ª Classe: (Em missão entre os Açores e a Madeira entre Novembro de 1914 e Setembro de 1915)

"MN Friant", Cruzador: (Em missão nos Açores entre Julho e Setembro de 1917)

 

 

 

 

A questão estratégica dos Açores (1914-1918)

 

Visão Estratégica I

 

A primeira visão estratégica que aqui referimos foi apresentada por Norman Herz, no seu livro "Operation Alacrity: The Azores and the War in the Atlantic".

 

Desde o tempo em que os galeões espanhóis vinham carregados da América com cargas preciosas que estes vinham organizados em unidades com escolta, por causa dos piratas e corsários que os atacavam. As cargas mais preciosas vinham em navios no interior do grupo e no exterior ficavam os de menor importância, os mesmo que muitas vezes eram atacados antes dos navios de escolta conseguirem afastar o inimigo. Esta mesma táctica voltou a ser utilizada pelos aliados durante a Grande Guerra e mais tarde na Segunda Guerra Mundial.

 

Os submarinos alemães, à imagem dos predadores dos séculos XVI e XVII, também utilizaram as águas do Arquipélago dos Açores como zona de caça, uma vez que as corrente e os ventos continuavam a levar que os navios que cruzavam o Oceano tomassem neste local um porto de abrigo para salvaguarda, abastecimento e por vezes reparações.

 

O porto de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, apesar de ser o maior porto natural dos Açores, não era um local bom para atracar por causa das altas vertentes vulcânicas que o cercam e cujos detritos que dessas encostas caiem sobre as margens obrigam que os navios não possam se aproximar da margem. Aberto a Sul também não protege os navios dos fortes ventos que sopram frequentemente.

 

Os Estados Unidos sempre tiveram boas relações com os Açores e e um dos seus primeiros consulados foi estabelecido em São Miguel, para representar os seus interesses na caça à baleia. Até à Grande Guerra era hábito vir aos Açores buscar homens para os seus barcos de caça à baleia o que levou posteriormente a que houvesse emigração de muitas famílias açoreanas para os portos de pesca americanos. 

 

Quando a 4 de Julho de 1917, um submarino alemão bombardeou o porto e a cidade de Ponta Delgada, em são Miguel, situação que já não acontecia desde o último bombardeamento espanhol no século XVII, foi o navio de abastecimento USS Orion, que tinha acompanhado uma força de cinco contratorpedeiros para estabelecer uma estação naval nos Açores que repeliu o submarino. Portugal deu facilidades aos aliados, ingleses e americanos, para utilizarem o porto do Faial, na Horta, e o porto de Ponta Delgada, em São Miguel, como bases da luta anti-submarina e como portos de segurança, abastecimento de combustível, água , viveres e para reparações.

 

Os alemães também tiveram o desejo de utilizar os Açores. Chegou a ser discutido pelo Almirantado alemão, durante os Winterarbeiten de 1897-98 (manobras de inverno), que num cenário de ataque aos Estados Unidos, seria necessário ter uma base naval nos Açores para possibilitar o abastecimento da esquadra de ataque. Assim, durante a Grande Guerra o Almirante von Holtzendorff, no programa de desenvolvimento para a Marinha de Guerra incluiu a necessidade de estabelecer bases navais ou em Dakar, na África francesa, ou nos Açores ou Cabo Verde, em território português, para servir de bases aos submarinos alemães. De facto os Açores tinham uma localização  perfeita para a localização de uma base operacional de submarinos a operarem no Oceano Atlântico e para lançarem ataques sobre as costas americanas. (27)

 

 

Visão Estratégica II

 

A segunda visão estratégica que aqui referimos foi apresentada no Colóquio realizado no auditório da Biblioteca Pública e Arquivo, João José da Graça, em 2010, com organização do Museu do Faial e da Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta, o patrocínio da ANACOM e da APTO e a colaboração da Comissão de antigos cabotelegrafistas. Destacou-se a presença do historiador António José Telo, João Confraria, Luís Oliveira, Francisco Silva, Carlos Silveira, José Duarte da Silveira, Ricardo Madruga da Costa e Henrique Barreiros, presidente da Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta.  

 

O aumento do raio de acção dos submarinos permitiu alcançarem mais longe e passarem a alcançar a Madeira e os Açores a partir de 1915. Por causa desta situação a Esquadra do Atlântico Inglesa, (Atlantic Squadron), teve de se deslocar para sul indo colocar-se na baía de São Vicente, em Cabo Verde. Mesmo assim em 1916 a Esquadra Inglesa teve de se deslocar ainda mais para sul, para Cape Town, na África do Sul.  

 

Em 1915 a Esquadra inglesa não optou deslocar-se para a Horta porque o porto da baía do Faial (Horta) também não apresentava qualquer defesa contra submarinos, uma vez que não estava equipado com redes anti-torpedos, tal como qualquer outro porto nacional à data.

 

A baía do Funchal (Madeira) foi atacada em Dezembro de 1916 assim como a baía de São Vicente (Cabo Verde). Em resposta a Marinha de Guerra deslocou várias canhoneiras e navios de pesca armados (caça-minas e escoltas) para as águas dos arquipélagos. Navios maiores não apresentavam qualquer utilidade prática na guerra anti-submarina, a não ser servir de alvos. Os únicos navios de maior porte uteis na luta anti-submarina eram os contratorpedeiros equipados com cargas submarinas e as pequenas embarcações com capacidade de rocega de minas. Portugal utilizou os seus contratorpedeiros na escolta dos navios de transporte de tropas para França e a defesa das ilhas ficou a cargo das canhoneiras, escoltas e caça-minas.

 

Com a campanha submarina sem restrições e a entrada dos Estados Unidos na guerra, os portos dos Açores, Faial (Horta) e Ponta Delgada (São Miguel) passam a ser visto de forma diferente.

 

Na discussão estratégica efectuada oelos americanos e ingleses em Fort Monroe, em Abril de 1917, (Actas das reuniões nos Nacional Archives, Washington DC, Navy Departement, RG.) existiam dois conceitos estratégicos: os Estados Unidos estavam preocupados com a possibilidade de uma campanha submarina nas costas americanas. (no final de 1916 o U-53 afundou cinco navios na zona de New York). Os ingleses não acreditavam que existisse efectivamente esse perigo. Os ingleses defendiam que os navios americanos deviam se deslocar para as costas europeias, local onde os submarinos alemães iriam esperar a chegada das troaps americanas a França.

 

A instalação de uma base nos Açores era muito importante para que zonas mais isoladas não se tornassem bases de reabastecimento de submarinos alemães, que poderiam a partir dali atacar as costas americanas. Os ingleses acederam à instalação da base americana nos Açores como um cedência para que os americanos também colocassem unidades navais na Europa. A questão de abastecimento de submarinos em enseadas isoladas aconteceu em vários locais, em muito com o apoio de navios neutrais fretados para o efeito, como se encontra documentado em águas espanholas.

 

O porto de Ponta Delgada acabou por ser escolhido, apesar de pequeno, porque era fácil de defender com artilharia a partir de terra e de colocar uma rede anti-torpedos. O porto natural do Faial (Horta) tinha maior dificuldade de colocação de uma rede anti-torpedos.

 

A defesa do porto do Faial (Horta) apenas apresentava duas peças de artilharia de 90mm, antiquadas, e uma companhia de infantaria, cerca de 200 homens. (Arquivo Histórico Militar, Relatório do Comando Militar dos Açores, 18 de Novembro de 1914, 1Divisão, 35ª Secção, caixa 460).

 

A força navais americana (5 contratorpedeiros) não tinha a função de escoltar os comboios que passavam mais ao norte em direcção a França, mais de impedir que os submarinos alemães utilizassem as ilhas açoreanas para abastecimento e como de apoio para ataques às costas americanas.

 

Os navios que utilizaram o porto de ponta Delgada foram navios isolados que viajavam entre o Mediterrâneo e os Estados Unidos, unidades navais pequenas na rota Estados Unidos, Bermudas Açores, ou  navios avariados dos comboios do norte. 

 

A Base Naval americana nos Açores foi essencialmente uma base de defesa avançada do continente americano contra os submarinos, e uma base auxiliar do dispositivo de comboios navais do Atlântico norte. As instruções dadas à marinha americana estacionada na base de Ponta Delgada era: "cobrir a área geral dos Açores", para impedir o seu uso pelos submarinos inimigos. (National Archives, Washington DC, NRC, documento de 10 de Julho de 1917.) Os Açores não foram um ponto estratégico para a defesa naval do Atlântico Norte, uma vez que os ingleses conseguiram bloquear eficazmente a marinha alemã de superfície. Também não foram uma base estratégica para o sistema de comboios que se vieram a utilizar a partir de 1917. Assim pela reduzida necessidade de espaço portuário por parte dos Estados Unidos, foi esta a razão pelo qual optaram pelo porto e Ponta Delgada e não do Faial. (29)

 

Visão Estratégica III

 

A primeira visão estratégica que aqui referimos foi apresentada por Seward W. Livermore (1948), no artigo publicado em "The Journal of Modern History", sobre The Azores in american Strategy-Diplomacy, 1917-1919.

 

Entre outras medidas para que os Estados Unidos cuidassem da salvaguarda do transporte de tropas e abastecimentos, entre a América e a Europa durante a Grande Guerra, adquiriu uma base naval temporária nos Açores.  Para que tal fosse possível foi necessário que Governo Americano, em nome da Marinha, tivesse encetado uma longa negociação com o Governo de Portugal. No entanto a Marinha americana já tinha feito planos imediatos para a utilização dos Açores como uma base intermédia de apoio às operações transatlânticas, tanto contra os submarinos alemães como para abastecimento e reparação naval dos navios envolvidos nos comboios navais.

 

Houve assim considerável confusão e demora para chegar a uma decisão política em respeito à natureza da Base Naval temporária e a sua localização. A Marinha americana não manteve os diplomatas americanos que negociavam com Portugal informados sobre as suas necessidades, o que levou Portugal a sentir que a chegada da força naval americana a Ponta Delgada teria alguma forma de ocupação territorial. Durante a investigação pós conflito que o Senado americano efectuou sobre a intervenção americana na Grande Guerra, o Almirante William S. Sims considerou que a Marinha americana não sobe tratar convenientemente, a nível diplomático, os arranjos necessários para a chegada das forças americanas aos Açores (Naval investigation: hearings before the subbcommittee of the Committee on Naval Affairs, United Satate senate 66th. cong. 2d sess Washington, 1921, I, 135-36).

 

O Governo português suspeitou dos motivos da chegada e instalação das forças americanas em Ponta Delgada, situação que nos circulos políticos de Lisboa se manteve mesmo após a retirada das forças americanas da ilha em 1919. Foram vários os esforços americanos para obterem direitos de aterragem e outros privilégios para a aviação comercial sem sucesso. O Governo americano apenas conseguiu obter facilidades portuárias na ilha de Ponta Delgada, para navios mercantes (State Departement Archives, National Archives, hereafter cited as S.D.A., Robert Lansing, secretary of state, to Thomas H. Birch, U.S. minister to Portugal, tel 603, Aug.5, 1919, 195-33 Azorees/5ª). (30)

 

 

 

 

Notas

  1. Simões(1920), sínteses das suas memórias

  2. Bento(2008), p. 407

  3. Bento(2008), p. 423

  4. Bento(2008), p. 407

  5. VVAA(2005), intervenção de José Medeiros Ferreira, p. 103, "Ilhas e Arquipélago: Unidade e Dispersão"

  6. Bento(2008), p.400.

  7. Bento(2008), p.415.

  8. Inso(2006), p.67.

  9. Mendes(1989), p.59-60.

  10. Mendes(1989), p.59.

  11. Inso(2006), p.68.

  12. Inso(2006), p.69.

  13. Inso(2006), p.99.

  14. Informação colocada pelo Tenente-coronel de Infantaria António José Cordeiro Ferreira Frazão no site do Instituto Histórico da Ilha Terceira, em 25 de Julho de 1999.

  15. Correio dos Açores,(27 de Maio de 2009) "O DEPÓSITO DE CONCENTRADOS ALEMÃES EM ANGRA DO HEROÍSMO: Breves notas da sua existência histórica", de Sérgio Resendes.

  16. CFP, Clube Filatélico de Portugal, I Guerra Mundial 1914 – 1918: Índia Portuguesa, Prisioneiros de guerra Alemães e Austríacos, em campos de concentração em Goa, de Eduardo Barreiros e Luís Barreiros.

  17. Ilustração Portuguesa, n.º 640, 1918, pág. 417.

  18. Ilustração Portuguesa, n.º 649, 1918, pág. 88.

  19. Silva(1931), p.214

  20. Silva(1931), p.213

  21. Silva(1931), pp.213-226.

  22. Silva(1931), pp.227-233.

  23. Silva(1931), pp.236-246.

  24. Ecos da Fajã de Cima, Julho de 1997, pp.6-9., por António Paquete.

  25. De acordo com o Tenente-coronel piloto aviador José Barros Ferreira, as missões de patrulha aérea americanas iniciaram-se em Março de 1917.

  26. De acordo com o Dr. Sérgio Rezendes, p.208. "A Base Naval Americana - O papel do Almirante Dunn". 

  27. Herz(2003), pp16-18.

  28. Espólio de Humberto Serrão, FPC EHS/CX1/SPC16.1.

  29. Colóquio, O Porto da Horta na História do Atlântico (2010), pp. 23-26.

  30. Artigo de Seward W. Livermore, Seward W. (1948), "The Azores in American Strategy-Diplomacy, 1917-1919", The Journal of Modern History, Volume XX, September 1948, n.º 3, p.197.

  31. Ordens de Serviço do Exército, 1ª série, 1915, pp. 540-1.

  32. Fotos cedidas pela Prof. Doutora Fátima Sequeira Dias a António José Telo, para publicação no seu libro "Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974 (Tomo I).

 

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Bibliografia

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  • VVAA(2005), "Os Açores como Espaço Estratégico", s.e., Ponta Delgada, Gráfica Açoriana, LDA.

  • Inso, Jaime Correia do (2006), "A Marinha Portuguesa na Grande Guerra", s.e., Lisboa, Comissão Cultural da Marinha, (ISBN: 972-8004-86-9)

  • Mendes, José Agostinho de Sousa (1989), "Setenta e Cinco Anos no Mar, (1910-1985)", 1º Volume - I/II/III Partes, s.e., Lisboa, Comissão Cultural da Marinha.

  • PT AHM/DIV/1/36/33/12, Correspondência (cópias) entre o gabinete do Ministro da Guerra e o comandante do Depósito dos Internados alemães nas Caldas da Rainha, acerca da administração do Depósito.

  • Silva, Henrique Corrêa da (Paço d'Arcos), (1931), "Memórias de Guerra no Mar", Coimbra, ed., Imprensa da Universidade de Coimbra.

    Rezendes, Sérgio (2008), "A Grande Guerra nos Açores; Memória Histórica e Património Militar", Tese de Mestrado, Universidade dos Açores.

  • Herz, Norman (2003), "Operation Alacrity: The Azores and the War in the Atlantic", Naval Institute Press

  • (PT/AHM/DIV/3/01/18/24), Defesa dos Açores e Madeira, informação prestada aos Estados Unidos da América.

  • FPC EHS/CX1/SPC16.1, Espólio de Humberto Serrão, Fundação Portuguesa das Comunicações, Lisboa.

  • Colóquio O Porto da Horta na História do Atlântico, Horta, 2010; Horta. Museu, org. conf.; Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta, org. conf., Horta : Museu : A.A.A.L., D.L. 2011

  • Livermore, Seward W. (1948), "The Azores in American Strategy-Diplomacy, 1917-1919", The Journal of Modern History, Volume XX, September 1948, n.º 3.

  • Ordens de Serviço do Exército, 1ª série, 1915.

  • Telo, António José (1999), "Homens, Doutrinas e Organização 1824-1974, (Tomo I), Lisboa, Academia de Marinha, (ISBN: 972-781-007-1)

 

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