Marinha de Guerra

 

Para cima
NRP Guadiana

 

Marinha de Guerra Portuguesa em 1918

  • Cruzadores: "Vasco da Gama", "Almirante Reis", "S. Gabriel", "Adamastor" e "República";

  • Cruzadores Auxiliares: "Pedro Nunes" e "Gil Eannes";

  • Contratorpedeiro da Classe Tejo: "Tejo"

  • Contratorpedeiros da Classe Douro: "Douro", "Guadiana";

  • Aviso: "Cinco de Outubro";

  • Torpedeiros: "Nº1", "Nº2", "Nº3" e "Nº4";

  • Submarino da Classe Espadarte: "Espadarte";

  • Submarinos da Classe Foca: "Foca", "Golfinho" e "Hidra";

  • Lança-minas: "Sado", "Vulcano" e "Mineiro";

  • Patrulhas de Alto-Mar: "Augusto de Castilho"; "República II", "Quionga" e "Almirante Paço d'Arcos";

  • Caça-minas: "Galeo", "Thomaz Andrea", "Celestino Soares", "Hermenegildo Capelo", "Açor II", "Manuel de Azevedo Gomes", "Baptista de Andrade" e "Margarida Vitória";

  • Patrulhas Auxiliares: "África", "América", "Argentina", "Brigadeiro Barreiros", "Carregado", "Dakade", "Europa", "Galgo", Guarda-marinha Janeiro", "Ida", "Lince", Macedo e Couto", "Mariano de Carvalho", "Minho", "Tenente Roby" e "Três Irmãos"

  • Vapor de Salvação: "Patrão Lopes";

  • Transportes: "Salvador Correia", "Luabo", "Pebane" e "Pungué";

  • Rebocadores: "Bérrio" e "Lidador";

  • Navio-Escola: Fragata "D. Fernando II e Glória".

  • Canhoneiras da Classe Beira: "Beira", "Ibo", "Mandovi", "Bengo" e "Quanza";

  • Canhoneiras: "Save", "Lúrio", "Pátria", "Chaimite", "Diu", "Limpopo", "Zambeze", "Açor" e "Rio Sado";

  • Lanchas-canhoneiras: "Tete", "Sena", "Macau", "Flecha", "Zagaia", "Cacheu" e "Rio Minho";

 

 

Combates da Marinha de Guerra

 

A Marinha de Guerra Portuguesa não constituiu excepção àquela regra e como consequência da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, em 9 de Março de 1916, algumas dezenas de navios (26 de transporte e mercadorias, 13 de pesca  e 2 de receio) e também alguns de recreio foram requisitados, artilhados e incorporados na Armada, mercê da visão, dinamismo e energia do Capitão de Fragata Jaime Daniel Leotte do Rego que comandava.

 

Dos navios apreendidos e dos requisitados 32 foram construídos propositadamente como navios de guerra e os restantes foram adaptados para cumprirem missões militares durante o conflito mundial. Destes apenas dois se perderam na Grande Guerra, o patrulha de alto mar, o "NRP Augusto de Castilho" e o caça-minas "NRP Roberto Ivens".

 

Foram requisitados onze arrastões, em 1916, tendo oito deles sido utilizados na rocega de minas e com propriedade classificados caça-minas, e três outros: o "NRP República II"(antigo República), o "NRP Almirante Paço d'Arcos" (antigo Albatroz) e o “NRP Augusto de Castilho" (antigo Elite), que foram destinados a missões de patrulha e de escolta (e por isso dotados de artilharia um pouco mais importante que os restantes oito), sendo classificados patrulhas de alto-mar.

 

A militarização dos arrastões do alto, navios preparados para a pesca do arrasto, pelo facto estarem equipados com um poderoso guincho para poder meter dentro a rede, facilmente foram transformados em caça-minas, passando o guincho a atar os cabos de rocega. Os navios foram rebaptizados com os nomes: "Açor" em "NRP Açor", "Alda Benvinda" em "NRP Baptista de Andrade", "Loedelo" em "NRP Roberto Ivens", "Azevedo gomes" em "NRP Manuel de Azevedo Gomes", "Douro" em "NRP Thomaz André", "Margarida Victória" em "NRP Margarida Victória", "Maria Luiza II" em "NRP Hermenegildo Capelo"

 e "Serra d'Agrelha" em "NRP Celestino Soares". Cada um foi armado com uma peça  Hotchkiss de 47 mm, em caça. Refira-se, ainda o navio de salvamento "NRP Patrão Lopes", antigo "Newa", que foi requisitado no dia 23 de Fevereiro de 1916, e que foi, também, com uma peça 47 mm em caça.

 

 

O Caça-minas "NRP Roberto Ivens"

 

NRP Roberto Ivens

 

O "NRP Roberto Ivens" antes de ser requisitado para a função de caça-minas, em 19 de Abril de 1916, era o arrastão da pesca do alto "Lordelo", propriedade da Empresa Portuense de Pescarias, Lda, construído em Selby, em 1906. Tinha a arqueação  bruta de 796 m3 , o comprimento de fora a fora de 42,72 metros, era propulsionado por uma máquina alternativa de vapor com a potência de 520 H.P. a sua velocidade não ia além de 9,5 nós e foi foi artilhado com uma peça  Hotchkiss de 47 mm em caça.

 

No dia 26 de Julho de 1917, cumpria a sua missão de rocegar minas, na zona compreendida entre o Cabo da Roca e o Cabo Espichel, onde se encontravam vários daqueles engenhos que por ali eram regularmente fundeados pelos submarinos inimigos, tal como as 6 minas largadas alguns dias antes, em 14 de Julho, pelo submarino alemão UC-54, comandado por Heinrich XXXVII Prinz zu Reuss. Durante a rocega, a 17 milhas a Sul da baía de Cascais, pelas 13 horas, o "NRP Roberto Ivens" colidiu com uma mina que explodiu partindo o navio ao meio, provocou o seu afundamento imediato e a morte de quinze, dos vinte e dois elementos da sua guarnição. Entre as vítimas figurou o Primeiro-tenente Raúl Alexandre de Cascaes que o comandava.

 

Os sete sobreviventes foram recolhidos pelo rebocador da armada "NRP Bérrio" o qual por vezes, também auxiliava no rocega de minas, e que naquele dia apoiava o "NRP Roberto Ivens".

 

 

O Escolta "NRP Augusto de Castilho"

 

NRP Augusto de Castilho

 

O "NRP Augusto de Castilho" era o antigo arrastão “Elite”, (o primeiro arrastão Português destinado à pesca do bacalhau), mandado construir por encomenda da Parceria Geral de Pescarias Lda., em 1909, no estaleiro Cochrane and Sons, em Selby, Inglaterra. Tinha o deslocamento máximo de 801 toneladas, o comprimento de fora a fora de 48,76 metros e a sua velocidade não ia além de 9,5 nós assegurados por uma máquina alternativa de vapor com a potência de 704 H.P. Requisitado em 13 de Junho de 1916, foi artilhado inicialmente com uma peça  Hotchkiss de 47 mm, em caça. Tempos depois foi-lhe montada uma segunda peça igual, em retirada e mais tarde a peça de vante foi substituída por uma Hotchkiss de 65 mm.

 

Foram vários os encontros do patrulha de alto mar "NRP Augusto de Castilho" com submarinos alemães.

 

Em 23 de Março de 1918 navegava do Funchal para Lisboa, comandado pelo 1º Tenente Augusto de Almeida Teixeira, comboiando o navio de transporte “Loanda", abriu fogo a cerca de 500 metros sobre um submarino inimigo que mergulhou prontamente. Os passageiros juntaram-se e ofereceram à tripulação do "NRP Augusto Castilho" um prémio de 128$00, cuja lista dos passageiros que contribuíram se encontra descrita no jornal "A Capital" de 2 de Abril de 1918. O 1º Tenente Augusto de Almeida Teixeira foi ainda louvado pelo Governo da República, pela forma enérgica como procederam fazendo figo sobre o submarino inimigo. (A Capital de 4 de Abril de 1918)

 

Em 21 de Agosto de 1918, navegava ao largo do Cabo Raso, comandado pelo 1º Tenente Fernando de Oliveira Pinto, atacou com fogo de artilharia um submarino alemão de grandes dimensões que desapareceu rapidamente.

 

No dia 8 de Outubro de 1918 o "NRP Augusto Castilho" zarpou de Lisboa, em missão de escolta do navio de transporte "Beira", comandado pelo 1º Tenente Carvalho Araújo, rumo ao Funchal, onde chegou a 11 do mesmo mês. O navio de transporte "Beira" acabou por ficar ao largo do Funchal, por necessidade de fazer uma quarentena antes de desembarcar os passageiros, devido à pneumónica que grassava em Lisboa.

 

A 13 de Outubro o "NRP Augusto de Castilho" recebeu ordens para escoltar o navio de transporte de passageiros "San Miguel", da Empresa Insulana de Navegação, que era comandado pelo Capitão da Marinha Mercante Caetano Moniz de Vasconcelos, que e transportava 206 passageiros e muitas toneladas de carg a diversa. No dia seguinte quando já navegava entre o porto do Funchal para o porto de Ponta Delgada, comandado pelo 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo, às primeiras horas da manhã os dois navios Portugueses foram avistados pelo submarino alemão U-139, comandado por  Lothar von Arnauld de la Perière, que tentou atingir o paquete, o que só não conseguiu porque o "NRP Augusto de Castilho" se interpôs entre o atacante e o atacado.

 

No combate que se seguiu e que incrivelmente se prolongou por mais de duas horas, perdeu a vida o Comandante Carvalho Araújo e mais seis elementos da sua guarnição de 42 homens. A desproporção de forças era tão grande que o resultado do combate estava traçado desde o início bastando atentar-se no potencial ofensivo de cada um dos contendores.  À data o patrulha Português já se encontrava artilhado com duas peças Hotchkiss, uma com o calibre de 65 mm em caça e outra de 47 mm em retirada, ao passo que o submarino U-139 dispunha de duas peças de artilharia de 150 mm e seis tubos lança-torpedos.

 

San Miguel - 1918

Vapor "San Miguel"

 

Ilustração Portuguesa n.º 666, Dezembro 1918. Reparar na pintura de guerra

 

O facto do "San Miguel" ter aumentado a sua velocidade ao máximo e por outro lado a bravura e a tenacidade do comandante Carvalho Araújo, interpondo o seu navio de escolta entre o submarino e o paquete permitiram que este saísse da zona de tiro do submarino e chegasse ao porto de Ponta Delgada com os seus 206 passageiros e 54 tripulantes incólumes e as suas muitas toneladas de carga intactas.

 

Esgotadas as munições no "NRP Augusto de Castilho", este foi obrigado a render-se, não sem que os seus artilheiros tenham atingido repetidas vezes o submarino alemão U-139. Despojado de tudo o que os alemães conseguiram saquear acabou por ser afundado com cargas de demolição colocadas pelos alemães.

   

    Augusto de Castilho, foto tirada do U-139 após a abordagem  Augusto de Castilho, foto tirada do U-139 quando se afastava do navio. Ao longe vê-se um dos botes salva-vidas  Augosto de Castilho, foto tirada do U-139, afundamento do navio

 

 

O Escolta "NRP Almirante Paço D'Arcos"

 

O "NRP Almirante Paço d'Arcos" era o antigo arrastão “Albatroz”. Foi equipado com uma peça de 47mm em caça.

 

A entrada de Portugal na Grande Guerra apanhou o comandante Botelho de Sousa em Ponta Delgada (Açores), onde se encontrava colocado no Observatório Meteorológico, posto de que é exonerado a seu pedido para, entre 1917 e 1918, comandar o vapor "NRP Almirante Paço D'Arcos" em missões de comboio na zona de guerra. Os serviços prestados valeram-lhe o Grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, atribuído em 5 de Junho de 1919, por comandar o vapor durante doze comboios (7.500 milhas) e demais serviços em zona de guerra.(5)

 

Entre as escoltas efectuadas o "NRP Almirante Paço D'Arcos" comboiou o navio de transporte "San Miguel" de Lisboa até Ponta Delgada (Açores), em Agosto de 1918. Já no mar dos Açores, próximo de Ponta Delgada, avistou um avião americano de reconhecimento, que na manhã de 4 de Agosto patrulhava as águas em busca de submarinos alemães e ao chegarem ao porto de Ponta Delgada encontraram um submarino americano fundeado à entrada em missão de vigilância.(6)

 

 

O Caça-minas "NRP Celestino Soares"

 

 

O "NRP Celestino Soares" era o antigo arrastão "Serra D'Agrella". Foi equipado com uma peça de 47mm Hotchkiss em caça quando da mobilização a 31 de Junho de 1916, para servir na Defesa Marítima da Barra de Lisboa. Em Janeiro de 1918 foi equipado com uma segunda peça de 47mm Hotchkiss em retirada.

 

Enquanto navio da Armada passou a ter uma guarnição de 23 homens: um oficial, um sargento, nove praças e 12 civis mobilizados ADM (Auxiliares de Defesa Naval). Tinha uma velocidade máxima de 10 nós e uma autonomia que lhe permitiu vir a ser utilizado simultaneamente como caça-minas e patrulha de alto mar. Oficialmente os seus registos da época aparece sempre a denominação de caça-minas.

 

No quadro de comissões prestadas pelo NRP Celestino Soares, assinado pelo seu último comandante 1º Tenente Fernando Amor Monteiro de Carvalho (31/12/1917-27/03/1919). Neste mesmo quadro existe a seguinte referência a comandantes e períodos de comando que não são coincidentes com a lista apresentada no Volume 12 da colecção "Setenta e Cinco Anos no Mar (1910-1985), página 279. Assim o 1º Tenente Fernando de Barros indica que para as comissões desempenhadas de 24 de Julho a 30 de Novembro de 1916 não se sabe por quem foram comandadas pela razão do Diário Náutico não se encontrar assinado. As comissões desempenhadas de 30 de Novembro de 1916 a 10 de Junho de 1917 foram comandadas pelo 1º Tenente Raul Alexandre Cascais, e as desempenhadas de 13 de Junho a 26 de Outubro pelo Capitão-tenente Albano Mendes de Magalhães Ramalho.  As comissões desempenhadas de 1 de Janeiro de 1918 a 11 de Novembro do mesmo ano foram comandadas por si.

 

Na colecção  "Setenta e Cinco Anos no Mar (1910-1985)" é apresentada a seguinte relação de comandantes do NRP Celestino Soares: 1º Tenente Raul Alexandre Cascais (04/06/1916-05/06/1917); Capitão-tenente Albano Mendes de Magalhães Ramalho (05/06/1917-05/12/1917); 1º Tenente Sebastião José de Carvalho Dias (05/12/1917-31/12/1917) e 1º Tenente Fernando Amor Monteiro de Barros (31/12/1917-27/03/1919).

 

 

 Lista de Missões23

 

Natureza das Comissões

Ano

Total de dias de serviço

Observações

 

 

 

 

Dragagem de minas na barra do Tejo

1916

44

 

7 missões em Junho

9 missões em Julho

21 missões em Agosto

7 missões em Setembro

 

Serviço de vigilância na costa de Portugal

1916

31

 

15 missões em Junho

1 missão em Novembro

15 missões em Dezembro

 

 

 

Total 75

 

Dragagem de minas na barra do Tejo

1917

13

 

7 missões em Abril

6 missões em Maio

 

Serviço de vigilância na costa de Portugal

1917

185

 

12 missões em Janeiro

17 missões em Fevereiro

23 missões em Março

8 missões em Abril

19 missões em Maio

21 missões em Junho

23 missões em Julho

21 missões em Agosto

23 missões em Setembro

18 missões em Outubro

 

 

 

Total 198

 

Serviço de vigilância na costa de Portugal

1918

30

 

4 missões em Janeiro

7 missões em Março

1 missões em Abril

3 missões em Junho

9 missões em Julho

4 missões em Agosto

2 missões em Outubro

 

Serviço de vigilância entre a Madeira e Lisboa

1918

 

 

 

 

 

13

 

2 missões em Fevereiro

1 missões em Março

4 missões em Maio

2 missões em Junho

3 missões em Outubro

 

Transporte de Material de Leixões para Nantes com destino ao NRP Guadiana, permanecendo ali e regresso a Lisboa

1918

15

 

11 missões em Julho

4 missões em Agosto

Ida a Lorient a pedido das autoridades francesas para escoltar 3 valeiros russos

1918

3

 

3 missões em Agosto

 

(a escolta dos veleiros russos não se chegou a efectuar por motivo de mau tempo, que não permitiu a saída de Lorient

 

Serviço de vigilância e defesa do Funchal e de Ponta Delgada

1918

66

 

20 missões em Fevereiro

15 missões em Maio

24 missões em Setembro

7 missões em Outubro

 

Escoltas a Vapores

1918

29

 

4 missões em Fevereiro

2 missões em Março

3 missões em Abril

1 missão em Maio

2 missões em Junho

5 missões em Agosto

6 missões em Setembro

6 missões em Outubro

 

    Total  156  

 

Nota: Fez ainda escolta aos seguintes vapores: África (557 milhas); Zaire (121 milhas); Quelimane (1.218 milhas); Zaire e Gaza (247 milhas); Portugal (230 milhas); San Miguel  1.157milhas e Gil Eannes 165 milhas.

 

 

O Cruzador Auxiliar "NRP Gonçalo Zarco"

 

 NRP Loanda (19 Abril a 24 de Junho 1916)

 

O paquete "Loanda" foi foi requisitado pelo Ministério da Marinha, Majoria Geral da Armada, Portaria 654, de 19 de Abril de 1916, sendo o terceiro navio civil requisitado e classificado de cruzador auxiliar, como sucedeu com o "Gil Eanes" (ex-"Lahneck", alemão) e "Pedro Nunes" (ex-"Malange", português, também da ENN). Rebaptizado de "Gonçalo Zarco",  esteve entregue à Marinha Portuguesa apenas desde aquela data até 24 de Junho de 1916.

 

O então "NRP Gonçalo Zarco" teve uma lotação de artilheiros prevista de 1 Primeiro-sargento artilheiro, 2 Cabos artilheiros e 22 primeiros ou segundos artilheiros, o que o colocaria com um eventual armamento ao nível do "NRP Pedro Nunes" ou do "NRP Gil Eanes".
 

No entanto o paquete "Loanda" era uma unidade já com elevado número de anos de serviço. Construído pelo estaleiro escocês Scott & Sons sob encomenda da Mala Real Portuguesa (MRP), tinha sido destinado às rotas de navegação entre a metrópole e as colónias portuguesas da costa ocidental e oriental de África. Entrou ao serviço desta empresa portuguesa de navegação em 15 de Outubro de 1889. Com a falência da Mala Real Portuguesa em 1893, o "Loanda" foi arrematado pela Empresa Nacional de Navegação (ENN) em 14 de Janeiro do ano seguinte. Cf. Luís Miguel Correia, Paquetes Portugueses, Lisboa, Inapa, 1992, pps-32-43. Tinha a capacidade de transporte de 220 passageiros (75 em 1ª Classe; 25 em 2ª Classe e 120 em 3ª Calsse) e uma velocidade máxima de 14,5 nós.

 

O ENN "Loanda" fazia parte dos 14 navios a vapor que faziam as carreiras de África, grande parte da Empresa Nacional de Navegação e a restante da Empresa Insulana de Navegação (EIN). Com o início da Grande Guerra muitas linhas estrangeiras deixaram de escalar Lisboa obrigaram a ENN e a Insulana a retirar navios dos seus tráfegos habituais para transportarem alimentos e matérias primas necessárias da América do Norte e do Sul e também para o transporte de tropas para a África.

 

 

 

Fazia parte da requisição inicial de três cruzadores auxiliares para a Armada, mas foi o único que acabou por não navgar ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa. O Comandante Jaime do Inso apontou o mau estado das suas caldeiras como a razão para este facto (Jaime do Inso, A Marinha Portuguesa na Grande Guerra. Separata dos Anais do Club Militar Naval, de Novembro de 1937 a Março de 1939, Lisboa, Imprensa da Armada, 1937, pps. 702-703.)

 

Contudo, Luís Miguel Correia refere que "O Gonçalves Zarco" (sic) não chegou a receber armamento porque a sua estrutura já não aguentava a montagem de artilharia, devido à idade do navio, pelo que foi devolvido à ENN, retomando o nome de "Loanda" e a carreira de África, tendo sido vendido para sucata em 1922 (Luís Miguel Correia, ob. cit., p. 64 e p. 72).

 

Assim, seja pelo mau estado das suas caldeiras, seja pela falta de robustez estrutural, o que é certo é que o NRP "Gonçalo Zarco" não conheceu qualquer actividade operacional durante o curto tempo em que foi aumentado ao efectivo dos navios da Marinha Portuguesa, mas poderá ser contudo lembrado como primeiro "Gonçalo Zarco".

 

A 23 de Março de 1918 já sob a designação de CNN "Loanda", enquanto era escoltado pelo NRP "Augusto de Castilho" na viagem entre Lisboa e o Funchal, foi atacado por um submarino alemão. A sua escolta  obrigou a tiro o submarino inimigo a mergulhar imediatamente.(A Capital de 4 de Abril de 1918)

 

Nota: Sobre este raro apontamento histórico agradecemos em especial a prestimosa colaboração do 2º Tenente Gonçalves Neves, Investigador-chefe do Departamento de Museologia do Museu de Marinha.

 

 

 

O Caça-minas "NRP Hermenegildo Capelo"

 

NRP_Hermenegildo_Capelo

 

O "NRP Hermenegildo Capelo" antes de ser requisitado para a função de caça-minas, em 24 de Maio de 1916, era o arrastão da pesca do alto "Maria Luisa II", com o objectivo de executar missões de rocega de minas e patrulhas nas costas continentais e insulares. Tinha o comprimento de fora a fora de 36,74 metros, era propulsionado por uma máquina alternativa de vapor com a potência de 350 H.P., com uma velocidade máxima de 9 nós e foi foi artilhado com uma peça  Hotchkiss de 47 mm em caça.

 

Em Novembro de 1917 o caça-minas "NRP Hermenegildo Capelo", comandado pelo Capitão-tenente Augusto Carlos de Saldanha, numa das suas missões de rocega em parelha com o "NRP Baptista de Andrade" conseguiu transportar para o areal da Trafaria uma mina que depois de ser neutralizada foi exposta ao público na base da Esquadrilha de Patrulhas, em Belém.

Ainda em Novembro, dia 28, durante uma outra missão de rocega com o mesmo navio companheiro abriu fogo sobre um navio norueguês que entretanto se tinha tornado suspeito.(15)

 

 

Mina_Hermenegildo_Capelo

 

No dia 8 de Maio de 1918, o "NRP Hermenegildo Capelo", comandado pelo Capitão-tenente Augusto Carlos de Saldanha, após ter terminado a sua missão de rocegar minas, em parelha com o "NRP Baptista de Andrade", comandado pelo 1º Tenente Raul Álvares de Silva, viu o caça-minas francês "HXBT ASTR" a dirigir-se a toda a força para as barragens exteriores.

 

Os dois caça-minas portugueses avisaram o caça-minas francês através de sinais e apitos para parar, mas este não entendeu. Então, o "NRP Hermenegildo Capelo" deu dois tiros sem pontaria, mas o caça-minas francês continuou a não entender, pelo que disparou outro tiro que abriu um furo no costado do caça-minas francês, que então entendeu os sinais e parou.  Contactado foi mandado seguir na esteira do "NRP Hermenegildo Capelo" de acordo com as prescrições estabelecidas para a entrada no porto de Lisboa. Chegados as Cascais o navio francês foi entregue a um barco piloto. (16)

 

O Cruzador "NRP Adamastor"

 

Cruzador "NRP Adamastor"

 

O "NRP Adamastor", construído em Livorno, em 1897, tinha um deslocamento de 1.757 toneladas, comprimento de fora a fora de 73,8 metros, era propulsionado por duas máquinas a vapor de quatro caldeiras com uma potência de 4.000 H.P., e a sua velocidade alcançava os 18 nós. Estava equipado com 2 peças de 150mm, 4 peças de 105mm, 4 peças de 47mm, 3 metralhadoras e 3 tubos lança-torpedos.

 

Em 16 de Dezembro de 1915 o cruzador foi desafectado da Divisão Naval de Defesa (Lisboa) e foi enviado para a Índia portuguesa, na rota atlântica que passava pelo Cabo da Boa Esperança (África do Sul). Fez escala em São Vicente (Cabo Verde), em São Tomé (São Tomé e Príncipe), Luanda e Moçâmedes (Angola) e Cidade do Cabo (África do Sul). O cruzador chegou a Lourenço Marques (Moçambique) a 11 de Fevereiro de 1916.

 

Missão de requisição dos navios mercantes alemães

 

Encontrava-se neste porto a 23 de Fevereiro de 1916, quando o Governo português deu ordem para se apreenderem  todos os navios mercantes alemães e austríacos fundeados nos portos portugueses. Foi iniciada a sua primeira missão de guerra no Oceano Índico, apresando os navios que se encontravam naquele porto, tendo de seguida navegado até ao porto da Beira e da Ilha de Moçambique com o mesmo fim, sempre acompanhado pelo vapor "Portugal". No porto de Lourenço Marques encontravam-se 4 navios alemães, na Beira 1 navio alemão e na Ilha de Moçambique 2 navios alemães. No final da missão regressou ao porto de Lourenço Marques com as tripulações alemãs aprisionadas. 

 

Missão de apoio à invasão da colónia alemã oriental 

 

Em Abril de 1916, o Exército português em Moçambique delineou uma estratégia para expulsar as tropas alemãs da foz do Rovuma, que era o rio que fazia fronteira a Norte entre a colónia portuguesa e a colónia alemã, então denominada África Oriental Alemã, hoje Tanzânia. Assim, a 29 de Abril, o cruzador "NRP Adamastor" e a canhoneira "NRP Chaimite" receberam ordens para se dirigirem para a foz do rio a fim de executarem um primeiro reconhecimento, afundassem as embarcações alemãs que se encontrassem na zona e metralhassem os entrincheiramentos que se encontravam na margem norte.

 

A 20 de Maio, o "NRP Adamastor" chegou à enseada de Palma onde se encontrou com a canhoneira "NRP Chaimite" que o aguardava. De imediato ambos os navios se dirigiram para a foz do Rovuma onde iniciaram a missão de apoio à coluna do exército comandada pelo Coronel Moura Mendes, tendo os mesmos aberto fogo sobre as posições alemãs que se encontravam na margem do rio.

 

No dia 21 de Maio, a canhoneira "NRP Chaimite" tomou uma posição dentro do rio, perto de uma zona de baixios e o cruzador "NRP Adamastor" posicionou-se junto à barra. Sob o comando do cruzador iniciou-se um largo bombardeamento sobre a margem alemã, entre o posto militar de Tokoto e o posto militar Fábrica. Seguiu-se um desembarque com tropas da marinha, provenientes da guarnição do cruzador que, suportadas pelas peças do mesmo, ocuparam e destruíram o posto militar da Fábrica. Acabado o ataque os marinheiros regressaram ao cruzador, não tendo sido ocupado o posto militar por tropas do exército português. No dia 23 de Maio, os alemães reocuparam as posições do posto militar de Fábrica que se encontravam vazias, tende existido novos combates entre marinheiros da guarnição do cruzador e os alemães, tendo estes últimos reocupado o posto militar de Fábrica.

 

No dia 27 de Maio houve nova operação de desembarque, mas nesta altura os alemães já não foram surpreendidos e estavam entrincheirados e suportados por 6 metralhadores, que impediram movimento fazendo várias baixas na força de desembarque, compostas por marinheiros do cruzador e da canhoneira, que em muito foram derivadas de falhas de coordenação entre a força de ataque do exército e da marinha.  Onze dos seus 206 marinheiros perderam a vida neste combate. Cerca de quatro meses depois, a operação "travessia do Rovuma" foi repetida, com melhor coordenação, ainda com o apoio exclusivo das peças do "NRP Adamastor" e da "NRP Chaimite", consolidado o objectivo de invadir e ocupar território inimigo.

 

Missão de Apoio Naval

 

Desde a chegada ao Oceano Índico que o "NRP Adamastor" cooperava com o comando naval inglês. Com o desenvolvimento do conflito, em 1918, o Governo Português acedeu integrar um  comando de operações navais único, na frente de combate contra a província africana alemã oriental. Este comando ficou a cargo do contra-almirante em Chefe da Esquadra do Cabo, E.S. Fitzherbert, que comandava o cruzador "HMS Minerva". 
 

Continuava a existir a necessidade de manter o bloqueio naval à colónia oriental alemã, por forma a impedir o desembarque de armamento, munições e abastecimento às tropas alemãs, por parte de navios mercantes.

 

Na sequência da ofensiva alemã em território português, a 1 de Julho de 1918 deu-se a tomada de  Nhamacurra pelos alemães e julgou-se que estes se dirigiam para Quelimane. Foi montada uma missão de transporte e combate, composta pelos cruzadores "NPR Adamastor", "HMS Minerva" e "HMS Talbot", as canhoneiras "HMS Thistle" e "HMS Reynaldo" e alguns caça-minas, que transportaram 100 civis e 230 militares para a defesa da cidade. Os navios mantiveram-se no porto em postos de combate durante todo o mês de Julho, até que passou o alerta.

 

 

A Canhoneira "NRP Ibo"

 

NRP Ibo.Desfile no Tejo em 1916

 

A canhoneira "NRP Ibo" foi construída no Arsenal da Marinha (Lisboa) e entrou ao serviço da Armada em 15 de Fevereiro de 1913. Nomeado a 20 de Setembro de 1915 o Comandante Henrique  Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) assumiu o comando da "NRP Ibo" quatro dias depois21. À data encontrava-se em meio armamento, destinado a fabrico, no Tejo. Em 23 de Fevereiro de 1916, a quando do apresamento dos navios mercantes alemães a canhoneira ainda se mantinha no Tejo.

 

Em meados de Julho de 1916, terminaram os trabalhos de melhoramento da "NRP Ibo" e a 11 de Agosto o navio passou a completo armamento. A 24 de Agosto de 1916 o Capitão-tenente Henrique Monteiro Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) iniciou a sua longa comissão de 810 dias em Cabo Verde, onde fundeava a Esquadra Inglesa e se encontrava  amarrado um importantíssimo cabo telegráfico submarino. Teve ainda uma outra comissão durante a Grande Guerra nos Açores.

 

Comandante Henrique Monteiro Corrêa da Silva 

 

A canhoneira "NRP Ibo" foi construída no Arsenal da Marinha (Lisboa) e entrou ao serviço da Armada em 15 de Fevereiro de 1913. Nomeado a 20 de Setembro de 1915 o Comandante Henrique  Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) assumiu o comando da "NRP Ibo" quatro dias depois21. À data encontrava-se em meio armamento, destinado a fabrico, no Tejo. Em 23 de Fevereiro de 1916, a quando do apresamento dos navios mercantes alemães a canhoneira ainda se mantinha no Tejo.

 

Em meados de Julho de 1916, terminaram os trabalhos de melhoramento da "NRP Ibo" e a 11 de Agosto o navio passou a completo armamento. A 24 de Agosto de 1916 o Capitão-tenente Henrique Monteiro Corrêa da Silva (Paço d'Arcos) iniciou a sua longa comissão de 810 dias em Cabo Verde, onde fundeava a Esquadra Inglesa e se encontrava  amarrado um importantíssimo cabo telegráfico submarino. Teve ainda uma outra comissão durante a Grande Guerra nos Açores.

  

Na sua comissão nos Açores comandou a missão de procura do submarino U-139 que afundou a "NRP Augusto Castilho" e atacou o vapor "San Miguel", e salvamento dos náufragos a 14 de Outubro de 1918. No fim da Grande Guerra e pela campanha ao comando da "NRP Ibo" o Comandante Henrique Monteiro Corrêa da Silva  (Paço d'Arcos) foi condecorado com a Cruz de Guerra de 1ª Classe pelo governo português e com a DSO – Distiguished Service Order pelo governo inglês (2ª maior condecoração inglesa).

 

A "NRP Ibo" tinha um deslocamento máximo de 492T, uma velocidade máxima de 13 nós e uma autonomia de 3.200 milhas. O seu armamento standard era 2 peças de 75mm Armstrong e 2 peças Hotchkiss de 47mm, 2 metralhadoras e estava equipado com TSF, odómetro e sondador. A sua guarnição base era de 4 oficiais, 6 sargentos e 49 praças. Em Agosto de 1918, juntamente com a canhoneira "NRP Açor" encontrava-se em fabrico nas oficias navais Bensaúde, em Ponta Delgada, quando recebeu uma peça de 76mm, longa, colocada em caça, adquirida aos americanos. Esta peça encontrava-se instalada no yacht USS Marrareth (SP-527) que se encontrava fundeado na Base Naval americana de Ponta Delgada.

 

A partir de Setembro de 1918, o seu armamento passou a ser 1 peça de 76mm/Cal 55, 1 peça de 75mm e 2 peças de 47mm e 2 metralhadoras. Também foi nesta data que o navio recebeu a sua camuflagem em azul22.

 

1º Confronto - 24 de Agosto 1916

 

A canhoneira "NRP Ibo", equipada com 2 peças de 75mm e 2 peças Hotchkiss de 47mm e 2 metralhadoras, em 1914, com uma guarnição de 85 homens, partiu de Lisboa a 24 de Agosto de 1916, pelas 16 horas, para a sua missão de protecção do porto de São Vicente, em Cabo Verde.

 

Tomou rumo para a ilha da Madeira, mas logo à saída, a cerca de 60 milhas da barra de Lisboa, pelas 22 horas foi atacado pelo submarino U-20, comandado por Walther Shwieger, que lhe lançou um torpedo. Este cruzou a "NRP Ibo" rente à proa, mas sem sucesso. Avistado o submarino manobrou em ziguezague ofensivamente, passando de atacado para atacante e abriu fogo, com duas das peças de 47mm, sobre o submarino. O submarino mergulhou e não foi mais visto na noite. A "NRP Ibo" continuou a viagem e chegou ao Funchal (Madeira) no dia 29 de Agosto de 1916.

 

Refira-se que o Comandante Walther Shwieger foi o oficial que comandou o afundamento do vapor inglês "Lusitania", em Maio de 1915. 

 

2º Confronto - 4 de Dezembro de 1916

 

A 4 de Dezembro de 1916, durante a vigilância nocturna do porto de São Vicente, a "NRP Ibo" veio às águas exteriores do porto, até junto do navio "Moçambique" que se encontrava fundeado. Depois de dar ordem ao "Moçambique" para entrar no porto e de ter regressado à baía, os marinheiros de vigia distinguiram o casco de um submarino emerso a entrar na baía.

 

A canhoneira que se encontrava de serviço arrancou de imediato ao encontro com o inimigo. Tomou a decisão de correr a toda a força para o abalroamento, mesmo mesmo sabendo que isso podia significar o seu afundamento. Abriu um intenso fogo contra o submarino e acendeu um facho vermelho, como sinal de alarme de presença de inimigo. O fumo, o fogo das peças e do facho vermelho eram tão intensos, que a tripulação da canhoneira "NRP Beira", que estava acostada no porto, chegou a pensar que a "NRP Ibo " se tinha incendiado e largou de imediato em seu auxílio.

 

O submarino ao aperceber-se do ataque mergulhou, acabando a cobertura de água por fazer de protecção aos tiros sucessivos que eram disparados sobre o seu casco. O submarino rodou submerso dentro da baía e fugiu rente ao fundo, pela espuma, algas e detritos que sobrenadaram. Pensa-se que teria a intenção de rocegar o cabo submarino de comunicações  que aí se encontrava amarrado.

 

O navio "Moçambique" e os seus 500 soldados repatriados e a grande quantidade de material de guerra de África que se encontrava a bordo foram salvos. O submarino já longe do porto, em mar aberto começou a emergir, mas a canhoneira "NRP Beira" que tinha saído em apoio da "NRP Ibo" encontrava-se perto e começou a disparar sobre o submarino. Este voltou a submergir e não foi mais visto. Provavelmente seria o submarino U-47, comandado por Heinrich Metzger, que tem registado um afundamento na zona, naquela data.

 

3º Confronto - 2 Novembro de 1917

 

A 28 de Outubro houve uma chegou uma comunicação da presença de um submarino alemão entre Dakar e Cabo Verde, e sendo o porto de São Vicente escala dos navios brasileiros em trânsito para a Europa, era muito provável que se tornasse um porto de ataque à frota mercante brasileira.

 

Pela 7 da manhã, do dia 7 de Novembro, foram disparados dois torpedos para dentro do porto de São Vicente pelo submarino U-151, comandado Waldemar Kophamel, a uma distância de 450 e 300 metros dos alvos, que atingiram os navios brasileiros Guahiba e Acary ao nível da linha de água, provocando grandes explosões e o afundamento destes.

 

A canhoneira "NRP Ibo" que se encontrava acostada em abastecimento largou logo que obteve pressão e navegou em perseguição do submarino entre os destroços que flutuavam pelas águas do porto. O submarino entretanto ao ver a "NRP Ibo" a aproximar-se submergiu e com um 30m de água sobre o casco ficou imune a qualquer tiro que sobre ele se fizesse.

 

O submarino U-151 manteve-se escondido por alguns dias, mas na noite de 7 de Novembro, com alguma ousadia acostou dentro do porto ao navio holandês "Kennemerland", que na verdade era um navio espião alemão, mas foi prontamente repelido a tiro, que o fez  mergulhar e fugir.

 

Fez ainda um último ataque no dia 14 de Novembro e desapareceu de vez das águas de São Vicente, tendo se dirigido para as águas da Madeira, onde voltou a fazer um afundamento no dia 16 de Novembro, o navio americano "Margaret L. Roberts".(13)

 

4º Confronto - 16 de Outubro de 1918

 

No dia 14 de Outubro a canhoneira "NRP Ibo" saiu em socorro do vapor "San Miguel" saiu logo após a mensagem de SOS. Rumou em direcção a Santa Maria , que era o destino do transporte, e pelas 3 da tarde encontrou o navio. Foi então que soube que o caça-minas "NRP Augusto de Castilho" tinha ficado para trás a combater o submarino. A com intenção foi de dar combate ao inimigo

 

Nos jornais do dia 15 de Outubro saiu a notícia que o vapor "San Miguel" tinha sido socorrido por dois contratorpedeiros americanos e um cruzador inglês, o que não foi verdade e que acabou por ser desmentido pelo Almirantado. O único navio que foi em socorro do "San Miguel" foi a canhoneira "NRP Ibo", comandada por Henrique Corrêa da Silva.

 

No dia 16 de Outubro o Capitão-tenente Henrique Corrêa da Silva, conseguiu apoio do Almirantado americano para ir em busca dos náufragos do "NRP Augusto de Castilho", que lhe facultou uma flotilha constituída por 4 caça-submarinos (vespas) "USS SC-72", "USS SC-111", "USS SC-180" e "USS SC-331"e o rebocador de alto-mar  "USS Lapwing".

 

A flotilha navegou desde Ponta Delgada até Santa Maria numa formação com o "NRP Ibo" à frente e o rebocador "USS Lapwing" à retaguarda. As vespas iam nas alhetas de cada um dos navios maiores. Depois de Santa Maria a flotilha mudou para uma formação em linha com uma distância entre navios de 2000m.

 

As pesquisas duraram até ao final do dia, quando os navios americanos regressaram a Ponta Delgada. Sozinha a canhoneira "NRP Ibo" chegou pelas 10 horas da noite ao local do afundamento, onde encontrou vestígios do "NRP Augusto de Castilho" a flutuarem. Continuou em busca pelas águas de Santa Maria até que no dia 18 de Outubro recebeu ordem para regressar a Ponta Delgada, porque tinham chegado 30 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" a Santa Maria.  No dia 20 de Outubro o Almirantado deu ordem para a "NRP Ibo" se deslocar até Ponta do Arnel, na ilha de São Miguel, para ir buscar um segundo grupo de 12 náufragos da "NRP Augusto de Castilho" que ali tinha  chegado.

 

"NRP Ibo"  - Registos da Acção do Capitão-tenente Henrique Monteiro Corrêa da Silva (Paço d'Arcos)

durante a Comissão em Cabo Verde 1916-1918

 

24/08/1916

Barra do Tejo (Lisboa)

Combate com o submarino U-20.

Foi atacado pelo submarino U-20 que lhe lançou um torpedo, o qual cruzou a "NRP Ibo" rente à proa, mas sem sucesso.

 Avistado o submarino manobrou em ziguezague ofensivamente, passando de atacado para atacante e abriu fogo, com duas das peças de 47mm, sobre o submarino. O submarino mergulhou e não foi mais visto na noite.

Marinha(1989), p.87

11/10/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Fez para o vapor espanhol “Erandio” à entrada do Porto Grande, obrigando o navio a ficar fora do porto até ao amanhecer.

Marinha(1989), p.87

15/10/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Fez a identificação do cruzador “HMS Berhick” e depois autorizou a sua entrada no porto.

Marinha(1989), p.87

23/11/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Abriu fogo sobre um navio não identificado que se aproximava de noite do porto. Só depois de identificado foi autorizado a entrar.

Marinha(1989), p.87

26/11/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Abriu fogo sobre um navio não identificado que se aproximava de noite do porto. Só autorizou a entrada do navio na manhã seguinte.

Marinha(1989), p.87

04/12/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Combate com o submarino U-47.

A 4 de Dezembro de 1916, durante a vigilância nocturna do porto de São Vicente, a "NRP Ibo" veio às águas exteriores do porto, até junto do vapor "Moçambique" que se encontrava fundeado. Depois de dar ordem ao vapor "Moçambique" para entrar no porto e de ter regressado à baía, os marinheiros de vigia na canhoneira distinguiram o casco de um submarino emerso a entrar na baía.

A "NRP Ibo" arrancou de imediato ao encontro com o inimigo, com a intenção de o abalroar. Abriu um intenso fogo contra o submarino e acendeu um facho vermelho, como sinal de alarme de presença de inimigo. O fumo, o fogo das peças e do facho vermelho eram tão intensos, que a tripulação da canhoneira "NRP Beira", que estava acostada no porto, chegou a pensar que a "NRP Ibo " se tinha incendiado e largou de imediato em seu auxílio.

O submarino ao se aperceber do ataque mergulhou, acabando a cobertura de água por fazer de protecção aos tiros sucessivos que eram disparados sobre o seu casco. O submarino rodou submerso dentro da baía e fugiu rente ao fundo, pela espuma, algas e detritos que sobrenadaram. Pensa-se que teria a intenção de rocegar o cabo submarino de comunicações  que aí se encontrava amarrado.

Existe a probabilidade de o submarino ter sido o U-47, comandado por Heinrich Metzger, que tem registado um afundamento na zona, naquela data.

Silva (1931), pp. 83-87

 

11/12/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Saiu ao encontro de um vapor que se encontrava a pairar ao largo da ilha. Verificou-se mais tarde se tratar de um vapor inglês com o leme avariado.

Marinha(1989), p.87

12/12/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Fez parar um vapor holandês que tentava sair do porto sem autorização ao anoitecer.

Marinha(1989), p.87

19/12/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Saiu em auxílio da “NRP Beira” que tinha disparado um tiro, vindo-se a verificar mais tarde se tratar de um rebocador com uma embarcação a reboque que navegavam sem luzes.

Marinha(1989), p.87

19/12/1916

São Vicente (Cabo Verde)

Foi dado alerta de presença de submarino na zona. Foi também nesta data que saiu do Porto Grande o último navio da Esquadra Britânica para a sua nova base em Freetown (Actual Serra Leoa).

Marinha(1989), p.87

02/01/1917

Dakar  

Esteve em manutenção em Dakar durante a primeira quinzena de 1917.

Marinha(1989), p.88

28 /01/1917

São Vicente (Cabo Verde)

Fez fogo com dois tiros de salva e um de combate sobre um navio, depois reconhecido como sueco. Deteve a bordo do navio três passageiros clandestinos que pretendiam fugir para os Estados Unidos da América.

Marinha(1989), p.88

09/02/1917

São Vicente (Cabo Verde)

A 9 de Fevereiro de 1917, ao anoitecer, foi avistado pelos vigias do Ilhéu dos Pássaros um submarino inimigo dentro do canal. Dado o alarme, a "NRP Ibo" procurou o submarino tendo encontrado a esteira e identificado o local onde este terá submergido. Também contribuiu para que o submarino se afastasse os tiros efectuados por uma das peças de 76mm do posto do Ilhéu dos Pássaros.

Silva (1931), p. 111

 

21/02/1917

São Vicente (Cabo Verde)

Apreendeu o vapor grego “Dimítrios” que entrou no porto sem autorização.

Marinha(1989), p.88

04/05/1917

Sal

(Cabo Verde)

Fez um reconhecimento a sul da ilha do Sal, porque a população informou sobre um tiroteio que aí se teria dado, Encontrou despojos que poderiam ter pertencido ao vapor inglês “Bencaim” que fora afundado.

Marinha(1989), p.88

22/07/1917

São Vicente (Cabo Verde)

Transportou o governador de Cabo Verde e um oficial do Exército para ser estudada a localização das batarias para defesa do porto.

Marinha(1989), p.88

29/07/1917

São Vicente (Cabo Verde)

 

Participou no transporte da Bataria de montanha.

Marinha(1989), p.88

02/10/1917

Santo Antão(Cabo Verde)

Prestou assistência a embarcações que tinham sido surpreendidas por um violento temporal. Recolheu náufragos de três embarcações que se afundaram.  

Marinha(1989), p.88

02/11/1917

Santo Antão(Cabo Verde)

Combate com o submarino U-151.

Pela 7 da manhã, do dia 2 de Novembro, foram disparados dois torpedos para dentro do Porto Grande de São Vicente pelo submarino U-151, comandado Waldemar Kophamel, a uma distância de 450 e 300 metros dos alvos, que atingiram os navios brasileiros "Guahyba" e "Acary" ao nível da linha de água, provocando grandes explosões e o afundamento destes.

A canhoneira "NRP Ibo" que se encontrava acostada em abastecimento largou logo que obteve pressão e navegou em perseguição do submarino entre os destroços que flutuavam pelas águas do porto. O submarino entretanto ao ver a "NRP Ibo" a aproximar-se submergiu e com um 30m de água sobre o casco ficou imune a qualquer tiro que sobre ele se fizesse. 

Silva (1931), pp. 131-141

 

04/11/1917

São Vicente (Cabo Verde)

Quando regressava de uma patrulha à ilha Brava, entrou em postos de combate, por ter avistado o periscópio do U-151. Fez vários tiros para o local orientando-se pela esteira. Manteve-se em busca por mais algum tempo mas não conseguiu voltar a avistar o submarino.

Marinha(1989), p.88

07/11/1917

São Vicente (Cabo Verde)

O submarino U-151 manteve-se escondido por alguns dias, mas na noite de 7 de Novembro, com alguma ousadia acostou dentro do Porto Grande ao navio holandês "Kennemerland", que na verdade era um navio espião alemão, mas foi prontamente repelido a tiro pela “NRP Ibo”, que o fez  mergulhar e fugir.

O submarino alemão manteve-se ainda até ao dia 14 de Novembro, quando desapareceu de vez das águas de São Vicente, tendo se dirigido para as águas da Madeira, onde voltou a fazer um afundamento no dia 16 de Novembro de 1917, o navio americano "Margaret L. Roberts".

Silva (1931), pp. 131-141

 

29/12/1917

São Vicente (Cabo Verde)

Escoltou o vapor chileno “Amazonas” até aos limites das águas de Cabo Verde.

Marinha(1989), p.88

02/04/1918

São Vicente (Cabo Verde)

Zarpou de São Vicente para Lisboa, tendo feito escala em Dakar, Port Etienne e Agadir. Chegou a Lisboa a 17 de Abril de 1918.

Marinha(1989), p.88

 

Tributo ao Valor dos Camarada - 4 Dezembro de 1918

 

A bordo da canhoneira NRP Ibo, no Tejo, Canto e Castro, então ministro da Marinha do governo de Sidónio Pais (à direita), discursou na entrega do trofeu ao navio pala sua acção em Cabo Verde, durante a Grande Guerra.

 

Foto tirada a bordo da NPR Ibo (4/12/1918)

 

Estivavam também presentes, o comandante da NRP Ibo, o Capitão-tenente Correia da Silva (Paço d'Arcos) que se vê em segundo lugar, à esquerda, e os almirantes Júlio Gallis e Álvaro Ferreira, que se vêem ao centro. Entre Canto e Castro e Álvaro Ferreira, vê-se o Capitão-tenente Edwards  Evans, comandante do cruzador inglês HMS Active24.

 

A colónia inglesa que se encontrava no arquipélago de Cabo Verde, reconheceu os serviços prestados pela canhoneira NRP Ibo na defesa dos seus interesses, razão que levou a distinguir esta unidade naval e o seu comandante. Nessa cerimónia de 4 de Dezembro de 1918 foi entregue pelo Ministro da Marinha Canto e Castro um escudo em prata com honrosa inscrição, para o navio e uma taça de prata, para os oficiais.

 

A cerimónia teve lugar a bordo da canhoneira, na tarde de 4 de Dezembro de 1918. O Ministro da Marinha proferiu poucas mas veementes palavras, onde evocou os mortos da Armada Nacional no mar e em África. Em especial dirigiu-se ao comandante Correia da Silva, de quem tinha sido professor e por quem tinha uma velha e sólida amizade e admiração, e disse-lhe:  - Tenho muita honra e sinto verdadeiro prazer em te entregar este trofeu. Comunica-o aos teus oficiais e saúda-os em meu nome25.

  

 

 

O navio de salvamento "NRP Patrão Lopes"

 

NRP Patrão Lopes. O navio que saía quando os outros entravam...

 

Seria injusto não referir o navio de salvamento "NRP Patrão Lopes", antigo "Newa", que foi requisitado no dia 23 de Fevereiro de 1916, entre os outros navios alemães que se encontravam surtos no porto de Lisboa. A 19 de Abril de 1916 tomou o nome de "NRP Patrão Lopes", sob o comando do 1º Tenente Álvaro Nunes Ribeiro.

 

Tinha o deslocamento máximo de 1.100 toneladas, o comprimento de fora a fora de 49 metros, com uma velocidade máxima de 10 nós, assegurados por uma máquina de vapor com a potência de 500 H.P.. Apresentava uma tripulação de 1 comandante, 1 imediato, 1 maquinista e 60 sargentos e praças.  A 11 de Abril de 1917, é nomeado para comandante do navio o 2º Tenente Fernando Monteiro Barros e a 12 de Julho de 1917 passa a ser comandado pelo 1º tenente, pouco depois Capitão-tenente, António Emídio Taborda de Azevedo e Costa. Foi armado inicialmente com uma peça 47 mm em caça e mais tarde, em 18 de Maio de 1918, 2 peças de 90 mm, caça e retirada.

 

Missão de salvamento - 14 de Abril de 1917

 

No dia 14 de Abril de 1917 o comando da Divisão Naval de Defesa e Instrução recebeu uma mensagem relativa ao  afundamento de dois vapores de carga estrangeiros, junto à costa de Sagres. (7)

 

Foi ordenado ao "NRP Patrão Lopes" e ao NRP Limpôpo", que se encontravam em Lisboa, que seguissem à máxima velocidade, o que chegaram na manhã seguinte. O "NRP Limpôpo", navio de 37 metros e uma guarnição de 34 homens, estava equipado com duas peças de 3pdr e tinha uma velocidade máxima de 11 nós. Esta canhoneira era comandada pelo 2º Tenente José Francisco Monteiro.

 

O ataque do dia anterior foi efectuado pelo submarino U-35, comandado por Lothar von Arnauld de la Perière, que não destruiu apenas dois navios, como tinha sido dado conhecimento ao grupo de salvamento, mas quatro navios: o veleiro italiano "Bien Aime Prof. Luigi" parado para identificação e afundado com explosivos, o vapor dinamarquês "Nordsoen" parado para identificação e afundado a tiro de artilharia,  o vapor norueguês "Torvore" atacado a tiro de artilharia e que na fuga acabou destruído  e encalhado nos ilhéus Martinhal (junto a Sagres), e o vapor norueguês "Vilhelm Krag" que também  foi atacado a tiro de artilharia e encalhou igualmente destruído no mesmo local. Os tripulantes do "Torvore" e do "Vilhelm Krag" chegaram por si próprios a terra.

 

Assim, o "NRP Patrão Lopes" e o "NRP Limpôpo" já nada tinham a fazer, uma vez que os dois navios não estavam em condições de serem postos novamente a flutuar, e como a zona era de elevado perigo, o U-35 estava equipado com uma peça de 105mm e dois tubos de torpedos mantinha-se na zona em caça, regressaram de imediato para Lisboa.

 

 

Missão de escolta ao "Ambaca" - 14 de Junho de 1917

 

No dia 14 de Junho de 1917 o "NRP Patrão Lopes", comandado pelo 2º Tenente Fernando Monteiro Barros, recebeu ordens do comando da Divisão Naval para se juntar ao rebocados "NPR Bérrio" e ao caça-minas "Margarida Vitória", para formarem uma flotilha de patrulha e irem ao encontro do navio mercante "Ambarra" que vinha de França sem escolta e se encontrava naquela data a atravessar o Golfo da Biscaia.

 

O rebocador "NRP Bérrio" tinha um deslocamento de 498 toneladas, o comprimento de 40,50 metros, a sua velocidade máxima era de 10 nós, assegurados por uma máquina a vapor de 1070 H.P., e a sua guarnição era de 68 homens. Estava artilhado com uma peça  Hotchkiss de 47 mm, em caça. Era comandado pelo 1º Tenente Newton

 

O caça-minas "NRP Margarida Vitória" tinha um deslocamento de 206 toneladas e estava armado com duas peças Hotchkiss de 47 mm, uma em caça e outra em retirada. Era comandado pelo 1º Tenente António da Silva Pais e a sua base naval era o porto de Leixões, onde tinha como principal missão a defesa da barra do Douro.

 

Partiram do Tejo, ao fim da tarde, o "NRP Bérrio", como navio-chefe da flotilha, seguido pelo "NRP Patrão Lopes", tendo encontrado-se com o "NRP Margarida Vitória" junto a Leixões. Seguiram em formatura de coluna, com o "NRP Margarida Vitória" na cauda, em navegação do regime de guerra, sem comunicações TSF e sem luzes.

 

Navegaram para Norte ao encontro do "Ambaca" que se dirigia para Sul . A noite e o nevoeiro cada vez mais cerrado, levou o "NRP Patrão Lopes" e o "NRP Bérrio" a terem de fazer um conjunto de manobras evasivas para não se abalroarem e provocou que o "NRP Margarida Vitória" acaba-se por se perder da flotilha. O comandante da flotilha, 1º Tenente Newton, na manhã seguinte, com a persistência do  nevoeiro cerrado e se encontrar o "Ambaca" decidiu abortar a missão e regressar ao porto de Leixões, onde encontrou o caça-minas "NRP Margarida Vitória". O "Ambaca conseguiu chegar ao porto de Lisboa sozinho.(8)

 

 

Missão de escolta aos submarinos "Hidra", "Foca" e "Golfinho" - 17 de Novembro de 1917 a Fevereiro de 1918

 

A 17 de Novembro de 1917 o comando da Divisão Naval ordem para a Itália buscar os três submarinos da Armada, que se encontravam concluídos nos estaleiros de Spezia, dando-lhes escolta até Lisboa. Não havia tempo para entrar em fabrico para a montagem de dois canhões de 90 mm e assim teve de partir em missão apenas armado com a peça de 47mm.

 

Zarpou sozinho em direcção a Itália, tendo feito escala em Lagos, Gibraltar, Marselha e Genova, tendo chegado a Spezia a 7 de Dezembro. Apenas no estreito de Gibraltar viu submarinos inimigos, tendo a tripulação colocado aos cintos de salvação e guarnecido a peça de 47mm, mas estes apenas o seguiram por algum tempo sem o atacarem.

 

Em Spezia os submarinos foram entregues pelos italianos à Armada portuguesa, tendo ficado distribuídos os seguintes comandos dos submarinos: "Golfinho", Capitão-tenente Almeida Henriques; "Hidra", 1º Tenente Fernando Branco, e "Foca", 1º Tenente Serrão Machado.

 

O Governo italiano determinou o utilização do torpedeiro "Condor" para se juntar à escolta que o "NRP Patrão Lopes" iria fazer aos submarinos, uma vez que era uma zona onde existiam inúmeros submarinos inimigos. A 15 de Dezembro de 1917 dá-se inicio à grande viagem de Spezia para Lisboa.

 

 

As guarnições dos submersíveis “Foca”, “Golfinho” e “Hidra” no porto de La Spezzia.  Hidra, Foca e Golfinho na doca em Spezzia

 

1ª etapa (de Spezia para Villefranche-sur-Mer)

 

A 15 de Dezembro de 1917 inicia-se a etapa de Spezia (Itália) para Villfranche-sur-mer (França). O combóio sai de madrugada formado pelos três submarinos, o "NRP Patrão Lopes" e o torpedeiro italiano "Condore", comandado pelo Capitão-tenente Veritá Poeta. No final do dia o combóio entra no porto francês de Villefranche-sur-Mer, uma enorme baía que fornece abrigo natural.  O torpedeiro italiano "Condore" dá por terminada a sua missão de escolta e regressa a Itália.

 

Ao longo da viagem os submarinos navegaram em alerta e prontos para combate, com os tanques de regulação com lastro suficiente para a imersão, assim como com os tubos lança-torpedos alagados para permitirem lançar rapidamente os torpedos.  Os submarinos navegaram sempre com uma linha de água muito baixa e por consequência com uma velocidade reduzida.

 

2 ª etapa (de Villefranche-sur-Mer para Petite Rade de Toulon)

 

A zona em redor do porto de abrigo de Villefranche estava cercada de submarinos inimigos e no dia anterior à chegada tinham sido torpedeados três navios mercantes ao largo. Entretanto tinha-se levantado um temporal que não permitiu partir até ao dia 22 de Novembro.

 

O Governo francês determinou a utilização de dois torpedeiros, o "Borée" e o "n.º 369" para formar a escolta aos submarinos, com o "NRP Patrão Lopes". O combóio partiu de madrugada e chegou a Petite Rade de Toulon, base naval militar francesa, ao fim da tarde.

 

A flotilha portuguesa teve a honra da visita do Almirante Lacaze, comandante em chefe da Armada francesa, ao "Golfinho". Foi neste porto que os portugueses passaram o Natal de 1917 e o Ano Novo.

 

3ª etapa (de Petite Rade de Toulon para  Marselha)

 

O tempo estava muito mau, mas apesar disso foi feita a saída do combóio a 2 de Janeiro de 1918, com destino a Marselha. Compunha o combóio o patrulha francês "Elisabeth Marie", o "NRP Patrão Lopes" e os três submarinos. Mas o mar era tão violento que obrigou o regresso a Rade de Toulon.

 

No dia 3 houve nova tentativa, mas voltaram a regressar a Rade de Toulon. É no dia 4 de Janeiro que o combóio consegue ter bom tempo e mar para se dirigir a Marselha. Chegaram durante a tarde de 5 de Janeiro ao porto velho de Marselha sem incidentes.

 

4ª etapa (de Marselha para Cette)

 

Voltaram a partir  de Marselha a 15 de Janeiro, rumo a Cette. A meio da viagem é avistado um navio a afundar-se, o navio espanhol "Bona Nova", que tinha sido torpedeado pouco tempo antes. O combóio parou para aguardar que o patrulha francês "Elisabeth Marie" socorresse os náufragos e depois seguiram em combóio até Cette. Chegaram às 21h 05mn sem mais percalços. 

 

5ª etapa (de Cette para  Port-Vendres)

 

No dia 16 de Janeiro o combóio saiu do porto de madrugada, com nevoeiro e chegou ao porto novo de Port-Vendres (França) às 4 da manhã sem problemas. Este era o último porto na costa mediterrânea de França antes da fronteira com a Espanha. Era um pequeno e acanhado porto de pesca, que se tornara importante por ser obrigatória a escala de abastecimento para os navios que navegavam do norte para o sul (águas marroquinas), para evitarem a zona neutra de Espanha.

 

Amarrados àquele porto, a flotilha portuguesa encontrou uma profusão de heterogéneas embarcações, entre as quais, contratorpedeiros franceses, caça-minas e vapores armados de várias nacionalidades, vapores de carga, navios carvoeiros e alguns batelões. Os oficiais portugueses foram muito bem recebidos pelo chefe do porto e ficaram instalados em terra.

 

Nas memórias do comandante do "NRP Hidra", 1º Tenente Fernando Branco, ressalta a ida de um grupo de oficiais de comboio à cidade de Perpignan, no dia 19 de Janeiro de 1918, junto à fronteira com Espanha. Nesta cidade assistiram a um espectáculo de variedades no teatro local. No final do espectáculo apareceu a "estrela" a segurar uma bandeira francesa, ladeada por outros artistas e coristas que seguravam as bandeiras da Bélgica, da Grã-Bretanha, da Itália e quase todas as outras bandeiras aliadas, menos a portuguesa. No dia seguinte os oficiais foram falar com o empresário do teatro antes do espectáculo e ofereceram-lhe uma bandeira de Portugal. Nessa noite, 20 de Janeiro de 1918, a "estrela" em apoteose segurou a bandeira de Portugal.(19)

 

6ª etapa (de Port-Vendres para Oran)

 

No dia 17 de Janeiro o combóio chegou a sair, mas o mar obrigou a voltar ao porto, porque estava incapaz para a navegação de superfície para os submarinos. no dia 18 de Janeiro nova saída, mas desta vez o submarino "Hidra" apresentou dificuldades e foi necessário o regresso ao porto, para reparações.

 

No dia 24 de Janeiro de 1918 o combóio foi formado com mais um patrulha francês, o "Ailly". A flotilha formou com o patrulha francês "Elisabeth Marie" na frente, o patrulha francês "Ailly" na retaguarda, os submarinos em linha entre estes navios e o "NRP Patrão Lopes" a bombordo da coluna.

 

Durante a noite formaram duas colunas, uma com o "Elisabeth Marie"e os submarinos "Golfinho" e "Foca" e outra com o "NRP Patrão Lopes" e o submarino "Hidra", indo o patrulha francês "Ailly" na retaguarda das colunas. A 25 de Janeiro viram ao longe a ilha de Ibiza e no dia seguinte, 26 de Janeiro, com tempo chuvoso e mar agitado chegaram ao porto de Oran (Marrocos),  às 23h 20mn. Foi uma viagem longa para aqueles submarinos, o que lhes obrigou a atestar os duplos-fundos (lastros de compensação) com nafta em excesso, já que não podiam se reabastecer em Espanha, por ser um país neutro.(14)

 

7ª etapa (de Oran para Gibraltar)

 

No porto de Oran o patrulha francês "Ailly" deixa a escolta da flotilha. Assim, na noite de 28 de Janeiro o combóio formado pelo patrulha francês "Elisabeth Marie", os três submarinos e o "NRP Patrão Lopes" partem em direcção a Gibraltar, navegando sempre junto à costa marroquina.

 

No dia 29 de Janeiro, pelas 10h 30mn é ouvido na TSF um pedido de socorro de um navio que estava a ser atacado por submarinos, mas a transmissão terminou sem dar as coordenadas. Às 14 horas o "NRP Patrão Lopes" teve de emitir uma mensagem ao patrulha francês "Elisabeth Marie" indicando que por falta de carvão não podia continuar àquela velocidade e todo o combóio abrandou. Por volta das 21h 30mn apareceu um destroyer inglês que se juntou ao combóio e os fez rumar ao porto militar de Gibraltar.

 

No dia 30 de Janeiro, pela 1 hora cruzaram-se com um combóio de seis navios que saíam de Gibraltar e se dirigiam para o Mediterrâneo. Às 2 horas da manhã todos se encontravam atracados em Gibraltar. Inicia-se então algumas manutenções nos submarinos e é feito um abastecimento geral.

 

8ª etapa (de Gibraltar para Lisboa)

 

Após terminadas as manutenções nos submarinos e o abastecimento dos navios, o combóio partiu no dia 9 de Fevereiro de 1918, às 4 horas da manhã, em direcção a Sesimbra. O "Elisabeth Marie" na frente, os submarinos "Foca", "Golfinho" e "Hidra" de seguida e o "NRP Patrão Lopes" na retaguarda.

 

Depois de passar o farol de Cádiz (Espanha), ao meio-dia o combóio formou em duas colunas, com o "Elisabeth Marie", "Golfinho" e Hidra" numa e "NRP Patrão Lopes" e o "Foca" noutra.  Às 20 horas o combóio chegou a águas territoriais portuguesas da costa algarvia e à meia-noite chegou à ponta de Sagres. Aí tentou-se comunicar via TSF com Faro e Monsanto, mas ambos não responderam.

 

Já a 10 de Fevereiro, subiam a Norte lentamente devido ao vento e às 4h e 30mn passaram a coluna simples, com o "NRP Patrão Lopes" a comandar o combóio, seguido dos submarinos e com o "Elisabeth Marie" na retaguarda. Às 6h 25mn passaram o farol de Sines, às 7h 40mn o farol do Espichel e às 11h 05mn fundearam na baía de Sesimbra.

 

Comunicada a posição a Lisboa, receberam autorização de rumar ao Tejo às 19 horas. Atravessaram a barra junto ao Forte de São Julião e foram fundear junto a Paço D'Arcos às 22h e 35mn, terminando a grande viagem de Spezia para Lisboa.(9)

 

 

Missão de reboque da barca "Portugal" - 2 de Maio de 1918

 

No dia 2 de Maio de 1918 o "NRP Patrão Lopes" recebe uma nova missão, levar a barca "Portugal" de Lisboa para Bordéus (França). Parte de Lisboa escoltado pelo escolta "NRP Augusto Castilho" que acompanha o "NRP Patrão Lopes" e a barca "Portugal" até perto de Aveiro, quando o caça-minas "Margarida Vitória", da base de Leixões, veio ao seu encontro.  O "NRP Augusto Castilho" retornou para Lisboa e combóio entra no dia 4 de Maio no rio Douro sem problemas. Fica oito dias a aguardar que a barca "Portugal" seja carregada.

 

No dia 12 de Maio partem rumo a Bordéus o "NRP Patrão Lopes" a rebocar a barca "Portugal" e o caça-minas francês "Capoucini" em escolta, que se encontrava na base militar francesa de Leixões.

 

No dia 15 de Maio, às 9h e 05mn, dia com tempo encoberto, o "NRP Patrão Lopes" avista um submarino alemão a bombordo, a cerca de 2 milhas. O comandante, Capitão-tenente António Azevedo e Costa, deu ordem imediata para cortar o cabo que os ligava à barca "Portugal" e com a sua peça de 47mm, em caça, virou na direcção do submarino e avançou sobre este a fazer fogo. O submarino que se deslocava apenas com o periscópio à vista, continuou em observação sem se intimidar com os disparos. Entretanto o caça-minas francês que os escoltava também avançou sobre o submarino, dando sinal ao "NRP Patrão Lopes" para se afastar. O submarino com a aproximação do caça-minas submergiu e desapareceu.

 

O restante caminho até Bordéus ainda apresentava perigos vários, entre possíveis ataques de submarinos e a passagem de zonas minadas. A 18 de Maio os navios entraram no porto de Bordéus. A barca "Portugal" conseguiu descarregar a sua mercadoria e o "NRP Patrão Lopes" recebeu dois novos canhões de 90mm, um em caça em substituição do seu velho 47mm e um novo em retirada. Regressa a Lisboa a 6 de Julho de 1918.(10) 

 

 

O submarino "NRP Hidra"

 

Submarino Hidra 1917

 

Construído nos estaleiros italianos de Spezia, em 1917, pertencia à Classe Foca. A sua tripulação era constituída por 21 homens, tinha uma velocidade máxima de 14 nós à superfície, (motor diesel) e de 8 nós em imersão (motor eléctrico), 45m de comprimento de fora a fora e apresentava um deslocamento de 389ton à superfície e 469ton em imersão. A sua autonomia era de 1.600 milhas à velocidade de 8,5 nós.

 

Estava equipado com 2 tubos lança-torpedos de vante, com uma capacidade de transporte de 4 torpedos "Whitehead" de 450mm e uma metralhadora. O submarino era suficientemente forte para resistir à pressão das profundidades de 65 a 70 m. Na época era considerado um submarino rápido e tinha a vantagem de ser equipado com dois periscópios, um para observação e outro para ataque.(17)

 

Câmara de Torpedos, NRP Hidra, 1918

 

Os tanques de combustível e de lastro ficavam entre o casco resistente (interior) e o casco exterior. O casco exterior era construído de modo a envolver totalmente o casco resistente e era o que dava a forma hidrodinâmica ao submarino. Quando o submarino submergia eram abertas as válvulas inferiores e as válvulas superiores dos tanques de lastro, para entrar a água. Como as válvulas se mantinham abertas durante a imersão, a pressão dentro e fora do casco exterior mantinha-se igual independentemente da profundidade. Nesta situação o navio era movido pelo motor eléctrico. Os tanques de lastro encontravam-se dispostos ao longo da navio e ainda existiam outros tanques, os de compensação e os de regulação do caimento, que serviam para compensar a densidade da água existente entre o casco externo e de resistência, e ainda, para mudar o peso longitudinal e assim auxiliar os lemes de horizontais nas manobras de mergulho e de emersão. Refira-se que em caso de avaria no sistema de esvaziamento dos tanques de lastro era possível trazer o submarino à superfície largando o pesado lastro destacável que a este se encontrava preso.(18) 

 

Compartimento do Periscópio, NRP Hidra, 1918

 

O 1º Tenente Fernando Branco (promovido a Capitão-tenente em 25/04/1918), comandante do "NRP Hidra" escreveu nas suas memórias, publicadas em "Novelas Submarinas" a descrição de uma missão de vigilância efectuada pelo seu submarino durante a Grande Guerra, na zona compreendida entre o Cabo da Roca e a Ericeira.

 

Capitão-Tenente Fernando Augusto Branco, comandante do NRP Hidra (1917-1918)

 

Não são apresentadas datas específicas no documento para a missão, no entanto através do diário do caça-minas "NRP Republica II", pode-se identificar uma saída do "NRP Hidra" a  28 de Agosto de 1918. O "NRP República II" terá escoltado o "NRP Hidra" desde a baía de Cascais até até 4 milhas a Noroeste do Cabo da Roca onde o largou, seguindo depois novamente para a baía de Cascais. (12)

 

A 5 de Outubro de 1918, há um registo do piloto Rosado que patrulhava a área de Sesimbra, devido a um alerta de presença de submarino, e avistou o "NRP Hidra" a 4 milhas so SW do Cabo Espichel. Os submarinos aliados não eram "incomodados" pelos hidroaviões de patrulha, ao contrário do que acontecia com os navios de superfície, que disparavam primeiro e perguntavam depois, porque era possível distinguir os submarinos aliados dos submarinos inimigos. Os submarinos aliados eram pintados com desenhos convencionados com tinta branca no convés, que se alteravam frequentemente de acordo com instruções confidenciais e assim sendo reconhecendos não eram atacados. (20)

 

A esquadrilha de submarinos encontrava-se fundeada no Tejo, na Estação da Esquadrilha de Submersíveis da Marinha de Guerra Portuguesa, em Belém. As missões eram executas em cruzeiros de quatro dias, para uma zona determinada, com o objectivo de dar protecção à costa, aos navios neutros e aliados que passassem na zona de vigilância, e ainda, dar caça a qualquer submarino inimigo que se aproximasse.   

 

O submarino "NRP Hidra", com os seus 21 tripulantes (3 oficiais e 18 sargentos e praças), "largou a bóia" e iniciou o seu andamento em direcção a Cascais, onde se encontrava o caça-minas "NRP República II" a aguardar a sua chegada, para o escoltar até a zona de vigilância, localizada a 4 milhas a Noroeste do Cabo da Roca.

 

A principal missão do caça-minas era de proteger o submarino enquanto este navegava à superfície, uma vez que existia o perigo de embater numa mina ou ser alvo de um torpedo inimigo. Chegados ao local os dois navios pararam e o caça-minas marcou a posição. Deixou o submarino para poder voltar quatro dias depois a buscar o submarino.

 

NRP Hidra, 1918. Regresso à Base Naval de Belém.

 

Sozinho o submarino imergiu e iniciou a vigilância com os seus dois periscópios. Viam ao longe terra e pesquisavam por qualquer navio ou periscópio que eventualmente se aproximasse. A submersão com periscópio à vista era dado com uma profundidade de três metros. É interessante a nota do autor, que indica a dificuldade de observar pelo periscópio devido à ondulação e o problema com as gaivotas que ao rondarem os periscópios denunciavam a presença do submarino. Um outro perigo que preocupava a tripulação era o da aproximação de navios, fossem amigos ou inimigos, uma vez que existia a seguinte divisa da marinha de superfície "mais vale destruir um submarino aliado, do que deixar de destruir um submarino inimigo", o que  levava a que todos os navios de superfície tendencialmente disparassem primeiro e perguntassem depois.

 

1ª Esquadrilha de Submarinos da Armada Portuguesa em exercícios no Tejo

 

Assim, sempre que um navio se aproximava o submarino fazia uma imersão evasiva para uma profundidade de 20m, que lhe garantia não ser detectado e muito menos abalroado. Passado o navio o submarino regressava à profundidade de periscópio, 3m. Estas manobras repetiam-se durante os três dias de vigilância e era apenas ao abrigo da noite que o submarino arejava e recarregava as baterias.

 

No dia 31 de de Agosto o caça-minas "NRP Republica II" regressou ao local marcado para ir buscar o submarino. O "NRP Hidra" regressou a barra do Tejo a navegar à superfície seguindo a esteira da sua escolta. Não foi reportado qualquer encontro com o inimigo.(11)

 

"NRP Foca" e "NRP Golfinho" na Ponte Cais da Esquadrilha de Submersiveis em Belém (Tejo/Lisboa - 15/02/1922)

 

 

O Navio-hospital "Quelimane"

 

A Marinha de Guerra a quando do arresto dos navios alemães e austro-húngaros que se encontravam surtos nas nossas águas em Fevereiro de 1916, recebeu cinco navios para reforçar a sua frota. Este conjunto foi composto por o vapor de salvação "NRP Patrão Lopes" (ex-Newa),  o vapor de transporte "Chinde" (requisitado à Empresa Nacional de Navegação), o vapor de transporte "Pebane" (ex-Kadet, arresto em Moçambique), o vapor de transporte "Pungue" (ex-Linda Woermann, arresto em Lisboa) e o vapor de transporte "Quelimane" (ex- Kronprinz, arresto em Moçambique).

 

O vapor "Quelimane", encontrava-se surto em Lourenço Marques desde o início da guerra em Agosto de 1914. A 23 de Fevereiro de 1916 o Governo português ordenou o arresto do então Kronprinz, baptizando-o com o nome de Quelimane.

 

Quelimane (Ex-Kronorinz) em 1916 junto a Lourenço Marques quando do arresto

Quelimane (ex-Kronprinz) junto a Lourenço Marques quando do arresto 3 de Fevereiro de 1916

 

Foi entregue à Marinha de Guerra, que o utilizou como navio-hospital desde Outubro de 1916 até ao final de 1917, quando foi transferido para os Transportes Marítimos do Estado, passando a ter função de navio de transporte. Apresentava um deslocamento de 5.689 T e uma velocidade máxima de 13,5 nós e uma capacidade de 304 passageiros em 4 classes.

 

Existe um registo na Biblioteca Digital do Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças, que refere ao falecimento do Soldado Adelino Martins, n.º 349 da 9.ª Companhia de Infantaria 23, causado por caquexia palustre. O local do óbito indica que o  falecimento se deu a bordo do navio-hospital "Quelimane", que se encontrava fundeado na baía do Tungue, em Moçambique.  (Código de referência ACMF/Arquivo/DGCP/16/001/0127) 

 

No Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) encontra-se uma caixa com documentação pertencente às enfermarias do navio-hospital, com os registos individuais de entrada e saída de doentes, e pelas indicações o navio encontrava-se fundeado junto a Palma no mês de Março de 1917, dando apoio aos doentes do Hospital de Palma em convalescência.

 

Foto tirada a 12 de Outubro de 1918, frente a Lourenço Marques.  (Paquetes Portugueses, (Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa, 1992)

Foto tirada a 12 de Outubro de 1918, frente a Lourenço Marques.  (Paquetes Portugueses, (Luís Miguel Correia, Edições Inapa, Lisboa, 1992)

 

Em Dezembro de 1917 o "Quelimane" deixou de estar ao serviço da Marinha de Guerra e foi transferido para a Companhia de Transportes do Estado.

 

 

Links

 

Notas
  1. Ferreira(2003), pp. 6-12.
  2. Campos(1938), pp. 87-94.
  3. Campos(1939), pp. 76-83.
  4. Silva(1931), pp. 75-90.
  5. Riley(1994), P.438
  6. Silva(1931), pp. 213-4.
  7. Oliveira(1939), p.48.
  8. Oliveira(1939), pp. 51-55.
  9. Pinto(2008), pp. 285-320.
  10. Oliveira(1939), pp.76-8.
  11. Branco(1936), PP. 1-25
  12. Marinha(2020), p.330
  13. Silva(1931), pp. 131-141.
  14. Canas(2009), p. 47.
  15. Martins(1934), p.270
  16. Marinha(2002), p.233.
  17. Jackson(2008), p. 87
  18. Landström(1961), pp. 268-9
  19. Branco(1936), pp. 121-146
  20. Tadeu (1984), p.109
  21. Silva(1931), p.19 e Marinha(1989), p.90
  22. Silva(1931), pp.216-7
  23. ACM - Arquivo Central da Marinha, Núcleo 75, CX51, 6/XI/8/2, Documentação Avulsa "Guadiana"
  24. Oliveira(1944), p.61
  25. Oliveira(1944), pp.77-8

 

Bibliografia

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  • Santos, José Ferreira, (2009) "Adendas ao Artigo - Quatro Navios com o nome de Carvalho Araújo", Revista de Marinha, 2009, 953, p10, p38.

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