A Bélgica na
Grande Guerra
Quando
se deu o início da Grande Guerra, a 28 de Julho de 1914, a Bélgica
proclamou a sua neutralidade perante o conflito. Independente desde
1831, mantinha uma posição de neutralidade perpétua de acordo com o
Artigo 7º, com o Tratado de Londres, de 19 de Abril de 1939.
A
Alemanha, também signatária desse Tratado de Londres, para conseguir
operacionalizar o seu plano de ataque à França, apresentou um ultimato
ao rei Alberto I ignorando a neutralidade deste território e o acordo
assinado.
Independentemente da resposta que a Bélgica viesse a dar ao ultimato, a
Alemanha a 2 de Agosto de 1914 a Alemanha invadiu o território belga
como se encontrava estabelecido no Plano Schlieffen. A partir da
fronteira com a Bélgica, a Alemanha tinha planeado avançar ao longo do
Meuse e do Sambre em direcção à França.
A 3 de
Agosto, em resposta à invasão do território belga pela Alemanha, a
Grã-Bretanha fez um ultimato à Alemanha para que esta retirasse da
Bélgica, mas era de esperar que os alemães não retirassem e em
consequência das alianças militares existentes entre a Grã-Bretanha, a
Bélgica e a França, a Grã-Bretanha entrou na guerra.
A Nação
belga estava determinada a resistir e a oferecer uma forte resistência.
Com a defesa do território liderada pelo rei Aberto I, o qual assumiu o
comando directo do exército, e com uma defesa persistente por cada
centímetro do território sempre que o terreno o permitia, acabou por
retirar progressivamente em direcção à França, conseguindo estabelecer
junto à costa do Mar do Norte, em Yser, um último reduto que defendeu
desesperadamente até ao final da Grande Guerra.
Os
alemães foram sucessivamente conquistando as cidades de Liège, Namur e
Bruxelas. O governo belga teve que inicialmente ser retirado para
Antuérpia e depois para o Havre (França) onde se manteve até ao final do
conflito. O exército belga, comandado pelo rei Alberto I, conseguiu
parar os alemães junto ao rio Yser, numa pequena porção de território
ainda belga junto à fronteira com a França e ao Mar do Norte.
Na
vasta zona ocupada pelos alemães, a quase a totalidade do território
belga europeu, a resistência nacional que a população ofereceu aos
alemães foi contida com violência e através do fomento das rivalidades
étnicas entre os flamengos e os valões. A ocupação alemã, que se manteve
até Novembro de 1918, levou à fuga de mais de 1.000.000 habitantes para
a Holanda e ainda causou a morte de mais de 80.000 habitantes devido à
fome e à dificuldade de cuidados médicos.
No
início de 1917 o Corpo Expedicionário Português chegou a França e foi
colocado na zona da Flandres, a poucos quilómetros a sul da zona onde se
encontravam as tropas belgas, contribuindo assim para manter a pressão
sobre as tropas alemãs na Flandres. Quando em Setembro de 1918 se deu a
ofensiva aliada, cujo principal avanço foi sobre território belga, entre
as tropas aliadas também se encontravam várias unidades de infantaria,
artilharia e engenharia portuguesas.
Quando
finalmente foi assinado o Tratado de Versalhes, em 1919, a Bélgica
incorporou 989,3 Km2 de território retirado à Alemanha, o que incluiu
também a incorporação de 64.500 habitantes de nacionalidade alemã. A
este território anexado na Europa acrescentaram-se mais dois pequenos
territórios que correspondiam a zonas anteriormente administradas como
colónias alemãs e que tinham sido ocupadas pelas tropas coloniais belgas
durante o conflito1.
De Liège a Yser - 1914
Após a
ocupação do Luxemburgo a 2 de Agosto de 1914, o exército alemão iniciou
a sua marcha para ocidente através da Bélgica com o objectivo de atacar
a França, como já referido. Esta manobra estratégica, que se baseava no
Plano Shlieffen, projectava atravessar a Bélgica ao longo do Meuse e do
Sambre e após entrar em França virar para sul em direcção a Paris.
A
entrada das tropas alemã na Bélgica deu-se a 4 de Agosto com o avanço do
exército comandado pelo General Karl von Bülow. Este dirigiu o ataque
directamente para Líège e aí permaneceu durante 12 dias, de 4 a 16 de
Agosto. Começou por cercar a cidade e foi progressivamente destruindo os
fortes que a defendiam até à rendição final desta praça.
Após a
queda de Liège a maior parte do exército belga retirou em direcção a
Antuérpia e a Namur. A cidade de Namur que também se encontrava
protegida por um sistema de fortes, só conseguiu deter os alemães
durante 4 dias, desde 20 até 23 de Agosto. Quando, em 20 de Agosto, se
tornou evidente que o exército belga seria incapaz de resistir à
ofensiva maciça dos alemães, o rei Alberto I da Bélgica decidiu ordenar
ao exército a retirada para o "Réduit National" em Antuérpia.
A
cidade de Antuérpia era igualmente defendida por sistema de fortalezas e
outras posições defensivas fortificadas de menor porte, face ao qual na
época era considerado como um sistema defensivo impenetrável por um
ataque convencional por terra.
Os
alemães não atacaram a cidade de imediato, mas sim colocaram algumas
forças para bloquear o exército belga que para lá tinha retirado e
continuou com o grosso do seu exército em direcção à fronteira francesa,
seguindo a linha do Meuse até Meubeuge já em França. No entanto, as
forças belgas aí estacionadas constituíam uma ameaça sobre o flanco e um
risco para a retaguarda alemã, o que levou a que o exército alemão
tivesse de destacar um Corpo de Infantaria da Reserva para cercar
efectivamente a cidade.
A
partir de Antuérpia os belgas mantiveram a pressão sobre o exército
alemão, tendo conduzido dois ataques fora da zona fortificada, com o
objectivo de obrigar os alemães a reforçar as forças de cerco e assim
retirar tropas que estivessem envolvidas na Batalha do Marne.
A 7 de
Setembro as tropas alemãs receberam ordem de atacar Antuérpia, ou seja
no no dia anterior à capitulação da fortaleza de Mauberge, mas o ataque
a Antuérpia só se inicia verdadeiramente a 28 de Setembro quando a
artilharia de 420mm alemã e os morteiros de 305mm austro-húngaros
chegaram e tomaram posições de tiro. Conhecedores da capacidade da
artilharia pesada alemã, assim que os ataques se iniciaram os belgas
sabiam que seria impossível aguentar por muito tempo.
Entretanto o exército alemão continuou a avançar pela Bélgica e a França
a dentro, ameaçando as rotas de fuga da cidade de Antuérpia em direcção
a França, o que levou a que a 1 de Outubro o rei Alberto I comunicasse à
Inglaterra que o governo belga iria retirar de Antuérpia dentro de 3
dias.
Entretanto a 4 de Outubro os britânicos fizeram chegar à cidade através
de comboio uma brigada de fuzileiros para reforço das defesas belgas, o
que foi muito bem recebido mas que não conseguira alterar a grave
situação em que as forças defensivas belgas se encontravam. Esta brigada
fazia parte da Divisão Naval britânica que tinha desembarcado em
Dunquerque a 19 de Setembro.
O 5 de
Outubro o exército alemão furou as linhas avançadas de defesa da cidade
e começaram a dirigir-se para o sul de Antuérpia. Em perigo de ficar
cercado dentro da cidade de Antuérpia, o exército belga abandonou a
cidade a 8 de Outubro em direcção a Nieuwpoort através de uma série de
pontes sobre o rio Escalda, deixando a cidade defendida apenas com o que
restava das guarnições da cidade.
Quando
os alemães entraram na cidade esta já estava abandonada. Uma parte
substancial das tropas belgas que se encontravam no perímetro de
Antuérpia não conseguiram seguir o rei Alberto I em direcção à fronteira
franco-belga, incluindo a Divisão Naval britânica, e tiveram de fugir
para a Holanda onde ficaram internadas durante o resto da guerra. A 10
de Outubro o General Deguise apresentou a rendição da cidade aos
alemães.
Os
recursos militares belgas disponíveis em 1914 eram insuficientes para
fazer frente à força invasora alemã e mas não para defender o seu
orgulho nacional.
Em Yser
o rei Alberto I colocou todo o seu exército na frente de combate. Sem
reservas, extenuados e já com poucas munições depois de dois meses de
consecutivas retiradas, o dia 16 de Outubro foi o momento do tudo ou
nada.
A 30 de Outubro finalmente conseguiu-se parar a ofensiva alemã, tendo
desde então ficado a frente belga estabilizada até 1918.
A importância histórica da Batalha de Yser encontra-se em duas razões,
primeiro porque os alemães não conseguiram derrotar o exército belga e
segundo não conseguiram conquistar toda a Bélgica. Esta batalha
contribuiu par se estabilizar a frente ocidental e terminou com a
Corrida para o Mar.
Inconquistável - por Arthur Rackham,
R.W.S.4
O Plano Estratégico de Defesa da Bélgica
A
Bélgica tinha duas opções perante um ataque alemão, ou não oferecer
resistência e permitir que as forças alemãs passassem pelo seu
território em direcção a França, ou defender a sua soberania. De facto o
plano alemão para atacar a França implicava sempre ocupar a Bélgica, o
que levou a que o rei Alberto I, em 1914, optasse por defender a sua
soberania, dificultando a todo o custo o plano alemão para invadir a
França.
O
sistema de defesa belga passava por uma rede de fortificações com três
polos, Liège, Namur e Antuérpia, que defendiam o território nacional e
que simultaneamente dificultavam o avanço ao longo das margens do rio
Meuse em direcção a França. Ao longo da fronteira também se encontravam
estacionadas diversas unidades do exército, como parte integrante do
sistema de defesa.
Quando
a Bélgica recebeu o ultimato alemão no início de Agosto, o General
Selliers de Moranville deu ordem para concentrar as unidade do exército
no centro do país, na zona de Bruxelas, enquanto as fortalezas de Liège
e Namur seriam utilizadas para atrasar, senão mesmo parar, o avanço
alemão.
A praça
de Liège, era que ficava mais próximo da fronteira alemã e por esta
passava a principal via de acesso a França através da Bélgica. A sul de
Liège o terreno era irregular e a norte era aberto mas apenas com poucos
quilómetros até à fronteira holandesa, país por onde os alemães não
queriam passar.
Os
recursos do exército belgas e as fortalezas de Liège, Namur e Antuérpia
revelaram-se insuficientes para fazer face às tropas alemãs, mas não
para defender o seu orgulho nacional.
A importância histórica da Batalha de Yser encontra-se em duas razões,
primeiro porque os alemães não conseguiram derrotar o exército belga e
segundo não conseguiram conquistar toda a Bélgica. Esta batalha
contribuiu par se estabilizar a frente ocidental, terminando com a
Corrida para o Mar.
O Plano de Ataque Alemão – A Batalha das
Fronteiras
A ofensiva alemã inicial sobre a frente ocidental ficou conhecida como a
Batalha das Fronteiras. Esta deu-se entre 14 a 25 de Agosto de
1914, ao longo da fronteira franco-alemã na zona da Alsácia-Lorena e ao
longo da fronteira franco-belga no noroeste da França.
Os exércitos alemães de acordo com o seu plano de ataque, o Plano
Schlieffen avançaram pela Bélgica a dentro em direcção à França, de
acordo com um cronograma meticuloso que apresentava objectivos muito bem
definidos com datas a cumprir. No entanto no seu avanço sobre a França
depararam com um exército belga disposto a defender cada centímetro do
seu solo nacional.
Os alemães também estavam cientes que quando atacassem a Bélgica, os
franceses de acordo com o seu plano de defesa, o Plano XVII, efectuariam
uma ofensiva sobre a fronteira alemã, junto às províncias francesas
ocupadas pelos alemães desde em 1871, a Alsácia e a Lorena. Também fazia
parte desse Plano XVII o avanço sobre a Bélgica, através da fronteira
noroeste, na zona da Flandres.
Esta
movimentação premeditada de tropas de ambos os países resultou na
Batalha das Fronteiras que se subdividiu em sete grandes Batalhas:
Namur, Charleroi e Mons em solo Belga e Ardennas, Maubeuge(Lorraine), Le
Cateau e St. Quentin em solo francês.
Ordem para Flanquear o Inimigo - A Corrida para o Mar
Ficou conhecido como Corrida para o Mar a manobra que o exército
alemão encetou para tentar envolver as tropas aliadas. Esse movimento
compôs-se por uma serie de manobras dirigidas de Sul para Norte, que
foram acompanhadas por combates e tentativas de envolvimento. Os
principais combates foram localizados no Somme, Artois, Flandres
francesa, Yres, Yser e na zona costeira belga.
Não existiu a intenção de fazer uma marcha em direcção à zona costeira
francesa ou belga, mas os combates e a persistência em defender e atacar
em direcção ao Noroeste levou a que o exército alemão se dirigisse para
a zona costeira e não para Paris.
As batalhas foram acontecendo naturalmente conforme os exércitos
inimigos se dirigiam lado a lado para a zona costeira do Canal da Mancha
e dos portos de Calais, Dunkirk, Ostende e Zeebrugge.
Cronologia da Frente
Belga em 1914
4 de Agosto
|
Os alemães entram
na Bélgica |
5 de Agosto
|
Inicia-se o cerco
de Liège (12 dias) |
6 de Agosto |
O General Gerárd
Leman manda retirar parte das tropas para junto de Bruxelas. |
7 de Agosto
|
A cidade de Liège
rende-se, mas os fortes continuam a lutar. |
11 de Agosto
|
É capturado pelos
alemães o primeiro forte (Bachon) |
15 de Agosto
|
O General Gérard
Leman, comandante da defesa de Liège é capturado |
16 de Agosto
|
O último forte das
defesas de Liége rende-se (Boncelles) e Liège capítula |
20 de Agosto
|
Inicia-se o cerco
de Namur (4 dias) |
23 de Agosto
|
Namur capítula |
24 de Agosto
|
As tropas alemãs
chegam à fronteira francesa da Bélgica. |
7 de Setembro
|
Inicia-se o cerco
de Antuérpia (32 dias) |
22 de Setembro |
Inicia-se a corrida para o Mar |
28 de Setembro
|
Inicia-se o assalto
a Antuérpia |
6 de Outubro
|
Dá-se a grande
retirada do exército belga em direcção à Flandres (Yser) |
8 de Outubro
|
Antuérpia é
abandonada |
10 de Outubro
|
Antuérpia capítula |
14 de Outubro |
A engenharia militar belga inicia os
trabalhos defensivos do reduto de Yser |
16 de Outubro |
Inicia-se a Batalha de Yser |
26 de Outubro |
Inicia-se a inundação da frente de
combate entre o talude dos caminhos-de-ferro e o Yser |
30 de Outubro |
Termina a Batalha de Yser e a frente
ocidental fica estabilizada |
A Bélgica ocupada pelos Alemães
Os carros Blindados
Minerva
A evolução do fardamento belga |