A economia da Dinamarca
durante a guerra
A Dinamarca como país neutro não teve
forças militares envolvidas directamente em combate, apesar de terem
acontecido algumas situações dentro das suas águas territoriais. Mas o
mais importante foram as consequências na economia dinamarquesa que em
muito lucrou com o comercio com os beligerantes de ambos os lados.
Os produtos agrícolas tiveram
bastante procura o que levou ao aparecimento de novos ricos, os barões
do goulash, nome derivado dos alimentos enlatados que exportavam.
A industria também beneficiou com as
encomendas dos beligerantes, tendo implicado directamente numa
diminuição do desemprego de 10% em 1914 para 5% em 1916.
A guerra submarina total dos alemães
e o rigoroso bloqueio naval aliado em 1917, fechou praticamente as
importações dinamarquesas fechando também o ciclo de prosperidade.
Desde 1917 até ao fim da guerra em
Copenhague a comida passou a escassear, tendo inclusivamente
desaparecido as batatas do mercado durante meses e a farinha e o pão
racionado com senhas. No entanto a Dinamarca tinha uma agricultura auto-suficiente
que garantiu que não houvesse durante aquele período fome generalizada.
Ao contrário a industria ao ser
privada das matérias-primas importadas diminuiu drasticamente a sua
produção e o desemprego aumentou, alcançando 18% em 1918.
A economia ressentiu-se dos grandes
empréstimos feitos às Potências Centrais para aquisição de bens
industriais e agrícolas, da falta de abastecimentos importados e da
inflação em todos os outros países, o que levou a que se cortassem
ordenados e tendo estes diminuído cerca de 85% em relação aos valores de
1914, antes da guerra.
Com a recessão apareceu um novo grupo de pobres
nas cidades sem casa e sem emprego. A industria da construção civil foi uma das mais
afectadas, tendo-se mostrado incapaz de absorver a massa de desempregados(1).
Rei Christian X da Dinamarca
(14/05/1912-20/04/1947)
A mobilização do exército
dinamarquês
Quando em 1914 começou a guerra a
Dinamarca declarou imediatamente a neutralidade e para acautelar a
sua defesa mobilizou uma força militar de 64.000 homens, colocando
grande parte destes em Copenhaga.
Com a estabilização das frentes de
combate começou a haver a ideia que não seria necessário manter um
exército tão grande, em parte pelas consequências pessoais e familiares
que acarretavam para os homens mobilizados assim como por causa do custo
da manutenção desse mesmo exército. Também com a diminuição do perigo da
Dinamarca ser invadida, também a disciplina e motivação dos militares
diminuiu.
Em 1915 foram desmobilizados 15.000
homens e em 1916 foram desmobilizados mais 17.000 homens, ficando o
exército com um efectivo de 32.000 homens até ao final da guerra. Mesmo
assim, a insatisfação dentro do exército era evidente o que levou a que
se verificassem muitas deserções. O que acontecia muitas vezes é que
pura e simplesmente os homens tiravam o uniforme e deixavam-no pendurado
nos postes de iluminação da cidade e iam para casa(2).
A defesa das águas
territoriais
Logo no início do conflito, a 6 de
Agosto de 1914, os alemães solicitaram à Dinamarca que minasse o
Great Belt , como forma de impedir a navegação dos navios aliados. Esta
situação trouxe grande discussão no seio do governo dinamarquês, o que
levou à intervenção do rei que ordenou que se minasse não só o Great
Belt, mas também o Little Belt e o canal de Drogden no Sound no lado
dinamarquês.
Os alemães apesar da solicitação
feita aos dinamarqueses minaram o Little e o Great Belts, situação que
trouxe algum constrangimento diplomático(4).
Em Setembro o governo alemão
solicitou que a marinha dinamarquesa minasse o canal Flint no Sound, o
que acabaram por fazer no lado das águas territoriais dinamarquesas e
suecas, com a finalidade de impedir que os submarinos britânicos
entrassem no mar Báltico(3).
Em Outubro de 1914 as patrulhas
navais alemãs começaram a capturar os navios mercantes que navegavam no
mar Báltico e a leva-los para portos alemães para inspeccionar. No
entanto, a dependência da economia germânica da economia dinamarquesa
levou a que não atacassem os navios dinamarqueses tão sistematicamente.
No final da guerra a marinha real
dinamarquesa afirmou que lançou cerca de 1.200 minas nas suas águas
territoriais e que estas impediam que os alemães actuassem no seu
território. Se por um lado o comando naval alemão se queixou que esta
atitude impediu que existisse um caminho seguro de fuga para a armada
alemã entrar no mar Báltico, na verdade também impediu que os britânicos
conseguissem auxiliar convenientemente os russos no Báltico(5).
A zona sul a cinzento representa o
território dinamarquês ocupado pela Alemanha desde 1864, quando da
segunda guerra de Schleswig ,
Slesvigske Krig, guerra que fez parte das guerras da unificação da
Alemanha. A Dinamarca era um país diferente e mais pequeno do que
conhecemos hoje. Os territórios a sul da Jutlândia, o ducado de Slesvig
e o ducado de Holsten estavam sob administração alemã e milhares de
dinamarqueses vivam estas zonas ocupadas.
A Marinha
dinamarquesa entre 1914-1918
A Marinha dinamarquesa encontrava-se
bem equipada e treinada para assegurar a neutralidade da Dinamarca. A
política naval nos últimos 100 anos tinha definido uma contínua aposta
na defesa naval do território que permitiu estar preparada para cumprir
a sua missão no dia em que se iniciou a Grande Guerra.
A Marinha dinamarquesa em 1914
encontrava-se equipada com navios modernos aptos para combaterem nas
águas territoriais, assim como treinados para combaterem em flotilhas,
ou seja bem preparados para defender a sua neutralidade.
Assim durante o conflito a Dinamarca
só veio a perder o seu território colonial da Índia Ocidental, também
conhecida como Antilhas Dinamarquesas, a sul dos Estados Unidos da
América, não através de ocupação territorial mas sim através de
negociações diplomáticas.
A colónia da Índia Ocidental
Dinamarquesa, Dansk Vestindien ou De dansk-vestindiske øer,
no mar das Caraíbas tinha sido compradas aos francesas em 1754.
Pertencera ao reino unido da Dinamarca-Noruega e em 1814, pelo Tratado
de Kiel passaram a ser só administrada pela Dinamarca. Através do
Tratado da Índia Ocidental da Dinamarca, em 1916 passou para a
administração dos Estados Unidos da América. As Jomfruøerne,
Ilhas Virgens, passaram a ser denominadas como United States Virgins
Islands (6).
Logo após a declaração de guerra do
Império Austro-húngaro à Sérvia o Esquadrão de Treino da marinha ficou
pronto para operar e foi-se posicionar no Sound (mar junto a Copenhaga).
Vice-Almirante
Kofoed-Hansen
Contra-Almirante
Mazanti
Evers
A 31 de Julho de 1914, o Governo da
Dinamarca deu ordem para a Marinha de Guerra estabelecesse a formação de
uma Força de Segurança Naval, o Waterways Squadron, que veio a ser
comandada pelo Vice-Almirante Otto Joachim Moltke Kofoed-Hansen, e uma
Força de Segurança de Copenhaga, que veio a a ser comandada pelo
Contra-Almirante
Anton
Ferdinand Mazanti Evers(7). No
dia 1 de Agosto a Marinha dinamarquesa encontrava-se operacional para
defender o país.
No dia
5 de Agosto a esquadra da Força de Segurança Naval encontrava-se
posicionada no Sound e com o conhecimento da violação da neutralidade da
Bélgica a Dinamarca também ordenou o reforço do seu exército. O rei Christian
X estava determinado em garantir a neutralidade da Dinamarca.
Assim a marinha ficou com a missão de
minar os estreitos e defender as zonas minadas, para além de defender o
país de qualquer ataque ao território. Esta missão era difícil de
concretizar porque tinha por um lado que dispersar as forças navais para
defender as costas marítimas e simultaneamente que se concentrar para
defender as zonas minadas.
Para operacionalizar a missão a
marinha dividiu a Força de Segurança, o Waterways Squadron, em dois
esquadrões. O 1º esquadrão ficou estacionado no Sound e o 2º esquadrão
no Great Belt, e ainda uma pequena flotilha de navios estacionados no
Little Belt e outra flotilha em Smaalandsfarvendet, no Sound.
Cada um dos esquadrões era composto
por um navio almirante, normalmente um navio de defesa costeira
(monitor), um ou dois cruzadores, de seis a nove torpedeiros e de três a
quatro submarinos, assim como com um conjunto de outros navios de apoio.
A flotilha de defesa de Copenhaga foi composta por quatro canhoneiras e
entre doze a quinze torpedeiros e navios de patrulha, com alguns outros
navios de apoio.
Houve ainda outros locais onde
estiveram estacionados navios de patrulha, como em Skaw, Esbierg (costa
ocidental da Jutlândia), nas ilhas Faroe e na Índia Ocidental
Dinamarquesa (até 1916)(8).
Navios da Armada
1914-1918
Cruzadores
HERLUF TROLLE, coast
defense ship/cruiser (1901-1932)
PEDER SKRAM, coast defense ship/cruiser (1908-1943)
INGOLF, armored
schooner/cruiser (1878-1926)
VALKYRIEN, cruiser
(1890-1923)
HEKLA, light cruiser
(1891-1954)
GEJSER, light cruiser (1893-1928)
HEJMDAL, light
cruiser (1895-1930)
IVER HVITFELDT,
armored ship/cruiser (1887-1919)
Monitores
SKJOLD, coast
defense ship (1897-1929)
KONG CHRISTIAN,
guard ship (1915-1917)
Navios Patrulha
ISLANDS FALK,
patrol vessel (1906-1943)
ABSALON,
patrol vessel (1911-1923)
SALTHOLM,
patrol vessel (1916-1919)
HAIEN,
patrol boat (1917-1947)
Submarinos
DYKKEREN, submarine
(1909-1917)
Classe A
HAVMANDEN, submarine
(1912-1928)
THETIS, submarine
(1912-1928)
HAVFRUEN, submarine
(1913-1932)
2den APRIL,
submarine (1913-1929)
NAJADEN, submarine
(1913-1931)
NYMFEN, submarine
(1914-1932)
Classe B
RAN, submarine
(1915-1946)
ÆGIR, submarine
(1915-1933)
TRITON, submarine
(1916-1940)
NEPTUN, submarine
(1916-1933)
GALATHEA, submarine
(1917-1946)
Lança-minas
HJÆLPEREN,
minelayer (1890-1923)
LOSSEN,
minelayer (1911-1943)
MINEBAAD NR. 1,
minelayer (1886-1946)
MINEBAAD NR. 2, minelayer (1887-1946)
MINEBAAD NR. 3, minelayer (1887-1946)
MINEBAAD NR. 4, minelayer (1892-1946)
MINEBAAD NR. 5, minelayer (1892-1950)
MINEBAAD NR. 6, minelayer (1895-1950)
MINEBAAD NR. 7, minelayer (1895-1950)
MINEBAAD NR. 8, minelayer (1906-1947)
MINEBAAD NR. 9, minelayer ( 1909-1950)
MINEBAAD NR. 10, minelayer (1916-1947)
Minekran Nr. I, minelayer (1896-1922)
Minekran Nr. II, minelayer (??-1922)
Minekran Nr. III, minelayer (??-1922)
Minekran Nr. IV,
minelayer (??-1930)
Minekran Nr. V, minelayer (1917-1943)
Torpedeiros
e Patrulhas
DELFINEN, torpedo boat (1914-1932)
FLYVEFISKEN,
torpedo boat (1911-1937)
HAJEN,
torpedo boat (1896-1928)
HAVHESTEN,
torpedo boat (1917-1943)
HAVØRNEN,
torpedo boat (1897-1928)
HVALROSSEN, torpedo boat (1913-1943)
NARHVALEN,
torpedo boat (1917-1949)
DIANA,
patrol vessel (1917-1935)
THOR, patrol vessel
(1914-1929)
P 1,
patrol boat (1912-1916)
P 2, patrol boat (1889-1902)
P 3, patrol boat (1912-1916)
P 4, torpedo boat (1889-1927)
P 5,
torpedo boat (1890-1927)
P 6,
torpedo boat (1890-1927)
P 7,
torpedo boat (1890-1927)
PATROUILLEBAAD Nr. 8,
torpedo boat (1894-1930)
PATROUILLEBAAD Nr. 9,
torpedo boat (1895-1927)
P 10,
patrol boat (1912-1917)
P 11, patrol boat (1912-1917)
P 12, patrol boat (1912-1919)
P 13, patrol boat (1912-1919)
P 14, patrol boat (1912-1916)
P 15, patrol boat (1912-1916)
Pa,
patrol boat (1916-1916)
Pb, patrol boat (1916-1916)
Pc, patrol boat (1916-1916)
Pd, patrol boat (1916-1916)
T 1,
torpedo boat (1916-1919)
T 2, torpedo boat (1916-1919)
T 3, torpedo boat (1912-1916)
T 4, torpedo boat (1912-1916)
T 5, torpedo boat (1912-1916)
T 6, torpedo boat (1918-1920)
T 7, torpedo boat (1918-1920)
Canhoneiras
FALSTER, gunboat (1873-1919)
GRØNSUND,
gunboat (1883-1950)
GULDBORGSUND,
gunboat (1885-1922)
KRIEGER,
gunboat (1861-1925)
LILLE BÆLT,
gunboat (1875-1919)
Navios de
apoio
FENRIS, tender (1915-1932
FREMAD II,
tug (1916-1964)
MIDDELGRUNDEN,
transport vessel (1890-1949)
SLEIPNER, transport
vessel (1882-1948)
Navios Escola
SVANEN,
sail training vessel (1913-1957)
THYRA,
sail training vessel (1904-1957)
Navios beligerantes em águas
dinamarquesas
Durante a Grande Guerra foram
assinaladas 164 violações da neutralidade territorial dinamarquesa.
O submarino britânico E.13
E.13, 19/08/1915, Saltholm, Dinamarca
A situação mais violenta que
aconteceu em águas dinamarquesas aconteceu a 19 de Agosto de 1915,
quando o submarino britânico E.13 encalhou em Saltholm, a sul de
Copenhaga no Sound e foi atacado por um torpedeiro alemão que também
entrou nas águas territoriais em perseguição.
Apesar da
presença de navios de guerra dinamarqueses o torpedeiro alemão atacou e
destruiu o submarino britânico. Deste ataque resultou 15 mortos entre a
tribulação do submarino britânico.
O submarino alemão U-20
U-20, 04/11/1916, Bjerghuse, Dinamarca
Outra situação deu-se quando a 4 de
Novembro de 1916 o submarino U-20 encalhou propositadamente na costa
ocidental da Jutlândia, a sul de Harbooere, perto de
Bjerghuse (56.33N, 08.08E), por causa de problemas mecânicos.
O U-20 era da classe U-19 estava
equipado com 6 torpedos, 2 tubos na proa e 2 tubos à ré, um canhão
de 105mm e uma metralhadora. Alcançava uma velocidade máxima de 15 nós à
superfície e tinha uma tripulação de 31 homens e 4 oficiais.
Foi o submarino responsável pelo
afundamento do RMS Lusitania a 7 de Maio de 1915 e mais tarde pelo
afundamento do RMS Hesperian também um navio de passageiros.
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