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As Tropas Indígenas Moçambicanas

O regulamento 7 de Dezembro de 1914 vem alterar substancialmente o recrutamento de indígenas em África e em particular em Moçambique, onde a República considerou que existia uma melhoria na capacidade de combate dos soldados landins. Existia uma intenção de instruir militarmente os indígenas, assim como os europeizar. Perante o regulamento de recrutamento da colónia, eram classificados "indígenas" os locais que não se distinguissem pelos costumes dos demais da raça africana e "não indígenas" os europeizados que se submetiam às condições de recrutamento dos europeus nascidos na colónia (Martins, 1936:14).


Existia nesta legislação militar a tentativa de implementar o conceito republicano de "cidadãos em armas", o qual, se foi muito difícil de implementar na metrópole, foi consideravelmente mais difícil de implementar em Angola e Moçambique. O sucesso do recrutamento nas vastas zonas coloniais esteve directamente ligado à qualidade e implementação da administração territorial.


O landim era visto pela administração militar colonial como um grupo étnico com grande capacidade de aprendizagem, com tradições guerreiras, com verdadeiro instituto guerreiro, como sentinelas eram tão bons a atirar como os europeus, quando com igual treino militar, e quando enquadrados por oficiais que conheçam não fogem em combate.


Num dos relatórios do Capitão Curado, relativo a combates contra os alemães no Norte de Moçambique, indicava que a companhia indígena nº 21 se tinha distinguido em combate. Esta mesma companhia, em 1916, foi apontada como exemplar, quando se distinguiu em combate ao proteger a retaguarda das tropas em retirada de Nevala (Martins, 1936:22).

Landins de Moçambique destacados para outras colónias

Os landins apresentavam orgulho na farda e apreciavam os movimentos militares, rancho, continências, bandeira, hino e medalhas, e não tinham ódio aos europeus. Existiam "não indígenas" no Esquadrão de Dragões de Lourenço Marques e na 1ª Bateria de Metralhadoras. Durante as campanhas de Moçambique, 36 praças "indígenas" receberam cruzes de guerra (Martins, 1936:41).


A preparação dos cabos europeus das companhias indígenas não apresentavam habilitações suficientes para desempenhar os comandos correspondentes a sargento, não apresentavam capacidade para dirigir praças indígenas sequer em serviço de patrulha, quanto mais em combate. Para mais e por questões o numero de cabos europeus estava reduzido a metade do necessário por companhia. Verificou-se, também, que durante as campanhas da Grande Guerra em África os cabos europeus baixavam ao hospital numa percentagem muito superior à dos sargentos, atribuindo-se a diferença à ignorância dos cabos quanto à higiene tropical. Pela falta de resistência física nas condições tropicais o exército tinha de distribuir muares aos cabos e sargentos. Em 1918, pela falta de sargentos foi necessário improvisar sargentos e cabos indígenas para enquadrar as companhias de soldados indígenas (Martins, 1936:98).

A República passou os anos de 1916 a 1918, em Moçambique, a improvisar uma organização militar que só tinha aparente aspecto de força, porque se desagravava ao menor choque.


Em 26 de Junho de 1916, a Legação Britânica em Lisboa pedia ao Governo Português que fossem recrutadas forças indígenas em Lourenço Marques para ficarem sob as ordens do General Smuts. E na mesma data, o Ministério da Guerra informava não haver inconveniente, "antes muito desejava prestar mais esse concurso para o fim comum que os dois Governos tinham em vista." Enquanto os nossos Aliados assim pretendiam utilizar ao máximo forças indígenas (como os alemães utilizaram, com tanto êxito, os seus askaris). Portugal persistia em enviar sucessivas expedições de tropas da Metrópole, fracamente preparadas para resistirem ao clima numa campanha prolongada como esta.

Bibliografia


Martins, Ferreira (1934), Portugal na Grande Guerra, Vol. II, Lisboa, 1º ed., Empresa Editorial Ática


Marins, Coronel E.A. Azambuja(1936), O Soldado Africano de Moçambique, Lisboa, Divisão de Publicações e Biblioteca Agência Geral das Colónias.

Condecorações


Tear, 1º Cabo Indígena do Corpo de Polícia do Niassa, Louvado. Promovido com distinção, recebeu uma Cruz de Guerra.


“ pela extraordinária valentia e arrojo com que na manhã de 8/12/1917, na Serra Mecula, à frente de 6 praças indígenas se lançou ao ataque do inimigo que ocupava a água com infantaria e metralhadoras, só retirando para se remuniciar e transportar um ferido, voltando depois novamente ao ataque, sem para isso ter recebido qualquer ordem, mantendo-se na frente até ao assalto do inimigo”.  (1º Boletim da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, Abril 1933, Agência Geral do Brasil, Rio de Janeiro)